Já testámos a Berria Bravo BR TLD, uma rígida muito diferente

É sempre interessante ver que existem marcas que continuam empenhadas em inovar no desenvolvimento de quadros rígidos. E este é o caso da Berria com a Bravo, uma bicicleta que, na sua nova geração, estreou a tecnologia Softex, que absorve as vibrações e proporciona uma flexibilidade controlada que serve de "micro-suspensão". Se só tivéssemos duas palavras para a elogiar, seria: Bravo, Berria! 

MAIS DO QUE UMA ARTICULAÇÃO 

Falamos sempre de micro-suspensão quando definimos este tipo de sistema, sobretudo para nos dar uma ideia do rumo que a ideia está a tomar. E embora pudéssemos incluir nuances, a verdade é que encontramos uma articulação entre o tubo do selim e as escoras superiores, um conceito que já conhecemos da Trek com a sua tecnologia IsoSpeed, ou o Kingpin da Cannondale utilizado nas suas bicicletas de Gravel.

No caso da Berria, trata-se de um sistema que enfatiza a deformação das escoras junto ao tubo do selim, sendo muito finas e com um certo ângulo quando chegam à junta. No seu interior existem rolamentos, e embora a rotação que ocorre seja mínima, garante que não existe fricção ou atrito que possa diminuir a eficácia da deformação nesta zona.

O triângulo traseiro atinge uma deformação vertical de cerca de 14 mm, embora a Berria alegue que chega a cerca de 28 mm de absorção. Provavelmente já descobriste de onde vêm os outros 14 mm: da flexão do espigão de selim Tibia. Este espigão tem um diâmetro de 27,2 mm e foi concebido precisamente para permitir que o seu "tubo" possa fletir para trás, para maior conforto. O sistema Softex contempla esta flexão como um todo, ou seja, a elasticidade do próprio quadro mais a do espigão de selim, e todas as vantagens que referimos são o resultado das duas partes. Isto significa que com outro espigão não se consegue o mesmo conforto, embora logicamente possamos prescindir dele se, por exemplo, quisermos montar um espigão telescópico. 

O sistema Softex em conjunto com o espigão de selim atinge uma flexão total de cerca de 28 mm de curso.

O funcionamento do Softex faz-se, em primeiro lugar, através do espigão do selim, responsável pela absorção das vibrações e das irregularidades de baixa frequência. É o que mais notamos quando pedalamos, porque, afinal de contas, estes tipos de irregularidades, em termos gerais, são aqueles a que estamos mais sujeitos durante mais tempo. Quando o espigão atinge o seu limite de flexão, começa a alavancar o tubo do selim e este, por sua vez, comprime o triângulo traseiro, fazendo-o atingir o resto do curso, aumentando a sua resistência quanto mais se deforma. Esta é a flexão que notamos quando chegam as irregularidades de alta frequência, por exemplo, ao atravessar uma vala ou barranco a alta velocidade.

Não é um sistema que absorva um grande impacto, e essa é a sua grande diferença em relação a um amortecedor "a sério", embora o possa suavizar enquanto estivermos sentados no selim. E podes senti-lo.

LINGUAGEM DA BERRIA 

O quadro tem uma forma peculiar, mas é fácil identificá-lo como um modelo Berria, especialmente porque inclui todas as características das bicicletas da marca sediada em La Mancha. Destaca-se o tubo da direção sobredimensionado, para colunas de 1-1/2", e preparado para integrar toda a cablagem a partir do topo, além de ter um bloqueio da rotação.

O tubo do selim tem também uma forma única, não só pela já referida articulação, mas também pela forma de barbatana que suporta o espigão e integra nas suas “entranhas” a própria abraçadeira do espigão para regular a altura do mesmo. O tubo principal está unido às escoras de forma contínua, como se fosse um único tubo, de forma a dar à bicicleta um nível de rigidez muito elevado nesta zona, o que ajuda a tornar o quadro muito sólido e preciso na condução.

E já que chegámos aqui, vale a pena olhar também para as escoras, porque estão divididas em duas partes: a que está junto ao pedaleiro é muito maior e mais robusta, precisamente para tornar a bicicleta mais rígida nesta zona e mais reativa ao pedalar "em modo de corrida", e o resto da escora, que é mais fina e de formato mais convencional, para permitir a flexão que já referimos.

Existem duas versões deste quadro, que diferem no carbono utilizado. Por um lado, a Bravo BR construída com carbono HM3X de maior módulo que utiliza três tipos de fibras, T700, T800 e T1000 da Toray. Pesa 999 g, um valor muito bom já que inclui uma junta de rolamento de esferas. Por outro lado, a versão Bravo (convencional, sem BR) tem o mesmo carbono de alto módulo, mas aqui só encontramos fibras T700 e T800, daí o seu nome HM2X, e o seu peso é de 1.270 g.

