A nova Specialized S-Works Epic World Cup deu muito que falar desde que Haley Batten ganhou pela primeira vez na Shimano Super Cup Massi de Bnyoles, uma prova de categoria especial disputada no final do mês de Fevereiro. Após vários meses oculta com um pedaço de neoprene, finalmente a Specialized revelou a sua bicicleta topo de gama para Cross Country.

Tem algumas semelhanças estéticas com a Trek Supercaliber e partilha uma filosofia que poderá impulsionar uma nova geração de bicicletas para Cross Country, as de suspensão total de curso reduzido. Numa altura em que a maioria das marcas está a optar por lançar modelos para competição com 120 mm, as duas marcas norte-americanas demarcam-se das demais apresentando uma solução que tem um sistema de amortecimento abaixo dos 100 mm. Excepto os elementos que compõem visualmente o quadro (triângulo dianteiro, basculante e amortecedor), os princípios aplicados por cada marca são diferentes, e isso torna-as distintas.
Os amortecedores "tradicionais" contam com uma câmara de ar positiva e negativa. A positiva (a principal) determina a firmeza do amortecedor, e a negativa trata da sensibilidade inicial. Quando se faz uma précarga de um amortecedor, transfere-se uma quantidade de ar da câmara positiva para a negativa, tendo ambas um tamanho concreto estabelecido pela marca com base no comportamento que lhe querem dar. O entretanto desaparecido sistema Dual Air da RockShox permitia modificar a pressão da câmara negativa, mas nenhum sistema até agora ofereceia a possibilidade de regular facilmente o seu volume.
No entanto, o que a Specialized e a RockShox desenvolveram em conjunto é algo totalmente diferente. O inovador amortecedor RockShox SIDLuxe WCID Ultimate é inovador, dado que o volume da câmara de ar negativa passa a desempenhar um novo papel, e isso significa que a sensibilidade inicial do amortecedor também é afetada, estabelecendo um novo limiar de ativação a partir do qual entra em ação. Algo muito semelhante ao que acontecia no sistema Brain.

O novo amortecedor RockShox WCID (World Cup Integrated Design) mantem a essência do sistema Brain, ou seja, prescinde de qualquer sistema de bloqueio e atua automaticamente quando recebe impactos. Esta tecnologia tornou a marca conhecida em todo o mundo e fez com que a Epic se tornasse a referência durante muitos anos, passando de um sistema hidráulico complexo para um sistema a ar bastante simples.
O novo sistema continua a oferecer as vantagens do Brain, mas agora é mais leve, simples e fiável. Como não tem um depósito externo, está melhor distribuído e menos suscetível de sofrer problemas.
NÃO SE TRATA DE UMA ‘SOFTAIL’
A nova Epic World Cup tem um basculante articulado completamente funcional que proporciona 75 mm de curso traseiro. Trata-se de um sistema monopivô com um pequeno link (escondido no tubo superior) que une as escoras com a fixação do amortecedor, regendo o movimento do amortecedor e determinando a sua cinemática, além de garantir que isola das flexões laterais.

Tanto a suspensão como o amortecedor prescindem de bloqueios, passando do estado firme a ativo num instante. Embora a tecnologia Brain original tenha desaparecido na parte traseira, o sistema hidráulico comandado por uma válvula de inércia mantem-se na suspensão RockShox SID SL Ultimate.
A suspensão passa a ter agora 110 mm de curso (em vez de 100 mm) e o seu sistema Brain foi melhorado. A quantidade de óleo foi aumentada, ao suprimir a válvula Spike que atuava a meio do seu curso (isso prejudicava a sua sensibilidade), deixando mais espaço para a deslocação do pistão flutuante interno (IFP), para um comportamento mais homogéneo e fiável. Além disso, o centímetro a mais em termos de amortecimento também favorece outros aspetos.

