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Testámos a nova Specialized Roubaix SL8 Comp

20 anos depois do seu lançamento, a icónica Roubaix surge agora com bastantes alterações face à sua antecessora. Mais leve, mais aero, mais confortável e com um novo Future Shock. Resultado? Conforto, velocidade e cada vez mais polivalência.

Texto: Alexandre Silva. Fotos: Luis Duarte

Testámos a nova Specialized Roubaix SL8 Comp
Testámos a nova Specialized Roubaix SL8 Comp

A Roubaix celebra 20 anos apresentando melhorias em diversas áreas. Na sua terceira geração, o sistema de amortecimento integrado na direção Future Shock, surge aqui na Roubaix SL8 Comp na sua versão 3.2, a intermédia, já com a componente hidráulica para controlar o comportamento da mola, mas sem a possibilidade de ser ajustado em andamento.

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Atrás, o AfterShock tenta replicar o conforto da dianteira. O espigão Pavé tem uma construção que permite maior flexão e a peça que o aperta (e o mantém no sítio), está colocada mais abaixo que o topo do tubo de selim e também afasta o espigão do quadro, permitindo assim que ele tenha espaço para se movimentar para trás, não só fora, mas também dentro do quadro, resultando em maior conforto pela maior amplitude de flexão. 

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MAIS ENDURANCE E VELOCIDADE

E apesar da presença das “suspensões” a verdade é que os pneus continuam a ter um “peso” considerável não só no comportamento como no conforto. Equipada com uns generosos Specialized Mondo de 32 mm, o comportamento em maus pisos é absolutamente suave, como falaremos mais à frente. 

Ao nível do quadro, a versão S-Works recebe o carbono Fact12R, enquanto a versão aqui testada usa o 10R. A forqueta tem um novo design, mais aerodinâmico, assim como o tubo principal do quadro. As escoras superiores também foram rebaixadas, um pouco ao estilo Tarmac, e com tudo isto a marca de Morgan Hill anuncia uma melhoria (redução) de cerca de 4w de atrito aerodinâmico. 

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Tudo isto combinado torna a Roubaix numa bicicleta especial, uma que tão depressa consegue-se fazer passar por uma estradista de endurance como de repente é uma todo-o-terreno disfarçada. E é sobre isto que assenta a importância deste modelo nos dias de hoje e que iremos aprofundar de seguida.

TRIPLA PERSONALIDADE

É normal que com as tecnologias existentes no mundo do ciclismo, se consigam bicicletas cada vez mais polivalentes, capazes de mais do que o uso para o qual foram desenhadas. A Roubaix estica ainda mais essa polivalência, podendo quase ser assumida como uma bicicleta capaz de tudo o que se encontra entre um uso puramente estradista e um gravel ligeiro. E isto sem trocar um único componente. Se a isto adicionarmos um par de rodas extra, aí ainda mais notória se nota a "universalidade "desta máquina. 

PERSONALIDADE 1: UMA ROUBAIX CLÁSSICA 

É o conceito original Roubaix, desenhada a pensar no alcatrão, nem sempre liso, e nas grandes distâncias, sem grandes pressas, sem KOM’s. É o estilo clássico da Roubaix, uma bicicleta capaz de proporcionar horas de prazer em estradas distintas, com uma posição menos agressiva, uma geometria estável e sem grande prejuízo da velocidade ou da capacidade de enfrentar subidas a ritmos bastante aceitáveis.

E como é que esta SL8 consegue isso? Fácil! São anos de aperfeiçoamento de um conceito provado. É um quadro cada vez mais “afinado” de modo a continuar a proporcionar o conforto que se exige, mas adicionando alguma vivacidade para aquelas voltas curtas a ritmo mais expedito. Mesmo a vertente aero já é tida em conta, com linhas esguias e pensadas para nos ajudar a manter velocidades mais altas com menos esforço. Neste cenário e com este equipamento, a Roubaix é um sofá. O conforto está sempre presente, principalmente na posição de condução mais elevada e estável, sendo uma máquina de reações muito previsíveis.