Existem dois quadros de carbono diferentes, com pesos de 999g e 1270g.

A articulação com rolamentos FullBall e as formas especiais dos tubos da Bravo não são apenas as características mais marcantes do quadro, mas a geometria também é bastante moderna e bem pensada. É uma bicicleta que aparenta ser um pouco longa e até alta à partida. O tubo do selim mede 470mm no tamanho M, o que equivale a um tamanho L noutras marcas (fruto do sistema Softex), e o tubo superior é de 622mm, com um Reach de 448mm. De referir ainda que é um tubo um pouco alto, 107 mm no tamanho M testado.

Há algo muito peculiar, que é o facto de a Berria modificar os ângulos tanto do tubo da direção como do tubo do selim da Bravo em função de cada tamanho, como se faz nas bicicletas de estrada. Assim, temos um tubo de direção que vai de 66,5 a 68º e um tubo de selim que vai de 75,1 a 74,1º. No nosso tamanho M os valores são 67,5º e 74,4º, tentando encontrar um equilíbrio entre reatividade e estabilidade.

OPÇÕES 

Já mencionámos que existem duas versões em carbono. Com o quadro BR, o superior, existem apenas dois modelos, a BR8 e a BR LTD, com um preço inicial de 5.299 euros e configurações que começam com transmissões SRAM GX AXS EagleT-Type e vão até à XX SL, como a que testámos.

Com o quadro mais barato, a HM2X, temos quatro modelos, a 5, 6, 7 e LTD, com preços a partir de 2.299 euros. Há mais uma Bravo no catálogo, a Sport, mas não contamos com esta porque o seu quadro é da geração anterior (sem Softex). Todas as bicicletas Bravo estão equipadas com suspensão RockShox SID de 110 mm, exceto a mais barata, a Bravo 5, que tem uma Recon RL de 100 mm.

E por último, mas não menos importante, permitem personalizar a pintura e algumas delas também permitem escolher as rodas entre vários conjuntos e marcas diferentes, bem como o comprimento do pedaleiro e do avanço.

SIM, NOTA-SE!

Se puseste a Berria Bravo na tua mira, é quase de certeza porque o teu objetivo é ter uma hardtail leve, muito competitiva, mas também confortável. Deve ser simples, apesar da sua tecnologia de absorção de quadro e não necessitar de manutenção como uma suspensão total. E aqui está a chave, porque, embora tenhamos usado a expressão "micro-suspensão" para a descrever, e de facto a marca também a usa, não deve ser interpretada como uma suspensão no sentido habitual.

Ou, dito de outra forma: não imagines o Bravo como uma suspensão total com muito pouco curso, mas como uma rígida com muita flexão. Não temos a capacidade de controlar o comportamento de absorção, ou seja, a rigidez e o rebound, como poderíamos fazer numa bicicleta com suspensão traseira “real”. Dito isto, é verdade que a Berria modificou o laminado de carbono em cada tamanho do Bravo para adaptar o comportamento a cada faixa de peso, já que um ciclista de 1,90 metros de altura e 90 quilos vai exercer mais alavancagem e pressão sobre o Softex do que um de 1,65 m e 65 kg.

A Bravo é uma bicicleta muito rápida que reage muito bem quando rodamos os cranques com força. Aqui comporta-se como aquilo que é, uma rígida que te catapulta para a frente e na qual rapidamente atinges um ritmo elevado e fácil de manter. Não nos enganemos, para além da geometria e da forma como o quadro reage, o peso também é um fator determinante no desempenho da bicicleta.

No nosso caso, são apenas 9,63 quilos sem pedais, graças a uma configuração topo de gama e rodas a condizer, as Crossmax SL Ultimate da Mavic, que pesam apenas 1395 gramas e que aumentam o preço da bicicleta em 1300 euros. São as segundas melhores rodas que podemos encontrar no catálogo, apenas superadas pelas mega-exclusivas Bike Ahead Biturbo com seis “braços” em vez de raios e 150 gramas mais leves que as Mavic, que aumentam o preço da bicicleta em 2600 euros em relação ao preço inicial deste modelo (6 999 euros).

No entanto, as Mavic são mais largas no interior, com 30 mm, o que juntamente com os pneus Vittoria Barzo 2.25" criam um conjunto muito absorvente, colaborando com o quadro e o espigão de selim para tornar a pedalada da bicicleta ainda mais aveludada.

