Os tempos mudam, os gostos também, mas há algo que permanece: a nossa paixão pelo mundo das bicicletas. Já testámos praticamente todas as gerações de bicicletas Trek ao longo de dezenas de anos e a marca continua a surpreender-nos. A nova Domane – que entra agora na sua quarta geração - é aquilo que podemos definir como uma “all in one”, pois permite, com a mesma bicicleta, ter acesso a uma performance de topo na estrada, com a capacidade de podemos enveredar por um gravel mais ligeiro e, em abono da verdade, também tem polivalência suficiente para permitir fazer viagens de bikepacking, sempre com muito conforto.

O quadro é fabricado em carbono da série 800 OCLV, o topo de gama da Trek, e no caso desta Domane SLR possui tecnologia e componentes que suavizam a estrada, sobretudo o sistema Isospeed que foi, entretanto, renovado. Na prática, o Isospeed separa o espigão de selim do quadro fazendo com que as vibrações da estrada sejam dispersas e não afetem o conforto geral. No entanto, os tubos sobredimensionados - sobretudo o diagonal e o superior – também ajudam a proporcionar este conforto extra bem como as excelentes rodas de carbono Bontrager Aeolus Pro 37 e, claro, os pneus tubeless de 32 mm.
A resposta na estrada é soberba, pois quanto mais confortáveis – e com menos fadiga -estivermos a pedalar, mais rápido andaremos e durante mais horas. Além disso é muito manobrável e nas descidas podemos mesmo abusar um pouco mais, atingindo velocidades muito elevadas. É esta confiança extra que a Domane proporciona e que muitos ainda desconhecem. Talvez um dos motivos de ser uma das bicicletas mais incompreendidas do catálogo da Trek se deva ao facto de muitos optarem pela Émonda (pelo peso) ou pela Madone (pelo design), quando na verdade esta Domane pode ser a bicicleta mais indicada para eles.

Para provar a sua polivalência, apresentamos um valor que diz tudo e que se refere à medida máxima de pneus que pode levar: 38 mm. Num país como o nosso, que possui estradas mal pavimentadas, sarjetas, buracos e empedrado, esta bicicleta faz todo o sentido e permite rolar durante horas a fio sem desconforto ou problemas mecânicos. Como tem uma distância entre eixos mais longa do que a maioria das bicicletas de estrada e um eixo pedaleiro mais baixo, é mais estável. Por outro lado, a direção está numa posição elevada, para termos as costas mais direitas. Tudo isto maximiza o conforto e define aquilo que a Trek denomina de Geometria de Endurance.
Para alguns isto pode dar a entender que não se trata de uma bicicleta focada na performance. Não poderiam estar mais enganados. Esta bicicleta ganhou o Paris-Roubaix feminino, uma das provas mais duras do mundo e foi desenvolvida em cooperação com os atletas da equipa Trek-Segafredo.
O quadro é mais leve do que o das gerações anteriores - perto de 300 gramas - devido ao novo design e a um sistema Isospeed menos complexo, logo mais ligeiro. E tudo nela tem intuitos aerodinâmicos.

DETALHES QUE FAZEM A DIFERENÇA
Para além de um novo design do quadro, a cablagem interna tem um encaminhamento através da parte inferior do avanço, entrando em direção ao quadro. Isto torna o aspeto da bicicleta mais limpo e agradável, mas mais complexo em termos de manutenção. Para além disso, há um compartimento no tubo diagonal onde podemos guardar um colete, um impermeável ou mesmo ferramenta e o kit antifuros, já que a marca oferece uma prática bolsa que cabe perfeitamente nesta zona.

O acesso ao compartimento é feito através de uma tampa com uma manivela e que também serve de apoio para a furação da grade de bidon. Tudo muito prático, funcional e sem ruídos parasitas. Na parte superior do tubo horizontal também encontramos furação para colocar uma bolsa de alimentação (dá jeito para voltas acima dos 200 km). A escora traseira bem como a forqueta também possuem furação para a colocação de guarda-lamas. Por último, mas não menos importante, o quadro inclui de série uma guia de corrente. É altamente improvável que a corrente saia, dado que este modelo está equipado com uma transmissão eletrónica que faz autocorreção das mudanças (ao milímetro), mas caso aconteça, é bom saber que o quadro não ficará riscado nessa zona.