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Obviamente não é uma Tarmac ou uma Aethos quando precisamos. Não esperem aquela rigidez e acelerações típicas de modelos mais racing. Isso seria pedir muito e seria também impossível de conseguir. Mas também não pensem que é uma bicicleta pesada, que se arrasta, que nos faz desesperar quando sentimos as pernas a arder e parece que o alcatrão nos prende. Tão pouco pensem que o facto de ter “suspensão” à frente faça com que as nossas voltas fiquem prejudicadas. Porque a verdade é que a bicicleta não “bombeia” no seu todo. É só o guiador que se move. E quando o piso é bom, raramente nos apercebemos disso. O mesmo acontece atrás, não se pense que o AfterShock é algo altamente ativo e que “estraga” as sensações puras quando a suavidade da estrada não justifica a sua presença. 

Em suma, é um conjunto que se nota ser um pouco mais confortável em bons pisos, capaz de cumprir trajetos de várias distâncias e altimetrias em ritmos bastante aceitáveis. Mas é quando as coisas pioram substancialmente que a Roubaix se revela…

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PERSONALIDADE 2: UMA ROUBAIX VITAMINADA

Se numa volta típica tendemos a evitar pisos maus, lombas, calçada, etc. na Roubaix dá gozo ir em busca disso mesmo. E se a Roubaix não se destaca muito em bom piso, é perante tais adversidades que se revela. É aqui que as “suspensões” no espigão e na direção entram em ação. É aqui que os pneus conferem aquele conforto e segurança extra. É aqui que a Roubaix está em casa e justifica tudo aquilo em que se tornou. É aqui que nos esquecemos que é um pouco mais pesada que uma estradista pura e agradecemos que seja menos rígida e nervosa. 

E de facto, como há pouco dizia, dá gozo procurar pisos mais irregulares. Isto porque noutras bicicletas a transição de um piso bom para mau é assinalável. Redobramos a nossa atenção, mudamos a maneira como seguramos no guiador e como nos sentamos no selim. Estamos totalmente alerta! Nesta Roubaix, tal transição não podia ser mais suave. Quando achamos que o empedrado à nossa frente nos vai fazer saltar os olhos das órbitas, ou as mãos do guiador, é como se carregássemos num botão mágico. É como se a vibração esperada fosse reduzida a metade. É aqui que esta Roubaix vive em pleno e nos faz sorrir. É aqui que percebemos que o Future Shock faz todo o sentido e concordamos que afinal é imprescindível e não apenas uma engenhoca para enfeitar. É também aqui que nos apercebemos que as fitas de guiador são finas.

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O primeiro upgrade que faria seria optar por fitas mais espessas, pois o guiador de alumínio ainda deixa passar muitas vibrações apesar dos pneus generosos e do Future Shock. 

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Não tão notório, mas seguramente um contributo ao conforto, é o sistema usado no espigão de selim, mais concretamente a flexão extra permitida pelo formato da zona superior do tubo de selim e pelo facto de o espigão não estar encostado ao quadro e, por isso, ter espaço para se movimentar longitudinalmente, conferindo uns milímetros de curso que são bastante úteis em impactos mais fortes. Também aqui faria alterações, altamente pessoais, e que se prendem com o selim. Não me vou alongar sobre este assunto porque, obviamente, o selim é algo muito pessoal e que deve ser uma decisão de cada um. 

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PERSONALIDADE 3: OS NOVOS TEMPOS

Cada vez mais se fala numa bicicleta capaz de tudo, capaz de ser suficientemente rápida e divertida em alcatrão liso, confortável em pisos irregulares, e fazer uma “perninha” no gravel/all-road. Além da geometria de endurance já dar uma ajuda, é o Future Shock e os pneus que tornam possível continuar a pedalar quando o alcatrão acaba. Não é uma pura gravel, precisaria de algumas alterações. Mas facilmente sai do alcatrão para o estradão sem ser preciso mexer uma palha.

