Em 2019, a Venge foi eleita pelos portugueses a bicicleta do ano. Já em 2020 e 2021 foi a vez da Tarmac. Os astros uniram-se e aparentemente os engenheiros da marca ouviram as preces do povo lusitano ao lançar a nova versão da Tarmac, a qual apresenta as características aerodinâmicas da Venge, mas com o refinamento e peso baixo da Tarmac.
O resultado é uma simbiose perfeita que tem tanto de inspirador como de holístico. Tenho acompanhado a evolução desta bicicleta desde que surgiu e já perdi a conta ao número de vezes em que estive nas instalações da Specialized em Morgan Hill, e mesmo nas principais provas do calendário internacional, com os engenheiros da marca, a analisar os dados dos protótipos.
Além do mais, a Specialized pode gabar-se atualmente de duas coisas: é a única marca a possuir um túnel de vento – ferramenta essencial para comprovar eficazmente os ganhos aerodinâmicos – e é das poucas empresas a nível mundial a possuir um conjunto de aplicações, softwares e sistemas gráficos que analisam em tempo real as implicações diretas na configuração dos quadros e dos layouts de carbono. Por exemplo, os engenheiros da marca conseguem saber na hora que consequência terá a adoção de umas escoras 1,5 milímetros mais curtas, ou a nível estrutural se a adoção de um tubo vertical mais fino implicará mais pressão na zona do eixo pedaleiro. Tudo isto possibilita poupar tempo, recursos, dinheiro e maximizar a evolução de um produto. É por isso que a Tarmac foi apresentada em tempo recorde.

O SEGREDO NÃO ESTÁ SÓ NO QUADRO
Mais nenhuma marca no mundo tem acesso ao carbono Fact 12r. Trata-se de um carbono caro, laborioso e muito exclusivo. Se reparares, o design do quadro não difere muito do Tarmac anterior, mas agora os tubos têm todos os pergaminhos aerodinâmicos do Venge, mas sem a tuberia tão afunilada e reforçada. O carbono Fact 12r permite isso, pois além de ser muito leve, é altamente resistente. Como a marca não queria perder a performance que tantas vezes levou Julian Alaphilippe, Peter Sagan, entre outros ao pódio, a genética da Tarmac ficou lá, enraizada no quadro, com uma geometria competitiva, mas sem judiar os que não possuem muita elasticidade.

O peso é aquele que todos esperam de uma Specialized topo de gama: 7 kg no tamanho 56, um valor real, pesado por nós e com a montagem de série (o quadro na versão S-Works pesa 800 gramas). Mas há muito mais por detrás da montagem desta Tarmac que merece ser valorizado. Como por exemplo, o espigão de selim em carbono com formato em D, o qual além do aspeto estético é mais aerodinâmico do que o tradicional em “V” e é mais confortável, além de ter um offset de 20 mm; o cockpit com o guiador Aerofly II – também ele aerodinâmico e com ocultação, juntamente com o avanço, dos cabos –; mas também as rodas, as novas Rapide CLX de perfil diferenciado e com design assimétrico. São umas rodas que me surpreenderam muito pela positiva não só pela suavidade a rolar (o cubo Roval AFD recebe nota dez neste aspeto), como pelo seu comportamento em ventos cruzados e, sobretudo, pela sua polivalência e leveza.

Da lista de periféricos deste modelo, faz também parte a reputada transmissão eletrónica e sem fios Sram Red eTap AXS que na generalidade do teste esteve sempre bem afinada e com a precisão que todos conhecemos (sendo, além disso, personalizável). A transmissão de 12 velocidades baseia-se num rácio 48/35 à frente e 10/33 atrás, a qual chegou para todas as ocasiões em que precisámos, quer em sprint, quer em subidas mais inclinadas e mesmo a rolar em descida. Também tiveram nota muito positiva os travões de disco hidráulicos Red eTap, os quais nunca sobreaqueceram nem se tornaram esponjosos, mesmo após travagens constantes e ininterruptas em descidas longas com temperaturas a rondar os 35 graus.

