Atualmente, é do conhecimento geral que a corrida pode ter efeitos benéficos para os ciclistas, e os estudos mais recentes provam que concilicar a corrida com o ciclismo ou BTT produz resultados excecionais.
Os diferentes tipos de ação muscular que implicam correr sempre geraram uma certa relutância por parte dos ciclistas, ainda mais em plena temporada. O desconforto (geralmente rigidez), que a corrida a pé provoca nos ciclistas que não estão acostumados é muito intenso e sempre foi a razão pela qual a corrida a pé nunca foi bem-vinda no ciclismo. Estes “empenos” são perfeitamente normais e devem-se a um processo inflamatório provocado por um tipo de trabalho muscular a que não estamos habituados, em que há uma fase de estiramento ou de contração do músculo que nunca ocorre ao pedalar.
E O QUE ACONTECE SE NOS ADAPTARMOS À CORRIDA?
Hoje em dia, e sobretudo com atletas cada vez mais versáteis na sua preparação, está demonstrado que a corrida a pé não só não é prejudicial, como pode ser um excelente complemento à preparação física do ciclista, desde o amador até ao profissional, como se tem visto entre grandes estrelas mundiais como Wout Van Aert, Mathieu van der Poel ou o próprio Nino Schurter, que incluem a corrida nos seus programas de treino.
O grande truque para poder incluir a corrida na preparação de um ciclista é que ele esteja minimamente adaptado a ela e para isso precisa de correr regularmente. Esta é a única forma de garantir que as pontes de actina e miosina (as estruturas que acabam por materializar a ativação muscular) suportam as forças de contração do músculo e o estiramento ou alongamento das suas fibras. Para tal, não são necessários grandes volumes de treino de corrida, mas é preciso fazê-lo de forma mais ou menos regular, com pelo menos uma ou duas sessões por semana.
PODE BENEFICIAR-NOS?
Como sempre em termos de preparação física, vai depender do contexto e do perfil de cada atleta, mas a corrida a pé é uma boa opção para ativar o metabolismo. Por exemplo, é uma excelente opção para quem opta por treinar em jejum de modo a melhorar a eficiência do metabolismo das gorduras, pois não é necessário fazer mais de 30 minutos de exercício de manhã e, nesse sentido, as sessões de corrida podem ser perfeitamente ajustadas.
Por outro lado, a corrida a pé é um excelente estímulo para o fortalecimento e reforço das estruturas tendino-ligamentares, que não são estimuladas pela pedalada devido à ausência de impacto. Por outro lado, o facto de a corrida produzir e potenciar o ciclo de alongamento e encurtamento muscular favorece, consequentemente, as manifestações de força mais explosivas, algo que só pode ser trabalhado de forma muito específica no ciclismo e que é muitas vezes negligenciado, uma vez que este tipo de esforço é identificado como antagónico ao desempenho no ciclismo, o que na realidade não é o caso.
É NECESSÁRIO TER CUIDADO?
Como em qualquer desporto, existe um risco de lesão. No caso da corrida, é necessário ter cuidado com o equipamento (tipo de calçado), a técnica de corrida e os volumes de treino. Se és ciclista, não podes tornar-te corredor de um dia para o outro, mas deves tomar a corrida como um complemento, de modo a que não ocupe mais de 10 a 25% do total das sessões de treino da semana. Distribui as sessões ao longo do tempo, deixando dias de descanso para correr entre elas, e faz sessões de alongamentos e massagens para manter a mobilidade das articulações e evitar sobrecarregar as zonas musculares mais solicitadas.