Quando me telefonaram a dizer que iria receber a nova versão de uma bicicleta que iria mudar drasticamente a visão do mercado, fiquei em pulgas. Mas somente depois de a receber e de confirmar o peso real do modelo que tinha acabado de receber é que me “caiu a ficha”, como se costuma dizer: 6,8 kg no tamanho 58! Tive de voltar a pesá-la na nossa balança para confirmar aquilo que já supunha: esta é claramente uma bicicleta fora de série.

Fruto do novo layout de carbono OCLV, que passa a adotar as novas fibras 800, a diminuição de peso foi notória, mas há também outras particularidades que tornam esta bicicleta num modelo à parte: os tubos têm uma configuração mais aerodinâmica e a conjugação desta versão, com as rodas de carbono Bontrager Aeolus RSL 37 e dos pneus Bontrager R4 320 feitos à mão faz com que o conforto ganhe outro protagonismo numa bicicleta que é extremamente rígida, disso não haja dúvidas, mas que não nos faz sentir as irregularidades da estrada na totalidade.

Com o carbono mais leve de sempre na marca, e que está presente em outros modelos da gama 2021, como a nova Madone, a Trek chegou a um patamar em que se pode gabar de possuir claramente uma das bicicletas mais completas de sempre, capaz de ser classificada ao mesmo tempo trepadora e apta para longas jornadas de ciclismo. O seu quadro pesa menos de 700 gramas, ou seja, é um dos mais leves do mundo, e foi adornado com o novo cockpit Aeolus RSL da Bontrager, composto por guiador e avanço numa só peça.

Deste modo, o aerodinamismo fica assegurado, ocultando os cabos e permitindo às mãos ter mais apoio sem comprometer o peso. O quadro tem um tubo diagonal sobredimensionado e um tubo horizontal que difere de grossura à medida que se aproxima/afasta tanto do espigão de selim bem como da testa da bicicleta. Isto é propositado e não algo puramente estético. Como a parte frontal é uma zona fulcral na luta contra o vento, a envolvência foi alvo de estudos e análises, adotando um alinhamento mais fluido.

Também por isso a junção do quadro ao avanço tem um formato aero, pois tudo o que implique formas díspares provoca pontos de disrupção na passagem do ar. Outro dos pontos chave nesta bicicleta é sem sombra de dúvida a nova geometria H1.5, a qual permite adotar uma postura mais racing, mas sem ser desconfortável. Mesmo quem não tem muita flexibilidade – como é o meu caso – se adapta sem qualquer problema a esta posição de condução ligeiramente mais deitada, a qual é mais aerodinâmica e, simultaneamente, a que evita mais desconfortos. Aliás, é a posição atualmente adotada pelos ciclistas profissionais da equipa Trek-Segafredo.

Tive a oportunidade de testar a versão anterior da Émonda, que foi lançada em 2018 e esta é claramente mais rápida e, atrevo-me a dizer, mais confortável. A própria equipa Trek-Segafredo já admitiu que gostou tanto da bicicleta que vai passar a usá-la em 7 de cada 10 dias de competição. O seu novo laminado é 30% mais forte do que o T700 usado anteriormente, e levou mais de dois anos a ser desenvolvido, tendo sido testados mais de 200 protótipos. Convém esclarecer que este carbono é exclusivo da Trek, portanto se te disserem que alguma outra marca o está a usar, essa informação é falsa.

COMPORTAMENTO NA ESTRADA
Para além de uma leveza surpreendente, a nova Émonda destaca-se pela facilidade em atingir e manter velocidades elevadas, fruto do design da tuberia, mas também da escolha de todos os componentes envolvidos. Neste tipo de bicicletas com ADN marcadamente competitivo, geralmente o conforto é relegado para segundo plano. Nesta nova versão, isso não acontece. A marca nem fala nisso, mas do nosso ponto de vista, para o comum dos mortais, isto é um ponto muito importante. Sem conforto, uma volta com quilometragem acima de três dígitos pode ser o cabo das tormentas, mas nesta Émonda isso não acontece, pois é como se estivéssemos sentados em veludo.

O conforto é oriundo do próprio quadro, é certo, mas também da geometria adotada (que distribui bem o peso do ciclista), pela qualidade das rodas e pneus, bem como pelo selim adotado, o Aeolus Pro, com carris em carbono. No meu caso, meço 1,91 e o peso ronda os 88 kg, por isso ter conforto significa poder aplicar mais força nos pedais e manter-me em andamento mais horas, sem ter de encurtar a volta.

