A maior parte das equipas de topo do pelotão internacional fazem estágios durante a pré-temporada na Marina Alta (Comunidade Valenciana, em Espanha), onde o clima e as subidas com pouco trânsito se convertem no cenário ideal para treino de ciclistas como Tadej Pogacar, Jonas Vingegaard, entre muitos outros.
Já lá estivemos e basta acompanhar a plataforma Strava para ver o progresso de vários ciclistas do WorldTour em subidas conhecidas nesta zona, como o Coll de Rates ou o Vall de Ebo. Aliás, é comum encontrar alguns ciclistas no café Musette de Alcallí, na provincia de Alicante. No entanto, há uma subida quase secreta que é usada por todos estes ciclistas do WorldTour quando estão a treinar séries.
Mesmo no final da estrada de Les Rotes (em Barranc del Monyo), começa a tranquila rua da Via Lactea, que se dirige a Cova Tallada, um local idílico para quem gosta de mergulho ou de caminhada. Esta zona requer uma autorização de acesso nos meses de Verão, mas no Inverno é permitido transitar.
Após a primeira curva, passando pela placa de aviso de passagem exclusiva de veículos motorizados de moradores, há uma rampa de 400 metros.
O asfalto desta primeira parte da subida costuma ser limpo pelos auxiliares das equipas, para que não ocorram o risco de cair na descida. No Inverno, poucos moradores estão nas suas casas, portanto é uma zona tranquila. Nesta subida os ciclistas vão encontrar um desnível perto dos 19% e há ciclistas que fazem esta subida dez vezes. Esta rampa é usada por ciclistas de elite para melhorar o VO2 máximo e aumentar a capacidade dos músculos de usar o oxigénio transportado pelo sangue.
O treino de séries no ciclismo obriga a alternar períodos curtos de alta intensidade com intervalos de recuperação, para um aumento de potência aeróbica que dará frutos tanto nas subidas de alta montanha das grandes voltas, como na chegadas ao sprint. Por esse motivo, trepadores e sprinters realizam o mesmo treino nesta zona do mar Mediterrâneo.
NÃO PARES, SEGUE, SEGUE...
Mas este ex-líbris não termina aqui. Depois de passar a entrada do caminho da Cova Tallada (a guarita de vigilância marca o caminho), a estrada vira à direita para enfrentar mais 600 metros em asfalto degradado até a Torre del Gerro. Para chegar à rampa final, com um piso mais apto para gravel ou BTT, é preciso subir uma calçada estreita e evitar que pedras e buracos atrapalhem o sprint final.
No total, desde o início da rua até ao topo, percorre-se pouco mais de 1 km, uma distância mais do que suficiente para testar os limites de cada um. A vista é magnífica e vale a pena.