Estivemos em Lourdes (França) onde tivemos a oportunidade de assistir à apresentação oficial da nova versão do grupo eletrónico topo de gama da Shimano, o Dura Ace. Além disso, durante alguns dias testámo-lo e já temos as primeiras conclusões.
Esta apresentação decorreu no sopé dos Pirenéus, e tivemos a oportunidade de pedalar em algumas das estradas e subidas míticas que o pelotão da Volta a França percorreu alguns dias antes deste evento. Mas já lá vamos.

A nova versão do Dura Ace é eletrónica e sem fios (embora não totalmente, pois os desviadores estão conectados por um cabo à bateria oculta dentro do quadro da bicicleta). Tudo no grupo foi concebido com preocupações aerodinâmicas e o seu estilo esguio, futurista, não passa despercebido. Além disso, tudo está pensado para que o cockpit fique sem cabos visíveis, como é a tendência cada vez mais usada. Adota a tecnologia Hyperglide + e a comutação das mudanças é quatro vezes mais rápida. Tanto o novo Dura Ace como o Ultegra – que também foi apresentado – são exclusivamente Di2, ou seja, eletrónicos e nesta nova geração foi elaborada uma nova plataforma, com uma comutação muito fiável, suave e com um design integrado.

A ergonomia das manetes foi melhorada, para uma posição das mãos mais natural e para facilitar o uso de um cockpit mais limpo, sem cabos. E, como não podia deixar de ser, podemos personalizar a funcionalidade das manetes e o comportamento dos desviadores através do E-Tube, algo que já era permitido nas gerações anteriores. Como grande novidade, o medidor de potência foi otimizado e passa a estar integrado de série no pedaleiro.

Embora na nossa opinião o sistema de travagem do grupo Dura Ace – ou mesmo do Ultegra – não precisasse de melhoramento, a verdade é que os engenheiros da Shimano otimizaram-no, quer proporcionando um melhor controlo, quer reduzindo o ruído. E ainda tornaram a manutenção mais fácil.

COMO É QUE O SISTEMA COMUNICA ENTRE SI?
As manetes funcionam alimentadas por pilhas. A comunicação com o desviador traseiro é feita através de um código encriptado sem fios, sendo toda a informação gerida por esse desviador (que possui uma central de gestão de processos) e que numa questão de microssegundos comunica com o desviador dianteiro. Ambos os desviadores estão ligados por um cabo muito fino à bateria que fica alojada dentro do quadro. Quanto ao carregamento, existe unicamente uma porta de entrada localizada no desviador traseiro, isto, é, a bateria passa agora a ser recarregada através do desviador de trás. O cabo específico para carregamento da bateria também pode ser usado para recarregar o medidor de potência existente no cranque. A bateria, para além de alojar as células de energia, também tem um papel primordial na gestão dos modos de sincronização. Isto significa que assegura que o modo de comutação sincronizado e o modo semi-sincronizado estão sempre com energia suficiente fruto do ecossistema desenvolvido pelos engenheiros da marca.

Para tudo isto funcionar devidamente, foi desenvolvido um circuito integrado que torna o sistema seguro, rápido e económico, em termos de consumo de energia. Segundo os dados fornecidos, é quatro vezes mais rápido do que o sistema Zigbee que foi usado pela SRAM e consome menos 75% de energia. Segundo a Shimano, cada carga da bateria dá para percorrer cerca de 1.000 km. Quanto às manetes, as quais são alimentadas por pilhas CR1632, essas pilhas têm uma vida útil estimada entre 1,5 e 2 anos.
O desviador traseiro é, na prática, a unidade de controlo de toda a transmissão. Não só tem o botão de ajuste, como possui um LED que indica a funcionalidade, além de possuir o sistema wireless que comunica com as manetes. Mas há mais. Possui conetividade Ant+ e Blutooth para comunicar com outros aparelhos e ainda aloja a porta de carregamento. Tudo isto no mesmo desviador que agora tem um design mais compacto e integrado.

MANETES MAIS ERGONÓMICAS
Fruto do feedback dos ciclistas profissionais, os botões de cada manete foram deslocados cerca de 1.5 mm para que seja mais fácil comutar as mudanças e, sobretudo conseguir distinguir em qual botão estamos a carregar. Além disso, o acesso aos botões a partir da posição mais aerodinâmica - mãos nos drops – foi melhorado e o repousa mãos da própria manete cresceu uns generosos 4,6 mm, aumentando a amplitude de colocação das mãos. O apoio superior passou a estar localizado mais para o lado interno da bicicleta, para uma posição mais natural.
E como o sistema é wireless, podemos ter um cockpit mais limpo, sem cabos visíveis. A Shimano desenvolveu ainda dois botões minimalistas que podem ser colocados tanto na zona do repousa mãos superior do guiador (são os chamados botões dos trepadores) e na zona dos drops (botões dos sprinters). São de facto muito discretos e fazem toda a diferença pois evitam que tenhamos de mudar a posição das mãos sempre que quisermos colocar outra mudança.