É uma delícia fazer subidas longas, em que se sente a bicicleta avançar a cada pedalada, ou quando pedalamos em pé, mostrando que a leveza e a agilidade são como tónicos motivadores. Também a descer fiquei rendido. Os potentes travões hidráulicos Sram Red de dois pistons deram sempre conta do recado, mesmo abusando da velocidade em descidas mais inclinadas. Essa confiança deve-se também à qualidade dos pneus R4 da Bontrager, que em conjugação com as levíssimas rodas Aeolus aparentam ter um comportamento similar aos tubulares.
PORMENORES
Rodas Aeolus
As novas rodas ultraleves Bontrager Aeolus RSL 37 são fabricadas em carbono OCLV de elevada qualidade, mais leve e resistente, e têm um laminado muito cuidado. São Tubeless Ready e foram desenvolvidas juntamente com a Émonda. Têm 37 mm de perfil, trazem novos cubos DT Swiss e um cepo com 36 pontos de engate. Têm garantia vitalícia.
Espigão integrado
O espigão Ride Tuned é uma solução engenhosa em que parte do tubo de selim é proporcionado pelo próprio quadro, sendo a parte restante acoplada, toda ela em carbono premium. Deste modo o conjunto mantém-se leve e o conforto é maximizado. O espigão fornecido tem um offset de 20 mm.
Cockpit integrado
Este cockpit da Bontrager é extremamente leve – pois também é construído em carbono OCLV – e, apesar de ocultar os cabos, para um design mais limpo e homogéneo, é possível fazer a manutenção dos mesmos na parte inferior. No tamanho 58, a bicicleta traz um cockpit com 100 mm de alcance, um drop de 124 mm, 42 cm de largura e um comprimento de avanço de 110 mm.
RED eTAP AXS
Esta transmissão eletrónica (2x12) e sem fios da SRAM é impressionante. A comutação é precisa, sem ser brusca, proporcionando mudanças sempre alinhadas e sem ruídos. Neste caso traz uma desmultiplicação um pouco fora do tradicional (48-35 à frente e 10-33 atrás), mas que se enquadra com a realidade. E os travões são muito potentes e doseáveis. Inclui medidor de potência no cranque.
Aeolus Pro
Este novo selim da marca da casa é muito confortável. Além de ser muito leve, fruto da base e dos carris em carbono, possui um comprimento mais encurtado (250 mm), um nariz mais largo e bom apoio dos ísquios. Possui um extenso canal ao meio para eliminar o desconforto nos tecidos moles. Foi desenvolvido após uma extensa análise biomecânica.

O veredito
É difícil ficar indiferente depois de se testar uma bicicleta como esta. Para além da montagem sublime, que garante performance, eficácia e leveza, o próprio quadro em si atingiu níveis inimagináveis, sendo mais rápida, leve, rígida e ao mesmo tempo confortável que alguma das anteriores versões. Com este lançamento, a Trek mudou completamente os limites daquilo que uma bicicleta pode ser e, acima de tudo, provou que uma bicicleta trepadora pode ao mesmo tempo ser aerodinâmica.

PONTUAÇÃO: 9,8
Estabilidade: 9
Travagem: 10
Conforto: 10
Cicloturismo: 10
Competição: 10

FICHA TÉCNICA
Quadro: Carbono OCLV 800
Forqueta: Carbono
Tamanhos: 47 a 62
Cranques: SRAM Red AXS, 48-35
Desviador F: SRAM Red AXS
Desviador T: SRAM Red AXS
Manetes: SRAM Red AXS
Corrente: SRAM Red D1
Rodas: Bontrager Aeolus RSL 37 TR, carbono
Cassete: SRAM Red XG-1290, 10-33, 12 vel.
Pneus: Bontrager R4 320, 700x25c
Travões: SRAM Red AXS Disco
Guiador: cockpit Bontrager Aeolus RSL em carbono
Avanço: cockpit Bontrager Aeolus RSL em carbono
Espigão: Carbono, offset de 20 mm
Selim: Bontrager Aeolus Pro, carbono, 145 mm
Peso total: 6,8 kg (tamanho 58)
Preço: 10.999€
Distribuidor: Trek Bikes
Web: www.trekbikes.com/pt

Balanço final:
Se a nível de leveza a Émonda era a referência e em termos de aerodinamismo a Madone marcava o passo, agora a nova Émonda SLR passou a destacar-se como a melhor bicicleta da Trek alguma vez produzida até à data. Bater recordes e subir montanhas mais rápido que nunca são coisas banais para esta bicicleta que respira WorldTour.