A RockShox SID SL Ultimate Brain está mais sensível e reage de imediato, passando de bloqueada a ativa em segundos.
TAMBÉM NÃO É UMA ‘HARDTAIL’
O comportamento da Epic World Cup não depende só das suspensões. Fatores como a rigidez ou a geometria transmitem controlo, sendo a torção entre o eixo dianteiro e traseiro um dos aspetos que mais foram trabalhados, com o intuito de que a linha imaginária que une o guiador às escoras, através do tubo superior, seja o mais direta e sólida possível. Por isso, a Specialized optou por um design muito tradicional com um triângulo duplo, similar ao de uma bicicleta rígida, integrando parcialmente o amortecedor no tubo superior, para que este faça parte da estrutura do quadro.
Na prática é uma disposição convencional e muito eficiente, com tubos arredondados e o mais retos possível, ganhando espessura à medida que se aproximam da caixa do pedaleiro. Tem um aspeto mais compacto, mas permite alojar dois bidons de tamanho médio dentro do triângulo principal em qualquer tamanho.

A geometria é outro aspeto importantíssimo e na Specialized costumam acertar nas medidas. O ângulo de direção é lançado (66,5º), o que proporciona segurança nas descidas rápidas e/ou inclinadas, tem um tubo de selim vertical com 74,5º, para pedalarmos vigorosamente e escoras curtas (430 mm), para grande capacidade de reação e aceleração.
Comporta-se como uma rígida, sendo ágil, leve, rápida e muito fácil de acelerar e mudar de direção.

Embora tenha um curso traseiro de 75 mm, absorve bastante bem, aliás muito melhor do que aquilo que esperávamos. Não traz de origem um espigão telescópico de série porque o objetivo é manter a bicicleta o mais leve possível e permitir ao utilizador decidir qual é o espigão ideal.
De origem a World Cup traz o novo grupo SRAM Transmission, recentemente lançado no mercado (XX SL Eagle AXS no modelo S-Works, XO Eagle AXS na versão Pro), com os novos travões SRAM Stealth Level (Ultimate na S-Works e Silver na Pro).
O novo cockpit integrado Roval Control SL de 250g está incluído. É fabricado em carbono de alto módulo e coloca as mãos numa posição muito natural, aproximando os cotovelos ao peito, reduzindo a fadiga da parte superior do corpo e ajuda-nos a controlar melhor a bicicleta.

Agora, a direção tem uma rotação limitada para evitar que o guiador bata no quadro em caso de queda. Além disso, o quadro tem cablagem interna, como não poderia deixar de ser.
UMA VERDADEIRA ‘FULL SUSPENSION’
A nova Epic World Cup renasce das cinzas com fulgor e é possivelmente uma das bicicletas mais desejadas pelos praticantes de Cross Country. Quer seja um fã de XCO, Maratonas ou Short Track, a nova Epic é ideal para enfrentar qualquer desafio. Enquadra-se no segmento das "full suspension", e abre novos horizontes, sobretudo ao nível da competição.
NOVO AMORTECEDOR
O amortecedor RockShox SIDLuxe WCID Ultimate é mais comprido e estreito do que os convencionais. Mede 215 mm (em comparação com os 190 mm de um amortecedor métrico normal). O seu maior comprimento possibilita que a câmara de ar principal seja maior. Isto também ajuda em termos de funcionamento, além de que passa a ter uma maior superfície de contato dos casquilhos e menos flexão.

Segundo a Specialized, o limiar de funcionamento do amortecedor tem três configurações recomendadas e muito diferenciadas. No gráfico podemos ver a curva de funcionamento nos modos: suave (a branco), médio (amarelo) e firme (vermelho).
No modo suave, a câmara de ar negativa é máxima e o amortecedor apresenta um sag de 10% (4 mm), ficando o sistema de amortecimento ativo e sensível quase desde o princípio do curso. Nesta configuração, comporta-se muito bem no terreno, é muito ativa e confortável, além de que tem muita aderência. Em subidas é bastante confortável e quando estamos a pedalar não existe "contaminação" do sistema de amortecimento.

No ponto médio o sag é de 5% (2.5 mm), a câmara de ar negativa é pequena e o amortecedor fica bastante ativo, embora se note firmeza no início e menor sensibilidade. É provavelmente o modo mais equilibrado e o mais adotado.