O sistema Softex realmente funciona e, por vezes, até confundimos com a sensação de ter o pneu traseiro com pouca pressão.

Pedalar em trilhos fáceis é confortável, em parte devido à absorção do próprio quadro e em parte devido à posição um pouco elevada do guiador. Tendo em conta o tipo de bicicleta de competição que estamos a analisar, sentimos falta de uma posição de condução mais baixa, apesar de a termos testado com o guiador o mais baixo possível. Num contexto de competição e procurando a posição mais racing possível, pedimos um avanço mais inclinado, embora isso implicasse abdicar do conjunto guiador-avanço Aguila BR da marca, com linhas muito atraentes, ergonómico e pesando apenas 180 g, além disso, preparado para guiar os cabos para o interior da caixa de direção. É uma decisão difícil.

Quando pedalamos a um ritmo rápido, mas sobretudo a uma cadência elevada, é recorrente a sensação de estarmos a pedalar com pouca pressão na roda traseira. Pneu com carcaça demasiado fina? Não é que os pneus Vittoria tenham as paredes laterais mais duras e reforçadas do seu segmento, mas não, não é isso. É o sistema Softex a fazer o seu trabalho. Embora seja difícil de ver à primeira vista, se pusermos o dedo entre as escoras e o tubo do selim, notamos como a área se deforma e a junta roda quando o terreno oscila.

Andar em trilhos com os típicos buracos grandes esculpidos pela água, riachos que se cruzam ou os padrões de piso dos veículos agrícolas torna-se muito mais suave do que esperas. Se saíres da Bravo e pedalares noutra rígida, é aí que se nota mais. Em andamento não conseguimos perceber quanto é devido ao Softex e quanto é devido ao espigão de selim Tibia, precisamente porque foram concebidos como um conjunto. O espigão de selim, por outro lado, flete para trás quando lhe colocamos peso em cima. De facto, isto coloca-nos numa encruzilhada, porque gostaríamos de ter um espigão telescópico para nos dar um pouco de folga nas descidas, mas isso significaria abdicar de pelo menos 14 desses 28 mm de flexão.

Para uma bicicleta de corrida puro-sangue, a Bravo é estável e fácil de controlar, talvez melhor do que o esperado, especialmente por causa do ângulo de direção um pouco aberto e da largura do guiador de 760 mm. Há até quem diga que é um pouco largo demais para os puristas do XC.

E estamos satisfeitos por a Berria ter optado por 110 mm de curso dianteiro em vez de 100 mm, o que lhe dá ainda mais controlo e segurança nas descidas sem a penalizar de todo nas subidas, especialmente com uma RockShox SID SL Ultimate tão leve como esta. Com a Bravo, não há nenhum treino exigente ou maratona que meta medo. Pelo contrário, encoraja-nos a atingir velocidades médias mais elevadas do que o habitual e a ganhar o gosto por andar mais depressa daquilo a que estamos habituados. 

O melhor. Tem um sistema eficaz para reduzir a fadiga e aumentar o conforto, e é bastante leve. 

A melhorar. Se gostas de uma posição de condução radical, terás de fazer alterações.

FICHA TÉCNICA: Berria Bravo BR LTD

• Quadro: Carbono HM3X
• Suspensão: RockShox SID SL Ultimate, 110mm
• Pedaleiro: SRAM XX SL, 175mm. DUB BB92.
• Desviador: SRAM XX SL AXS T-Type. 12 v.
• Manípulo: SRAM AXS POD Ultimate.
• Cassete: SRAM XG1299 Eagle T-Type, 10-52d.
• Corrente: SRAM XX SL T-TYPE Flattop.
• Travões: SRAM Level Ultimate Stealth. Discos Centerline. 180/160mm.
• Direção: Semi integrada, com bloqueio de rotação. OH2S 1-1/2".
• Guiador: Berria Aguila. 75 mm
• Avanço: 760mm.
• Punhos: ESI Grips silicone.
• Selim: Fizik Terra Aidon, carris em carbono.
• Espigão de selim: Berria Tibia UD Carbon, 420x27,2 mm..
• Rodas: Mavic Crossmax SL Ultimate 30.
• Pneus: Vittoria Barzo, TR, Graphene 2.0, 120 TPI. 29x2.25”.
• Peso: 9,63 Kg (tamanho M, sem pedais).
• Tamanhos:  XS, S, M e L.
• Preço: 7.999 euros com rodas Mavic Crossmax SL.

Poderás encontrar outras montagens deste modelo e mais informaçõs em berriabikes.com.