Este conceito de treino cruzado começou há muitos anos, com o auge do triatlo. Nessa altura, foram feitos muitos estudos, após os académicos se aperceberem que os especialistas nesta modalidade, que conjuga três disciplinas diferentes (nadar, pedalar e correr), tinham melhorias em algumas delas pelo simples facto de treinar outras. Por exemplo, ficou provado que os triatletas melhoravam muito no ciclismo graças ao treino intervalado de corrida. Também notaram melhorias na corrida graças a determinados treinos na bicicleta.
Em todo o caso, é evidente que o treino com mais resultados visíveis é o treino específico. Ou seja, para melhorar na bicicleta, o melhor é mesmo treinar na bicicleta. Este conceito é muito interessante e podemos usá-lo a nosso favor quando, por exemplo, com a chegada do Inverno, nem sempre estão as condições ideais para pedalar.
ISTO É VÁLIDO PARA QUALQUER MODALIDADE?
Quando falamos de treino cruzado, convém esclarecer que, como é óbvio, os maiores efeitos de uma disciplina sobre outra ocorrem se para o desempenho de ambas se solicitarem os mesmos processos fisiológicos. Aplicando isto ao mundo do ciclismo, isto significa que realizar treinos de uma certa intensidade que dependem de maneira determinante do metabolismo aeróbico, como a natação e, sobretudo, a corrida, proporciona melhorias no rendimento quando formos pedalar, dado que estas modalidades otimizam aspetos como a capacidade e a potência aeróbica.
Além disso, treinar outras capacidades mais explosivas fora da bicicleta também pode ajudar nesse processo. Fazer sprints a correr ou mudanças de ritmo pode ajudar a melhorar os nossos sprints ou mudanças de ritmo quando formos andar de bicicleta.
Obviamente o tipo de atividades que mais influência podem ter no nosso rendimento em cima da bicicleta são aquelas que, além de coincidir com as capacidades predominantes, partilham o mesmo tipo de esforço em termos de dinâmica, ou seja, movimentos cíclicos e de esforço mais ou menos constante, tal como acontece no ciclismo.
Sabendo que as adaptações e melhorias que se obtêm na bicicleta ao treinar outras atividades não são tão eficazes como se as trabalhássemos diretamente na própria bicicleta, é interessante saber que se pode melhorar sem, necessariamente, pedalar. Especialmente quando não temos tempo para sair de bicicleta no inverno ou por qualquer outra circunstância.
É importante também ter em conta que estes efeitos do treino cruzado são mais notáveis quando o ciclista não tem um nível muito elevado de forma física ou não tem muita experiência em treino. Caso contrário, é necessário um volume e uma intensidade elevados destas atividades alternativas para impactar o desempenho na bicicleta. Os triatletas de alto nível, por exemplo, só percebem melhorias na potência aeróbica sobre a bicicleta através das suas sessões de corrida a pé se estas forem realmente duras e exigentes. Se não for assim, só poderão melhorar esta capacidade com sessões muito específicas de bicicleta.