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Os pneus surpreendem pela positiva. Parecem slicks, mas não são e as pequenas rugosidades que apresentam lateralmente até são bastante eficazes a manter um bom nível de aderência e controlo em terra compacta. Claro que com pedra, muita gravilha ou lama a história muda de figura. Há menos aderência, o piso se for muito irregular já começa a prejudicar o conforto. E aí o ideal é ter um par de rodas extra, para estas aventuras, calçadas com pneus de gravel puro com grande balão que ajude a amortecer os impactos do trilho (a Roubaix tem espaço para montar uns 40c).

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Mas isso é outra conversa. Isso é esticar os limites da SL8 com outro equipamento que não é o de origem. E isso faz com que tenhamos numa só bike a solução para muitas aventuras. Até porque a nova SL8 já permite montar 3 grades de bidon, bolsa no top tube e guarda-lamas à frente e atrás. Só faltava mesmo o compartimento de arrumação no tubo diagonal.

Mas é bom é saber que, mesmo sem alterar o equipamento de origem, a Roubaix pode transitar entre diferentes pisos sem comprometer. Foi sem dúvida uma agradável surpresa que se previa, mas que se confirmou com nota máxima. 

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UM COMPROMISSO IDEAL

Carregada de tecnologias que buscam o conforto, o resultado é um compromisso. Se por um lado essas tecnologias aumentam o conforto, também o fazem ao peso. A SL8 não é tão pesada como uma gravel, mas também é mais pesada que uma estradista pura. É certo que se tivermos budget para uma S-Works, podemos conseguir um conjunto ligeiramente acima dos 7kg. Mas o “cliente” típico e que pretende tirar prazer deste cocktail, certamente dará mais importância ao que se alcançou em termos de conforto do que propriamente a umas dezenas de gramas extra que, seguramente, podem ser poupadas noutros lados!

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UM PACOTE SIMPLES E FUNCIONAL

Além de tudo o que já cobrimos, falta falar de dois elementos. O guiador e a transmissão. O guiador, nesta gama de preços, já podia ser de carbono (ainda que num composto mais económico) e isso ainda elevava mais a fasquia do conforto. O facto de ser elevado ajuda a mantermos uma posição confortável. 

Quanto ao grupo, o 105 Di2 chega e sobra para a tarefa. Nesta geração, a Shimano atingiu um nível de desempenho que em nada compromete a performance e a diversão. Tudo funciona com suavidade e, a este nível de preço, não se pode exigir melhor. A travagem também é bastante boa. Mantém a mordacidade rápida típica da Shimano, sendo doseável, progressiva e potente q.b. Em suma, um conjunto coeso, capaz de um nível de performance alinhado com o preço e posicionamento na gama. Uma bicicleta capaz de, para muitos de nós, ser possivelmente a única de que precisamos!

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FUTURE SHOCK 

De tão pequeno em tamanho podemos não dar a devida importância ao seu desempenho e importância nesta bicicleta, mas nada podia estar mais longe da verdade. Como já pudeste ler, ou vais ler de seguida, o Future Shock é responsável por uma melhoria significativa no comportamento desta Roubaix. A primeira vez que tive contato com este sistema foi há 3 anos quando rolei com uma Roubaix na ilha da Gran Canaria. A certa altura, optei por uma estrada a descer que estava em péssimo estado, cheia de falhas no alcatrão, e pensei: “se não fosse este pequeno “gadget” esta volta estava estragada”. Tal foi o impacto que o FS teve nessa altura.

Nesta nova geração, o Future Shock está disponível em três versões. A 3.1 é a mais simples e surge na Roubaix SL8 e SL8 Sport. O seu funcionamento é garantido por mola. De série vem com a mola de dureza intermédia instalada, mas outras duas molas (suave e dura) são fornecidas no momento da compra. Estas permitem alterar a dureza/suavidade do amortecedor consoante o peso do ciclista, o tipo de piso onde pedala e ainda o tipo de comportamento (mais ou menos ativo) que se pretende do amortecedor.