COMPORTAMENTO
O que é que quase todos os ciclistas ambicionam quando compram uma bicicleta nova? Que seja rápida, confortável e que não dê problemas. O peso – exceto nos ciclistas com objetivos mais competitivos -, não costuma ser o principal entrave. Esta Domane SLR 7 eTap Gen4 pesa 8,28 kg sem pedais no tamanho 58, um valor que parece ainda menor quando pegamos nela ou quando estamos na estrada. Mesmo em subida não se nota este peso e temos de salientar que se trata de uma bicicleta com travões de disco.
Aquilo que podemos fazer com ela e que já explicámos num parágrafo anterior demarca-a das demais e pode mesmo ser a bicicleta ideal para ti, que costumas andar em estrada, mas queres começar a explorar o gravel ou as viagens longas. A robustez, qualidade da montagem e a polivalência são atributos mais do que suficientes para nos convencer e após meses a testá-la, não tenho dúvidas de que é o tipo de bicicleta que posso recomendar a quem procura algo diferente. É suave a rolar, tem uma posição de condução relaxada, a escolha de periféricos é perfeita – sobretudo no caso da transmissão sem fios Force eTap AXS (2x12 velocidades) e das rodas Bontrager Aeolus Pro 37 -, transmitindo muita segurança e, sobretudo, confiança.

Este modelo traz pneus Bontrager R3 de 32 mm tubeless ready, por isso aproveitámos as vantagens deste sistema, bem como do selante para abusar em terrenos fora de estrada. Nesta bicicleta não tivemos um único furo, nem sentimos perda de tração em estrada, mas não podemos abusar em gravel, dado que os pneus de origem não são os mais indicados para offroad. Sugerimos ter uns pneus à parte específicos de gravel, com tacos, para uma experiência ainda melhor.
O ajuste da altura do espigão de selim está oculto debaixo de uma tampa magnética no top tube. Uma solução não só estética, mas também funcional. Esta tampa esconde não só o aperto do espigão, mas também o IsoSpeed, mantendo estas duas partes livres de detritos e de água. Confessamos que nas primeiras voltas o espigão baixou algumas vezes, mas depois de adicionarmos mais massa específica para carbono, o problema desapareceu.

Quanto ao cockpit é composto por um avanço Bontrager RCS Pro Blendr de 100 mm que permite adicionar um GPS ou uma luz, por exemplo, utilizando um dos adaptadores da Bontrager. Baseia-se num sistema criado pela marca que é altamente eficaz e que através de peças compatíveis entre si, nos dá a possibilidade de colocar câmaras de filmar, luzes, GPS, ciclocomputadores e outros acessórios na bicicleta. Por sua vez, o guiador é um Bontrager Isocore Pro de carbono com 44 cm de largura, que embora não tenha um design cem por cento aerodinâmico, como é a moda atualmente, é confortável.
Há ainda outro ponto a favor desta Domane. Os cranques já incluem um potenciómetro, basta colocar a pilha (incluída) e emparelhar com um ciclocomputador compatível para tornar as nossas voltas ou treinos ainda mais eficientes.
O único ponto negativo que encontrámos nesta Domane é tão pequeno que, confessamos, quase não merece a pena ser mencionado, por ser tão fácil de resolver. As válvulas das rodas Bontrager são, na nossa opinião, demasiado curtas, o que dificultou o enchimento dos pneus inúmeras vezes. Basta trocar por umas maiores ou colocar extensores – lembramos que as rodas têm um perfil de 37 mm, por isso convém ter atenção a este pormenor -.

Quanto à desmultiplicação fornecida, traz 46/33 à frente e 10/33 atrás, o que é suficiente para a maioria das situações e tipos de estrada. O comprimento dos cranques difere consoante o tamanho do quadro e gostámos de saber que o eixo pedaleiro é de rosca, o que em termos de manutenção é uma excelente notícia.

TRÊS PLATAFORMAS
A Trek acredita nas potencialidades da Domane e prova disso é o facto de estar disponível em três plataformas diferentes: uma com quadro em carbono, uma com quadro em alumínio e outra elétrica. Desde modo, consegue chegar a mais potenciais clientes, consoante a dimensão da “carteira” e gostos pessoais.
No caso da plataforma em carbono, para além das versões SLR – como esta que testámos – existem as SL, com o mesmo design, mas fabricadas em carbono OCLV da série 500, ligeiramente mais pesado, mas também mais barato. Também neste caso o quadro é 300g mais leve do que a versão anterior.