TECNOLOGIAS QUE FAZEM A DIFERENÇA
Como não podia deixar de ser, a nova Tarmac adota o conceito Rider First Engineered, de modo a garantir a mesma performance qualquer que seja o tamanho escolhido. Esta tecnologia surgiu oficialmente em 2014 quando foi lançada a Tarmac SL5, contudo anos antes já este conceito estava a ser preparado, sobretudo quando a marca teve de fazer dois modelos com as mesmas características para ciclistas de tamanhos diferentes: Paolo Bettini, um ciclista muito baixo (1,69m), e Tom Boonen, muito alto (1,92m).

Outra tecnologia que destacamos e que ajudou muito ao desenvolvimento desta e de futuras bicicletas da marca californiana, é a Free Foil Shape Library, que no fundo é uma biblioteca de formas otimizadas dos quadros. Tudo isto, mas também o conhecimento obtido ao longo dos anos não só pela equipa de engenheiros, mas também do feedback oferecido pelos ciclistas profissionais, permitiu gerar este resultado: uma bicicleta de fácil condução, superleve, reativa, rápida… uma verdadeira puro sangue.

NO TERRENO
Há um velho ditado que diz: Há males que vêm por bem. E não poderia concordar mais. Se não tivesse ocorrido esta pandemia, provavelmente teria ido à Califórnia testar esta bicicleta durante quatro ou cinco dias. Mas felizmente, pude receber esta bicicleta em casa e testá-la durante mais de um mês, em vários locais diferentes.

É muito diferente testar uma determinada bicicleta num país estrangeiro em estradas em que os termos de comparação são diferentes (por não conhecemos bem as vias e os cruzamentos), ou testar a bicicleta em estradas que conheço como a palma das minhas mãos e em que os termos de comparação com outras centenas de bicicletas são dados adquiridos, quer por sentimentos ou sensações, quer por valores reais obtidos através das plataformas de treino.

E não é que não goste de viajar, aliás adoro, mas o resultado é diferente. Esta nova SL7 está claramente entre as bicicletas mais rápidas em que alguma vez andei nos mais de 15 anos que levo a analisar bicicletas um pouco por todo o mundo, e para além da rigidez, leveza e aerodinâmica que são os pilares desta versão, eu acrescentaria o conforto.

Contam-se pelos dedos de uma mão o número de bicicletas que consegue reunir estes quatro pontos num só modelo e esta Tarmac não só consegue, mas mais do que isso, entra diretamente para o pódio. Numa bicicleta deste nível, em que o conforto não era um objetivo tão premente, conseguir chegar a este nível significa atrair um novo leque de consumidores que até agora não atingia: aqueles com uns quilinhos a mais e que achavam as bicicletas topo de gama exageradamente rígidas e com total ausência de conforto.

Além disso, a Specialized encontrou de certa forma um equilíbrio estrutural com este lançamento que terá consequências (para melhor) nas restantes gamas, não só de estrada, mas também de BTT. E as consequências são já visíveis, com a Venge 2021 a deixar de estar disponível como bicicleta completa, sendo só possível comprar o quadro. É todo um novo capítulo que se abriu com este lançamento de uma bicicleta incrivelmente rápida, leve e fiável e que vale a pena ser experimentada. E se és daqueles que não acredita em ganhos marginais, desafiamos-te a experimentar a nova versão e a dar o teu feedback no nosso Facebook. É literalmente uma bicicleta de outro nível.

