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Entende melhor os dados do teu ciclocomputador

Os antigos conta-quilómetros converteram-se em autênticos ciclocomputadores. Graças a eles podemos ver inúmeros dados durante as nossas voltas de bicicleta. Mas nem todos sabemos o que são e para que servem esses dados, por isso neste artigo vamos explicar-te qual é a informação mais útil e como podemos organizá-la.

Jorge Blasco

Entende melhor os dados do teu ciclocomputador
Entende melhor os dados do teu ciclocomputador

Hoje em dia, no nosso guiador, levamos processadores melhores do que os de muitos computadores portáteis. A evolução dos conta-quilómetros que inicialmente precisavam de um íman e que nos proporcionavam dados em termos de velocidade e distância foi gigantesca. Além disso, nesses tempos, os poucos dados que esses aparelhos nos davam ficavam guardados na sua memória interna, e não podiam ser transferidos para nenhum computador. O primeiro grande salto tecnológico foi a incorporação de dados de frequência cardíaca graças às bandas de peito. Os finlandeses da Polar revolucionaram o mercado dos ciclocomputadores e também a metodologia de treino desportivo de resistência. O grande salto seguinte foi a possibilidade de passar os dados para uma conta no computador. Graças a isso, as possibilidades de análise de dados multiplicaram-se. Outras melhorias mais recentes, como a possibilidade de saber em tempo real o desnível e a pendente aumentaram a oferta de dados.

 

Com tantos dados ao nosso alcance, configurar os menús não é uma tarefa nada fácil.

Entretanto surgiram os GPS. Neste caso, foi fundamentalmente a empresa americana Garmin a encarregada dessa expansão. A partir desse momento, passou a ser possível localizarnos num mapa, em qualquer momento. Passámos também a poder desenhar um percurso no computador e transferi-lo para o nosso GPS. No BTT isto foi uma vantagem enorme. A percentagem de voltas de bicicleta que terminavam a carregar a bicicleta aos ombros, a saltar valas ou a dar vinte vezes a volta para trás à procura do caminho certo foi reduzida drasticamente. 

Finalmente, nos últimos anos, alargou-se a utilização dos potenciómetros no treino. Estes dados de potência complementaram os GPS atuais e são uma ferramenta muito poderosa para orientar o nosso treino.

CONFIGURAÇÃO DE PERFIS DIFERENTES

Com todos estes sensores (GPS, pulsómetro, potenciómetro, cadência...) a quantidade de dados que podemos ver durante o andamento é enorme. Aliás, é tão grande que o problema atual é saber organizá-los da melhor forma, para que nos ajudem. Para tal, os ciclocomputadores atuais permitem configurar diferentes perfis de atividade, e dentro de cada perfil diferentes menus de dados. É certo que dependendo do modelo podemos optar por mais ou menos configurações, e dispor de mais ou menos dados, mas em regra todos os modelos novos já nos permitem inúmeras opções. O que pode variar mais é, dependendo do tamanho do ecrã, um limite maior ou menor de campos de dados. Mas são raros os que têm menos de seis. 

treino

Cada biker pode ter preferências particulares quando chega a hora de escolher uns dados em detrimento de outros. Alguns preferem ter sempre presente a pendente, a cadência, a velocidade, etc. Neste artigo vamos centrar-nos no treino e naqueles dados que consideramos imprescindíveis ter no ecrã para fazer corretamente as diferentes sessões de treino. Há sempre margem para colocar mais um dado, nem que seja pelo simples facto de que gostamos de o ter visível. Ou podemos criar um menú de dados extra para aqueles que gostamos de ter à mão sempre que é preciso. Mas, para retirar o máximo partido do nosso treino, os que vamos indicar são mesmo necessários. 

 

treino 2

CONFIGURAR UM PERFIL DE TREINO

Os ecrãs de dados deste perfil devem-nos permitir ter acesso aos nossos dados das sessões de treino, quer sejam mais relaxadas, quer sejam na máxima intensidade. Mas a parte mais importante e úitl é o controlo durante as sessões de intervalos. Vamos considerar que temos um potenciómetro e os dados de potência, embora iremos dar algumas recomendações caso não o tenhas e só possuas um potenciómetro. 

Dentro deste perfil recomendamos configurar 3 ecrãs diferentes. Um geral que diz respeito ao andamento em si, sem fazer séries. Outro ecrã com as séries e que devemos acionar quando começarmos a executá-las, ou para controlar alguns momentos pontuais do treino. E finalmente um ecrã com o resumo para que ao terminar o treino tenhamos uma boa imagem de como decorreu. Este último não é imprescindível, mas ajudará bastante a ter uma ideia global do que este treino implicou. 

Poder configurar os ecrãs de dados é uma ajuda quase imprescindível para as sessões de treino de intervalos.  

ECRÃ GERAL

O ecrã geral deve ser aquele onde temos os dados que nos informam como está a decorrer a sessão, tanto no preciso instante, como na globalidade. 

Tempo Total: é o tempo desde que carregamos no botão START/INICIAR. Também se pode usar o Tempo em Movimento, que apenas conta o tempo em que nos deslocamos. Mas para controlarmos melhor o treino, sobretudo se logo a seguir analisamos os dados no computador, é melhor seguirmos o tempo total, incluindo as paragens.  

Distãncia Total: é a distância que fizemos desde que carregámos no botão START.

Velocidade: a velocidade instantãnea no preciso momento.

Pendente: a percentagem de desnível por onde passamos. Pode ser muito útil para saber que desmultiplicação colocar. 

Frequência Cardíaca: as pulsações por minuto no preciso momento.