QUAL ESCOLHER?
As montagens disponíveis são inúmeras, bem como as cores disponíveis e tamanhos. Nesse aspeto, a Trek está alguns furos acima da concorrência e a faixa de preços é também enorme. As plataformas em carbono (SL e SLR) são, do nosso ponto de vista, as que conseguem mostrar as reais capacidades deste modelo, sobretudo do IsoSpeed. No caso desta versão com Force Etap, pode não ser a bicicleta de estrada mais leve – a Émonda nesse campo é superior – mas aquilo que proporciona compensa esses gramas a mais e fará com que chegues a casa mais fresco e com mais vontade de repetir a dose. Afinal de contas o ciclismo amador é isso mesmo: desfrutar e voltar.

BALANÇO FINAL
Houve quem preconizasse a extinção da Domane no catálogo da Trek, mas a marca conseguiu renovar este modelo, tornando-o mais apetecível e polivalente. Tem tudo aquilo que o público português quer: conforto, versatilidade, tecnologia e robustez.
PONTUAÇÃO
- Estabilidade: 10
- Travagem: 9
- Conforto: 9,8
- Cicloturismo: 9
- Competição: 9

DETALHES
Selim Bontrager Verse Elite
O selim montado de origem nesta Domane é o Verse Elite, uma versão curta, mas com abertura central generosa. Não é o tipo de selim que permita muitas posições diferentes quando estamos sentados, mas genericamente é confortável, robusto e tem bons acabamentos. No entanto, dado o preço desta bicicleta, contávamos que tivesse carris em carbono, em vez de magnésio.

Avanço com tecnologia Blendr
É verdade que este modelo poderia vir de origem com um cockpit integrado, mas ao ter um guiador e avanço separados, permite fazer ajustes em caso de bikefit (por exemplo, podemos colocar um avanço mais curto ou maior), além de que o sistema Blendr do avanço permite colocar o ciclocomputador, luzes entre outros acessórios em simultâneo.

Aperto oculto
O aperto do espigão de selim está oculto debaixo desta tampa magnética, a qual também esconde o sistema Isospeed. Para além de ser um detalhe estético, é também funcional, já que evita a entrada de detritos e de água, prolongando a sua vida útil.

Pneus com 32 mm
Esta versão vem com pneus de 32 mm – neste caso os robustos R3 Hard Case Lite da Bontrager -, preparados para o sistema tubeless (o líquido selante é oferecido na compra da bicicleta). Isto significa que praticamente 90% dos furos serão resolvidos na hora sem teres de fazer nada. Além disso, esta medida de pneu, juntamente com as excelentes rodas Bontrager Aeolus Pro 37, proporcionam muito conforto e confiança. Os pneus possuem milhares de saliências na lateral, para maior aderência em curva.

FICHA TÉCNICA:
- Quadro: Carbono OCLV 800
- Forqueta: Carbono
- Tamanhos: 47, 50, 52, 54, 56, 58, 60, 62
- Pedaleiro: Sram Force AXS com potenciómetro 46/33
- Desviador traseiro: Sram Force AXS
- Desviador dianteiro: Sram Force AXS
- Manípulos: Sram Force AXS
- Corrente: Sram Force 12 velocidades
- Rodas: Bontrager Aeolus Pro 37 carbono Tubeless Ready
- Cassete: Sram Force 10/33
- Pneus: Bontrager R3 Hard Case Lite, tubeless ready, 120 TPI, 700x32C
- Travões: Sram Force AXS
- Guiador: Bontrager Pro IsoCore VR-SF, 44 cm
- Avanço: Bontrager RCS Pro, 100 mm, -7 graus
- Espigão de selim: Carbono
- Selim: Verse Elite
- Peso total: 8,28 kg (tamanho 58, sem pedais)
- Preço: 9.349€
- Distribuidor: Trek Bikes
- Site: www.trekbikes.com
GEOMETRIA (Tamanho 58)
- Tubo horizontal: 567 mm
- Tubo vertical: 548 mm
- Ângulo da direção: 72º
- Ângulo de selim: 73º
- Escoras: 425 mm
- Reach: 380 mm
- Distância entre eixos: 1022 mm