RÁCIO DE MUDANÇAS ALARGADO
Na cassete passam a existir três opções no Dura Ace: 11-28, 11-30 e a nova 11-34. Este sistema de 12 velocidades estará disponível com três opções de cremalheiras: 50-34 (compacto), 52-36 e o novo 54-40. Este 54-40 é sobretudo destinado aos profissionais. Obviamente esta nova transmissão beneficia da tecnologia Hyperglide +, sendo a comutação das mudanças 66% mais rápida e suave.
Há também um dado muito importante em termos de compatibilidade. As cassetes de 12 velocidades são compatíveis com quaisquer rodas existentes de 11 velocidades (mesmo que seja mde outra marca). No entanto, quem comprar as novas rodas Dura Ace com o novo cubo e cepo, convém ter a noção de que não são compatíveis com cassetes de 11 velocidades.
Quanto ao desviador dianteiro, tem um design mais compacto, fino e é mais leve, passando a adotar um link de conexão ao quadro mais resistente. O motor também é mais potente.
O pedaleiro existirá numa versão com medidor de potência integrado com leitura dos dois lados (esquerdo e direito). Este aparelho é impermeável, foi otimizado face à versão anterior e com uma carga é possível percorrer cerca de 300 km. Como referimos anteriormente, para o carregar podemos usar o mesmo cabo adotado para o desviador traseiro (com acoplamento magnético).

TRAVAGEM
A distância entre as pastilhas é maior, para evitar ruídos parasitas, além de que o sistema de travagem foi melhorado em termos de deformação por aquecimento cerca de 66%. O rácio de acionamento da manete de travão também foi alvo de alteração, para maior controlo. O processo de sangramento do sistema hidráulico dos travões de disco foi revisto e não é necessário retirar a pinça do quadro. Como a zona de carregamento é separada da abertura da válvula, todo o processo fica mais fácil.

RODAS
Também foi lançado um novo conjunto de rodas, com aros e perfis totalmente novos. São mais rígidas, aerodinâmicas, leves e o cepo é de nova geração. São também mais largas, para proporcionar mais estabilidade e acomodar pneus de 28 ou 30 mm. A gama é composta por três modelos (C36, C50 e C60), todas elas com aros em fibra de carbono e sistema tubeless. Todas têm a mesma largura interna e externa. As C36 são específicas para terreno montanhoso e destacam-se pelo seu baixo peso, as C50 são as mais neutras, apesar de a Shimano as indicar como rodas para fugas e as C60 são as mais aerodinâmicas, estando catalogadas como rodas para sprinters. O enraiamento é diferenciado: enquanto as C36 e as C50 apostam num sistema standard 1:1, com raios de 1,5mm para a máxima leveza, as C60 têm um cubo frontal diferente e um enraiamento 2:1, além de que os raios são mais grossos (1,8 mm). Em termos de resistência aerodinâmica face aos modelos de rodas atuais, há uma melhoria notória. Há também outro detalhe importante. A rapidez de engate nos linguetes do cepo foi otimizada, o que por sua vez aumentou a rigidez do cubo. Isto traduziu-se em 63% de aumento no caso das novas C50 em comparação com as C40 da geração em vigor. Em termos de peso, as C36 pesam 1338g, as C50 rondam os 1465g e as C60 chegam aos 1609g. Como não podia deixar de ser – por serem rodas de alta competição – existem versões tubulares.

QUANDO É QUE CHEGARÁ AO MERCADO?
É uma boa pergunta, até porque ainda existe alguma escassez de produtos, mas a Shimano assegura que em Setembro já devem estar disponíveis algumas bicicletas montadas tanto com o novo Dura Ace como com o Ultegra e em Outubro deste ano em princípio já será possível comprar estes componentes. Em todo o caso, contacta a tua loja habitual ou o distribuidor nacional (a Sociedade Comercial do Vouga – www.scvouga.pt) para saberes preços e disponibilidade.
UM POUCO DE HISTÓRIA
O grupo topo de gama da Shimano surgiu em 1973. Foi evoluindo ao longo dos anos, usado pelos mais aclamados ciclistas do mundo e o seu design passou por uma metamorfose ao longo de várias gerações. Ao mesmo tempo que ia evoluindo esteticamente e em termos de funcionalidade, passou a ser concebido tendo a aerodinâmica como um dos principais pontos a corrigir. Isso ficou visível na apresentação da versão de 1980. A evolução das tecnologias e da própria modalidade fez com que fossem adotados novos materiais, novas desmultiplicações, tendo o Dura Ace ficado sempre conotado com a alta competição e com as principais provas de Ciclismo do Mundo. A marca japonesa sempre ouviu as dicas e os comentários dos ciclistas profissionais e dos consumidores finais. Com o surgimento do grupo eletrónico da marca em 2009 (DI2), a marca deu um passo em frente, otimizando cada grupo lançado. O resultado deste grupo agora lançado é o acumular de experiência de uma equipa de engenheiros dedicados e com “know how”. Mais nenhuma outra empresa no mundo tem esta sabedoria e esta experiência acumulada.
COMPORTAMENTO GERAL
Só tivemos a oportunidade de testar este grupo durante três dias, no entanto as primeiras impressões foram muito boas. É de facto um grupo leve, esteticamente muito apelativo e com um funcionamento compatível com aquilo que se espera dele. A passagem das mudanças é rápida, silenciosa (mais do que a SRAM, por exemplo) e a travagem está claramente num nível muito elevado. Nas longas descidas que encontrámos em Lourdes, algumas delas com curvas apertadas, foi possível pôr à prova a fiabilidade dos novos travões e nunca dececionaram. Além de que não notámos ruídos parasitas nos discos. As manetes são de facto muito ergonómicas e o tato é homogéneo e ficámos agradavelmente surpreendidos com as rodas pois já não testávamos umas Dura Ace há algum tempo. São muito leves, rígidas quanto baste e rolam muito bem. Certamente iremos testar este grupo em Portugal durante mais tempo, portanto fica atento à nossa revista e a www.mountainbikes.pt.

