Chamo-me Jérôme Clementz e sou atleta profissional de BTT há mais de 15 anos. A maior parte do meu tempo foi investido a explorar, treinar e competir em todo o mundo. Felizmente, a minha esposa Pauline esteve sempre comigo durante a maior parte desta "aventura", pois ajudou-me a gerir a minha carreira e é também é muito habilidosa com a bicicleta. A certa altura, há cerca de 2 anos, tivemos um filho. Nessa altura estava lentamente a sair do período de competição, e não estava preocupado em ter de acordar de manhã cedo e dormir poucas horas. Na verdade, estava muito entusiasmado com esta nova parte da minha vida e pronto para enfrentar este desafio.
Ao contar a novidade à minha família e amigos, primeiro ficaram felizes por nós, mas também levantaram algumas preocupações. “O jogo acabou", “já não vais andar mais de bicicleta", “agora estás preso em casa", “foi ótimo conhecer-te, mas agora não te vamos ver mais" foram as amáveis observações que recebi e isso fez-me perceber que as coisas iam ser diferentes. Nunca estive mais de 2 meses em casa sem viajar e todos os meus fins-de-semana eram dedicados à minha bicicleta ou a explorar a natureza. Esta foi provavelmente uma parte difícil de digerir, mas gosto de aprender e experimentar coisas novas. Mas talvez ainda se possa fazer coisas “porreiras" com uma criança...
Vou poupar-vos a todos os detalhes do início, com um recém-nascido a cargo, e não vos vou encorajar a levar os vossos filhos logo para os trilhos «à maluca», mas quando conseguirem compreender quando é que o vosso filho se está a divertir, não tenho dúvidas de que terão muitas oportunidades de ainda conseguirem ter uma vida ativa e passarão a juntá-lo à vossa jornada descobrindo novos locais e aventuras. Felizmente, a bicicleta é provavelmente a ferramenta com a qual mais se pode partilhar momentos em conjunto.
Começámos com um atrelado da Thule, em alguns trilhos fáceis e estradas de terra batida para fazer algumas explorações simpáticas. Não há necessidade de ficar em casa, ainda podemos passar o nosso tempo fora e descobrir novos lugares. Quando ele fez 2 anos, começou a andar na sua bicicleta sem pedais e pudemos colocá-lo num selim montado na frente da bicicleta, para realmente partilhar o entusiasmo com ele.
Acreditem, nunca o forçámos e ele depressa começou a “pedir boleia" por iniciativa própria. Ele não tem de nos dizer duas vezes o que quer e quase diariamente trazemo-lo para a montanha, para passeios na floresta, em que ele pode andar de bicicleta sozinho e fazer alguns singletracks sentado no seu Macride (o selim extra que se instala no top tube da bike dos “crescidos"). Felizmente, temos bicicletas elétricas que nos ajudam realmente a tornar estas aventuras mais fáceis e tudo fica mais acessível, porque com aqueles 13 kg a mais, a tarefa seria complicada sem assistência elétrica.
O ano passado fomos de férias para Val Di Fassa, nos Dolomitas, um lugar que sempre me fascinou pelos seus picos únicos, pelo seu vale interminável, vistas de cortar a respiração e estilo de vida italiano. Começámos a nossa estadia com alguns passeios na ciclovia ao longo do rio Avisio, onde o Emil, o nosso filho, podia andar de bicicleta connosco no alcatrão, por estradões, nos “skill parks" ou pumptracks que podíamos encontrar no caminho, sem esquecer uma paragem ou duas num parque infantil. A vida não são só bicicletas…
Seguindo as recomendações do gabinete de turismo, fizemos uma visita à zona de Fuchiade com o atrelado, por estradões fáceis, e desfrutámos da vida tranquila no campo. Havia burros, vacas, cabras e ovelhas por todo o lado, companheiros ideais para um dia calmo com um verdadeiro sabor a férias. Depois, como o tempo estava ótimo, Val Duron era um ponto obrigatório para a família. Tem um acesso mais íngreme, mas uma vez alcançado o planalto, perdemo-nos neste vale com grandes formações rochosas à volta, campos verdejantes, algumas cabanas de agricultores e uma bonita cascata.
A verdadeira essência…
Para nós, a bicicleta é uma ferramenta para chegar a lugares agradáveis em harmonia com a natureza, descobrir coisas que não se podem alcançar facilmente de carro ou demasiado longe para chegar a pé, mas também tem de haver aquele aspeto divertido e técnico que satisfaz a nossa necessidade de adrenalina e desafio. As bicicletas, e especialmente agora as Ebikes, permitem imaginar algumas aventuras e partilhar isto em segurança com o nosso filho, e temos a certeza de que isto mudou a nossa forma de conceber as nossas férias e a nossa vida diária como pais.
O melhor de tudo é que agora ele está sempre a querer sair connosco. Para nós, estas são as melhores coisas que ele nos poderia pedir, e estamos sempre interessados em ceder às suas exigências. Portanto, quando ele nos disse que já não queria andar nos estradões e que estava à procura de alguns saltos e curvas, foi difícil dizer não. Escolhemos um trilho verde e florido no Val Di Fassa Bike Park e fomos por ali abaixo para o deixar feliz.
Foi um prazer pedalar com ele e ouvi-lo a rir enquanto também apreciava o passeio. Do ponto de vista pessoal, é a mesma sensação de vencer os trilhos mais técnicos ou quando se atinge um bom resultado numa competição. Mas não se esqueçam de que uma criança de 2 anos também precisa de descansar, dormir bem e fazer uma sesta à tarde. Isto permite-nos ir à vez numa voltinha “privada", onde se pode ultrapassar os limites e viver o próprio momento na natureza. Revezamo-nos de manhã cedo, ao nascer do sol ou quando ele vai reabastecer as baterias, à tarde.
As pessoas podem pensar que somos loucos, mas posso dizer que nunca pesei tanto as consequências de cada uma das minhas decisões. Cair não é uma opção e tenho sempre em mente a sua segurança a curto prazo, mas também o impacto na sua saúde futura. Não é porque se vê alguém fazer algo com uma criança que se deve fazer o mesmo. As pessoas têm níveis de competências diferentes e as crianças têm uma linha temporal de evolução diferente. Não se trata de uma corrida ou de fazer as coisas mais extremas para impressionar toda a gente, mas de criar a felicidade partilhada na sua zona de conforto.
Assim, pensando no que as pessoas me disseram há 2 anos, provavelmente de uma forma brincalhona, posso definitivamente dizer que ter filhos não arruína a nossa vida, e muito menos as nossas oportunidades de pedalar. Há algumas mudanças, mas também muitas novas experiências que tornam a vida tão agradável como sempre, se não mesmo mais. Antes fazia-o principalmente para mim próprio, mas agora também há este aspeto de ensino e aprendizagem que cria outro sentimento de realização. E não falo apenas do entusiasmo que sentes quando vês o teu filho a sorrir e a pedir mais. Há muitas oportunidades e coisas boas a fazer em conjunto e a vida é isso mesmo.