DETALHES
1 - RODAS
As novas rodas em carbono Roval Rapide CLX combinam a aerodinâmica das CLX 64 com a leveza e a versatilidade das CLX 32. O resultado é um par de rodas com diâmetro e perfil diferenciado, mas com um comportamento uniforme, sendo super ágeis e leves em subida, rápidas e com um manuseamento impecável em retas e são muito fiáveis. São das melhores rodas que podes comprar. A traseira tem 60 mm de perfil, formato em V, cepo HG com mecanismo interno DT Swiss EXP e rolamentos selados. Pesa751g. Por sua vez, a dianteira tem apenas 51 mm de perfil, formato em U (externamente o aro é mais largo) e pesa 649g. Ambas têm garantia vitalícia e são fabricadas à mão.
2 - QUADRO
Embora não aparente, o quadro da Tarmac SL7 é compacto. Com um triângulo traseiro curto e um dianteiro mais comprido do que as versões mais antigas desta bicicleta, obtém-se uma posição de condução mais confortável, mais fácil de manusear. Além disso, a adoção do carbono Fact 12r permite absorver melhor as vibrações e, ao mesmo tempo, conferir a tão desejada rigidez. A distância entre eixos no tamanho 56 é de apenas 991 mm, tendo a forqueta um offset de 44 mm. Deste modo, quer o ciclista mais amador, quer o profissional obtêm uma posição de condução semi-racing, se assim o podemos chamar.
3 - MEDIDOR DE POTÊNCIA
De origem, esta SL7 traz o pedaleiro SRAM Red eTap AXS com medidor de potência. Para o ativar, basta desenroscar a tampa que oculta a pilha (fornecida de origem), a qual contém um pequeno papel vermelho para evitar que a pilha se gaste, retirar esse papel, colocar a pilha novamente e enroscar novamente a tampa. Sugerimos apertar com cuidado para não danificar a rosca. Depois basta emparelhar o medidor de potência com o ciclo-computador compatível e tirar o máximo partido deste aparelho. Mais simples é impossível.
4 - TRAVÕES
Atualmente as grandes marcas estão a adotar o sistema de acoplamento das pinças de travão flat-mount. É um sistema que dispensa adaptadores e é mais eficiente e homogéneo, além de não requerer componentes extra. Esta S-Works traz discos de 160 mm em ambas as rodas, para o máximo poder de travagem. Nota dez para os travões hidráulicos Sram Red eTap AXS.
5 - COCKPIT
O cockpit desta versão que testámos é composto por um avanço Specialized Tarmac S-Works com 100 mm de comprimento, o qual inclui um suporte para ciclo-computador integrado (que pode ser removido) e um guiador em carbono também da própria Specialized: o S-Works Aerofly II, com 420 mm. O seu design é tão aerodinâmico que se assemelha às asas de uma aeronave de combate. Tem uma excelente ergonomia, não é demasiado comprido e o drop tem uma posição natural, sem ser demasiado baixo, apesar de o tubo de direção ter somente 151 mm de comprimento.

FICHA TÉCNICA
- QUADRO
Quadro: S-Works Carbono Fact 12r
Forqueta: Carbono Fact
Tamanhos: 44 a 61
- TRANSMISSÃO
Cranques: Sram Red AXS, 48-35
Desviador F: Sram Red eTap AXS, braze-on
Desviador T: Sram Red eTap AXS, 12 vel.
Manetes: Sram Red eTap AXS
Corrente: Sram CN Red, 12 vel.
- RODAS
Rodas: Roval Rapide CLX (51 mm frente e 60 mm atrás)
Cassete: Sram Red XG-1290, 10-33
Pneus: Specialized Turbo Cotton, 320 TPI, 26 mm
Travões: Sram Red eTap AXS, sistema hidráulico
- COMPONENTES
Guiador: S-Works Aerofly
Avanço: Tarmac, 6º
Espigão: S-Works Tarmac em carbono, offset de 20 mm
Selim: Body Geometry S-Works Power, carbono
- NÚMEROS
Peso total: 7 kg (tamanho 56)
Preço: 11.499€
Distribuidor: Specialized
Web: www.specialized.com
PONTUAÇÃO: 10
Estabilidade: 10
Travagem: 10
Conforto: 10
Cicloturismo: 10
Competição: 10
VEREDITO
Com os pés bem assentes na terra, não tenho dúvidas em afirmar que esta é a Tarmac mais versátil alguma vez construída, a qual inclui tudo aquilo que tanto um profissional bem como um amador pode querer: performance, leveza, rapidez, eficiência e conforto. Não mudaria um único componente nesta bicicleta, pois até os parafusos das grades de bidon e as próprias fitas foram escolhidas a dedo e são de elevadíssima qualidade. O preço não é certamente para todas as carteiras, mas como se costuma dizer: a qualidade paga-se. Além do mais, a gama é extensa e existem modelos mais acessíveis.
BALANÇO FINAL
Existem sentimentos que são difíceis de explicar por palavras e só experimentando a nova Tarmac é possível compreender. É incrivelmente rápida, transmite muita segurança, leveza e facilidade de aceleração. É o tipo de bicicleta nervosa que avança a cada impulso, a cada watt debitado pelas nossas pernas. E se tiveres o que ela pede, não duvidamos que vais bater os teus KOM num instante, pois o que depender dela, está bem patente em cada filamento de carbono. Haja pernas…