NOVO ULTEGRA R8100
O Ultegra é o segundo elemento a contar do topo na hierarquia das transmissões de ciclismo da Shimano. Em termos de design segue a mesma filosofia do grupo Dura Ace, por isso é em tudo similar. Contudo, em termos de comutação de mudanças, apenas está disponível com duas cassetes de 12 velocidades: 11-30 e 11-34. Quanto às cremalheiras do pedaleiro, oferece a compacta 50-34 e a mais comum 52-36. O medidor de potência passa também a fazer parte do pack do pedaleiro, com leitura dos dois lados, para chegar a cada vez mais consumidores. Também dispõe de uma gama de rodas de carbono com os mesmos perfis das Dura Ace (ou seja, C36 – 1481g, C50 – 1562g e C60 – 1642g), com o mesmo aerodinamismo, mas com um cepo diferente. Estas rodas apenas chegarão ao mercado na versão tubeless.

PRO LANÇA NOVO GUIADOR
As bicicletas modernas possuem guiadores aerodinâmicos, com múltiplas posições para colocar as mãos. Mas, com o lançamento deste novo Dura Ace, e a possibilidade de colocar botões de comutação das mudanças no repousa mãos superior e nos drops, a PRO teve a brilhante ideia de lançar um cockpit futurista com um design estilizado e que acomoda na perfeição o novo grupo topo de gama da Shimano. Chama-se Vibe Evo e oculta qualquer cablagem que possa existir, bem como os parafusos de aperto ao tubo da forqueta, para um aspeto mais limpo e profissional. É fabricado em carbono T700, pesa 390g, tem um avanço sobredimensionado angular, laterais do guiador com esponja para maior conforto – sendo mais uma zona onde podemos colocar as mãos -, drops com um ângulo otimizado e mais compacto para uma posição mais natural e para não sobrecarregar as mãos, ombros e pescoço e integra um sistema que permite acoplar ciclocomputadores/GPS e outros acessórios. Quanto às versões disponíveis, existem várias larguras (38, 40 e 42 cm) e comprimentos do avanço (105, 115 e 125 mm).

COMPONENTES DO NOVO DURA ACE:
PEDALEIRO FC-R9200
Comprimento dos cranques: 160, 165, 167.5, 170, 172.5, 175, 177.5mm
Combinações possíveis: 50-34, 52-36 e 54-40
Inclui medidor de potência com leitura dos dois lados

CASSETE CS-R9200
Compatível com os novos cepos de 12 velocidades e com os de 11 velocidades
11-28
11-30
11-34

DESVIADOR TRASEIRO RD-R9250
O Led indica:
o estado da bateria
o emparelhamento
os modos de ajuste

DESVIADOR DIANTEIRO FD-R9250
Novo link mais resistente.
Design mais compacto e aerodinâmico
Mais leve

TRAVÕES
Distância entre pastilhas maior (10%).
Deformação derivada do calor reduzida (66%).
Construção numa só peça.
Manutenção facilitada.
Controlo das manetes mais eficiente.

RODAS C36
Sistema tubeless.
Aros em carbono com 36 mm de perfil.
Largura interna de 21 mm e externa de 28 mm.
Peso do par: 1338g (versão tubular pesa 1.153g)
Compatível exclusivamente com cassetes de 12 velocidades.
RODAS C50
Sistema tubeless.
Aros em carbono com 50 mm de perfil.
Largura interna de 21 mm e externa de 28 mm.
Peso do par: 1465g (versão tubular pesa 1.332g).
Compatível exclusivamente com cassetes de 12 velocidades.
RODAS C60
20% mais rígidas lateralmente.
Sistema tubeless.
Aros em carbono com 60 mm de perfil.
Largura interna de 21 mm e externa de 28 mm.
Peso do par: 1609g (versão tubular pesa 1.439g).
Compatível exclusivamente com cassetes de 12 velocidades.