O modo firme prescinde da câmara negativa e de sag. É muito parecido a uma rígida, sendo necessário haver um impacto para que o amortecedor comece a funcionar.
Superados os primeiros milímetros de compressão do amortecedor e vencido o limiar de ativação, todas as curvas ficam planas, sendo esse o fator chave no comportamento. No final do curso, fica novamente mais duro. É precisamente na secção mais plana de ativação do sistema que conseguimos tirar mais partido do curso do amortecedor da Epic, e devido à cinemática sentimos que tem mais curso do que aquele que realmente existe. Aliás, parece que tem 100 mm e 25% de sag, sobretudo nas configurações mais sensíveis.
No entanto, o sistema não se restringe a três posições definidas, dado que o grau de ajuste da câmara de ar é quase infinito, para uma personalização ao nosso gosto. Por exemplo, a atleta Haley Batten prefere uma configuração mais firme, deixando um pouco de ar na câmara negativa para que bicicleta não fique tão brusca.

Durante a apresentação da marca testámos várias opções e, confessamos, também gostámos da posição menos firme, mas com muita compressão, conseguindo que o amortecedor ficasse sensível no início, mas graças à elevada compressão, oferecia maior resistência, estabilizando o seu movimento e dando-lhe um grau de firmeza à pedalada.
Excepto se procuramos algo muito concreto, alguma das três principais posições devem cumprir as expetativas de diferentes tipos de utilizadores.

Para ajustar o amortecedor traseiro temos de esvaziar o ar, comprimindo-o total ou parcialmente e clicar na Bleed Valve. Isto determina o volume da câmara de ar negativa independente e a firmeza inicial desejada. Depois colocamos a pressão adequada (com uma bomba) na câmara principal (pré-carga ou câmara positiva), seguindo as recomendações dadas pela Specialized.
Nas recomendações de afinação do amortecedor RockShox também é referido que pode ser regulada a compressão (azul) e a recuperação (vermelho). Para tal devemos usar uma chave sextavada de 4 mm, dado que os ajustes estão integrados no amortecedor. A sua influência é mínima, notando-se mais nas extremidades.
Qualquer sistema de bloqueio implica fechar o circuito hidráulico de compressão a baixa velocidade. Isto significa mais peças no amortecedor, prejudicando a circulação do óleo, turbulências e acaba também por prejudicar a qualidade e a capacidade de absorção do amortecedor. Este fenómeno é conhecido como Spiking.

A compressão atua globalmente (não distingue se é a alta ou baixa velocidade), o que previne esgotar o curso. A baixa velocidade de compressão, por exemplo numa zona com alguns ressaltos, a bicicleta usa mais o curso, comprime mais. À medida que vai esgotando o curso, depende mais do sistema hidráulico e fica mais dura. Caso esgote o curso e para evitar que seja um processo brusco, tem uma tampa de borracha que absorve o impacto final.
Dado que a nova Epic World Cup tem pouco curso, tende a reagir continuamente, mitingando os ressaltos. Além disso, possui outro anel interno de borracha que evita aquele tradicional barulho metálico quando o amortecedor se estende completamente.

S-WORKS OU PRO
O quadro S-Works completo, pintado e com todos os parafusos e amortecedor RockShox SIDLuxe WCID Ultimate pesa 1.765g. A bicicleta completa no tamanho M, com o novo grupo SRAM XX SL Eagle AXS (com potenciómetro), componentes Roval Control SL (rodas, cockpit e espigão), dois portabidões e suporte para ciclocomputador pesa 9,5 kg reais (pesados na nossa balança), sem pedais. Podem ser montados pneus até 2.35" e prato de até 36 dentes.

A Specialized Epic World Cup está disponível em cinco tamanhos, do XS ao XL. Há dois modelos, o S-Works (com carbono Fact 12M) que custa 11.000 euros e a Pro (em carbono Fact 11M), que custa 7.900 euros. O quadro em separado (com suspensão, amortecedor e espigão) custa 6500 euros.


Poderás saber mais detalhes em specialized.com.