Potência: a potência instantânea no preciso momento. Aqui pode-se optar pela potência instantânea ou pela média a cada 3". Como as flutuações de watts são muito grandes, a potência instantânea pode deixar-nos de cabelo em pé. Por isso, a de 3" suaviza os dados e não futua tanto, mas perdemos um pouco de resposta imediata. A opção de colocar a cada 10" ou  a cada 30" é, para nós, demasiado suavizada, dificultando a adaptação rápida de ritmo. Se o nosso aparelho não nos mostra os watts, há dispositivos que permitem ver a VSM (velocidade média de subida, em metros de desnível por hora). 

Potência NP: a potência normalizada desde que carregámos no START/INICIAR. É um dado muito importante para saber a intensidade global acumulada no preciso instante. Se não tivermos acesso aos watts, podemos substituir pela Frequência Cardíaca Média. 

Os ciclocomputadores inteligentes mudaram a nossa forma de treinar.

ECRÃ DE SÉRIES

Este é o ecrã que usaremos ao começar as séries. É fundamental configurá-lo bem para fazer os treinos corretamente. Também pode ajudar-nos quando, durante uma saída normal, queremos ter informação útil de uma secção específica, normalmente uma subida importante. Ou quando de repente se acelera o ritmo e queremos ver em dados quão duro foi.  

Tempo da Volta: é o tempo que decorre desde que carregamos no botão LAP/VOLTA. É fundamental para saber o tempo real da série ou o tempo que levamos a fazer uma determinada subida.  

Potência Média da Volta: é a potência média desde que carregamos no botão LAP/VOLTA. Se tivermos o dado em watts, o importante é conseguir estar dentro do limite marcado para cada série. Este dado indica-nos se cumprimos o que estava previsto. É imprescindível ter este dado para fazer séries por watts e se não temos essa possibilidade podemos usar a velocidade média por volta, sempre que repetirmos o mesmo percurso para as séries.

Potência: a potência instantânea (ou como referimos antes a média de 3”). Para nos guiarmos no ritmo usamos este dado juntamente com o anterior. Requer um pouco de experiência aprender a seguir o ritmo com os watts, por isso é mais simples em subidas com um bom piso. Se não tivermos acesso a watts podemos usar a VSM como referência para as séries em subida. 

Potência NP da Volta: a potência média normalizada desde que carregámos no botão LAP/VOLTA. No caso de ser um percurso irregular durante uma série usaremos esta referência em detrimento da potência média por volta. Mas apenas se a série durar mais de 5´. Se for mais curta, não é representativo e o melhor é usar a média sem normalizar. Também é muito útil para controlar a NP em secções longas durante saídas normais. 

Frequência Cardíaca: embora nos guiemos pelos watts, é interessante ver a evolução do pulso durante a série. Também é útil para ver até onde baixa nas recuperações. 

Cadência: no fundo são as pedaladas por minuto que efetuas. É necessário naquelas séries onde temos um objetivo de cadência determinado.

Cadência Média por Volta: a média de pedaladas por minuto desde que carregámos no botão LAP/VOLTA. Nas séries de cadência o mais importante é que no final este dado esteja dentro do limite de cadência determinado. 

Potência da Última Volta: a potência média da volta prévia à que estamos a fazer. Este dado é muito útil quando se fazem séries curtas, de 30” ou menos. Por serem tão intensas e curtas é normal não olhares durante a série para os watts médios. Desta forma podemos vê-los durante a recuperação.

ECRÃ DE RESUMO

Este ecrã dá-nos a informação que resume a sessão com os dados totais. Isto implica ver, de forma bastante rápida, a carga que o treino implicou. 

Quilojoules: é a energia gerada durante a sessão. Quanta mais energia, mais carga implicou o treino. Com um potenciómetro conseguimos medir de forma direta a energia mecânica que aplicámos na bicicleta. Para gerar essa energia, gastámos outra, a química, que deriva dos nossos músculos. Essa energia química são as calorias gastas. Para as conhecermos temos de passar os quilojoules a calorias. Mas como 1 kj são 1.24 kcal, e a eficiência mecânica do ser humano na bicicleta está entre 21% e 25% (ou seja, de cada caloria gasta, a maior parte perde-se no calor e somente essa percentagem se transforma em movimento) podemos dizer que são equivalentes, e podemos usar a medida de kj como se fossem calorias. 

TSS: o Training Stress Score é a medida de carga creada por A. Coggan. Tem em conta a duração e a intensidade, tomando como referência o FTP ou Limiar Funcional em watts (watts médios máximos durante 1 hora). Tal como os kj, quanto mais altos, mais exigente foi o treino, sobretudo em termos de volume. Para que sejam fiáveis, devemos manter atualizados os dados de FTP.  

IF: o Intensity Factor, ou fator de intensidade, é calculado em base da percentagem do nosso FTP. Ou seja, é como colocar uma percentagem na intensidade do treino. 

Potência Média: a potência média durante todo o treino não é um dado muito significativo, já que a que nos dá a informação na verdade é a NP. Mas ter este dado também é interessante.  

Frequência Cardíaca Média: As pulsações médias de todo o treino.

Velocidade Média: a velocidade média durante todo o treino. Até à chegada dos potenciómetros, esta foi a autêntica "ferramenta" para medir o rendimento alcançado. A limitação fundamental para que seja um dado fiável como reflexo da intensidade é que está muito mediatizado por fatores externos, sobretudo pelo vento, colegas de treino e estado do terreno. No BTT temos a vantagem de que o vento influencia menos do que na estrada, no entanto o estado de forma influencia mais. Em qualquer caso, a velocidade média será sempre um dado interessante e que merece a pena ser controlado.

Desnivel Acumulado: os metros subidos durante todo o treino. É um dado importante porque o desnivel acumulado é um bom indicador da dureza do percurso. 

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