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Além das molas, existem ainda anilhas que permitem aumentar a pré-carga sobre a mola, reduzindo assim o SAG (afundamento) e aumentando a dureza inicial e progressividade. Tens mais informações sobre combinações de molas, quantidade de anilhas e sugestões de uso no manual. Nas SL8 Comp (aqui testada) e Expert, o FS usado é a versão 3.2, que além da mola conta com um sistema hidráulico que oferece um pouco mais de controlo, suavizando não só a compressão como a extensão.

O topo de gama do FS é a versão 3.3, instalada a partir da SL8 Pro (inclusive) que além de ter a componente hidráulica do 3.2, destaca-se por ter um botão rotativo que nos permite ajustar em andamento a compressão do amortecimento em 6 níveis. 

Curiosamente, mesmo que tenhas adquirido uma Roubaix com as versões mais simples do FS, poderás a qualquer momento fazer o upgrade para este 3.3. 

Esse mesmo upgrade para o novo Future Shock é possível caso tenhas uma Roubaix a partir de 2017. Esta nova versão também viu a sua durabilidade aumentada através de um melhor isolamento e longevidade da manga/bota que protege a mola. Não esquecer que como qualquer outro amortecedor, o FS também tem manutenção. Consulta o manual para mais informações.

O cartucho onde se encontra o amortecedor tem diâmetro externo standard (1 1/8) o que significa que podemos usar outros avanços disponíveis no mercado, assim como um conjunto integrado de avanço-guiador de carbono de uma peça caso queiramos.

DETALHES

  • SHIMANO 105 DI2 - A Roubaix surge equipada nesta versão com grupo completo 105 Di2, que apesar de ser um pouco mais pesado e menos suave que o Ultegra, não deixa de oferecer um comportamento que irá surpreender muitos utilizadores. A relação de pratos e cassete é bastante ampla, indo de encontro ao espírito polivalente desta bicicleta.
  • AFTER SHOCK - O selim será sempre uma questão de gostos, mas o espigão não. E é bom contar com o sistema After Shock, que consiste numa flexão maior do que o normal para poder funcionar como uma pequena suspensão.
  • GUIADOR - Já aqui falámos muito do Future Shock (ver caixa). Quanto ao guiador, oferece boa ergonomia e eleva a nossa posição. Se fosse de carbono era mais leve e ainda mais confortável. Um upgrade a pensar!
  • PREPARADA PARA TUDO - Pronta para a aventura, a Roubaix conta com múltiplos pontos de fixação para bidons e bolsas, como é o caso do tubo superior (junto à caixa de direção) e na parte inferior do tubo diagonal, junto ao bottom bracket.
  • SUPER ADERÊNCIA - A escolha de pneus não podia ser mais acertada. São confortáveis, rolam bastante bem com pressões médias, e com pressões mais baixas e graças ao piso nas laterais, oferecem boa aderência em pisos de terra compacta.

Aspetos positivos: Polivalência além do esperado + Conforto sobretudo em mau piso + Geometria estável, mas ágil 

Aspetos a melhorar: Fita do guiador fina + Guiador de alumínio

FICHA TÉCNICA

Quadro: Carbono Fact10R 

Forqueta: Fact Carbon com Future Shock 3.2

Tamanhos: 44, 49, 52, 54, 56, 58, 61 e 64

Pedaleiro: Shimano 105 12v 50x34

Desviador tras.: Shimano 105 Di2 R7150

Desviador diant.: Shimano 105 Di2 R7150

Manípulos: Shimano 105 Di2 R7150

Corrente: Shimano 105 12v 

Rodas: DT Swiss G540 com cubos Specialized

Cassete: Shimano 105 12v, 11-36T

Pneus: S-Works Mondo 2BR, 700x32mm

Travões: Shimano 105 disco hidráulico

Guiador: Specialized Hover Comp, alu, 125mm drop, 75mm reach 

Avanço: Future Stem Comp 

Espigão: S-Works Pavé

Selim: Body Geometry Power Sport

Peso: 9.21 kg (sem pedais, tam. 56)

Preço: 4205€

Distribuidor: Specialized Bikes

Site: www.specialized.com/pt 

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