Estamos na temporada das carraças e carrapatos e em toda a Península Ibérica há cada vez mais relatos de ciclistas afetados por estes aracnídeos supostamente inofensivos. Muitos não sabem, mas as carraças podem ser portadoras de algumas doenças infecciosas, como a doença de Lyme, mas também anaplasmose ou febre hemorrágica do Congo.
Se contraíres alguma destas doenças, podes ter vários sintomas que variam muito, como febre, calafrios, dores de cabeça bastante fortes, erupções cutâneas, palpitações e inclusive paralisia facial, inflamação do cérebro, artrite... e em casos extremos pode levar à morte.
CONHECE MELHOR AS CARRAÇAS E OS CARRAPATOS
As carraças têm quatro fases no seu ciclo de vida: ovo, larva, ninfa e adulto. São um parente afastado das aranhas e podem afetar os humanos e mamíferos grandes, especialmente na fase adulta. Geralmente não as vemos na vegetação e é precisamente quando passamos de bicicleta que elas procuram um novo hospedeiro.
Estes aracnídeos gostam especialmente de zonas com alguma humidade e sombra, onde predomina alguma vegetação e embora não apreciem muito a exposição solar direta e altas temperaturas, há relatos de algumas espécies se estarem a habituar a estes climas. Por isso, se fores pedalar em zonas com vegetação no meio dos trilhos (por exemplo, singletracks), tem cuidado.
Evita também parar no meio da vegetação ou sentar na erva, dado que é geralmente nessa altura que as carraças aproveitam para procurar um novo hospedeiro. Geralmente elas seguem rastos vitais como odor, CO2 ou vibrações. Nos últimos anos cresceram os casos devido ao aumento incontrolado da vegetação, dado que a agricultura decresceu no nosso país e houve uma aumento de coelhos selvagens (entre outras espécies) portadores de carraças. Acresce o facto de no Inverno e Primavera ter chovido bastante, o que fez com que houvesse um crescimento acelerado da vegetação nos caminhos e trilhos, o que, consequentemente, fez crescer o habitat natural desta espécie.
Quando a carraça adere a uma vítima, neste caso, um ser humano, pode primeiro fixar-se na roupa e depois migrar para uma parte do nosso corpo com o objetivo de morder. Em regra, preferem lugares escondidos como axilas, parte traseira das pernas, couro cabeludo, mas segundo outros relatos podem morder em praticamente qualquer parte do corpo.
Quando encontra um lugar que gosta, enfia as patas na nossa pele e introduz a cabeça até encontrar a corrente sanguínea, de modo conseguir alimentar-se do nosso sangue. Depois, quando está saciada, segrega uma espécie de adesivo que torna muito difícil retirá-la do nosso corpo.
O QUE PODEMOS FAZER?
Existem várias coisas que podemos fazer para evitar sermos mordidos por uma carraça. A primeira é vestirmos mais roupa (meias mais altas ou calças) para criar uma barreira eficaz contra as carraças ou evitar pedalar em trilhos com vegetação fechada. Também devemos evitar sentar na vegetação, mesmo que não vejamos nenhum carrapato ou carraça.
Também podemos utilizar um repelente de insectos, embora aconselhemos opções mais naturais como o óleo de eucalipto e limão.
E SE DETETARMOS UMA CARRAÇA NO NOSSO CORPO?
Mesmo que tenhas todas estas precauções, deves parar a meio da volta e verificar minuciosamente o teu corpo e vestuário para confirmar se não tens nenhuma carraça (pernas, braços, couro cabeludo, etc). Se usares vestuário branco ou de cores claras, para além de aguentar melhor o calor, conseguirás detetar mais facilmente este aracnídeo devido à sua cor: castanho escuro. E se pretendes dar uma volta grande (mais de 3 horas), convém parar de hora em hora para verificar se não tens nenhuma a percorrer o teu corpo à procura de um sítio para morder.
Ao chegar a casa, antes de deixares a roupa de ciclismo no cesto da roupa suja verifica se não existe nenhum exemplar destes. Depois, toma um banho de água quente e confirma debaixo dos braços, virilhas e parte traseira das pernas se não tens nenhuma presa ao corpo.
Se tiveste o azar de ser mordido por uma, poderás tentar extraí-la em casa. Nas primeiras 24 a 48 horas a possibilidade de sermos infetados com as bactérias é mais reduzida. Mas se já passaram alguns dias, a carraça estará mais inchada e o melhor é ires a um Centro de Saúde para a sua extração, análise e possivelmente tratamento antibacteriano.
Não cometas o erro - que é bastante comum - de deitar alcool, gasolina ou queimar a carraça. Essas supostas dicas que encontramos na internet são perigosas, podem fazer com que o insecto fique stressado e muito provavelmente vai injetar no nosso sangue mais bactérias e inclusive as suas vísceras.
Usa uma pinça para remover a carraça e, sem apertar o abdomen, agarra-a pela zona da cabeça e vai puxando lentamente, mas de modo firme, sem oscilar a pinça. Convém que ela saia inteira, incluindo a cabeça. Caso fique alguma parte dentro do nosso corpo, mais cedo ou mais tarde será expulso, mas é possível que a ferida infecte.
Seja como for, não deites a carraça para o lixo. Guarda-a numa embalagem de vidro ou de plástico que esteja seca. Se passados alguns dias começares a sentir sintomas, vai ao médico e leva a carraça, porque será necessário fazer uma análise para detetar a bactéria que está a infetar o teu organismo, sendo o tratamento definido consoante o resultado desse exame.