Guia do comprador: Shimano XTR vs. Deore XT Di2

Embora tenham demorado mais tempo a surgir no mercado do que esperávamos, os novos grupos eletrónicos sem fios da Shimano entraram em força na cadeira de retalho. Além disso, permitem uma atualização, ou seja, não precisas de mudar totalmente a tua transmissão. 

Portanto, se estás a pensar comprar uma bicicleta nova de gama média-alta e não sabes que montagem Shimano deves escolher, ou se queres modernizar a tua bicicleta atual que já possui uma transmissão Shimano, mas queres colocar componentes eletrónicos, este artigo é para ti. 

Se pretendes uma resposta rápida, vamos ser diretos: o Deore XT funciona muito bem e é bastante semelhante ao XTR, embora seja bastante mais barato. As diferenças entre ambos residem sobretudo no peso e nos materiais usados. No entanto, sugerimos que continues a ler o artigo, especificamente para saber em concreto quais são as maiores diferenças entre os dois grupos - que são completamente compatíveis entre si, portanto podes montar alguns componentes de um e de outro, para obter a melhor tecnologia Di2 ao menor preço -. 

DESVIADOR

O design do desviador Wireless Di2 do XTR e do Deore XT é muito similar. O XTR tem o chassis ligeiramente mais rebaixado e a placa externa das roldanas é fabricada em carbono, enquanto a interna é de alumínio. No caso do Deore XT, as duas placas são de alumínio. 

Desviador Shimano XTR Di2

Desviador Shimano Deore XT Di2

O desviador XTR é 56g mais leve do que o Deore XT (pesámos as versões de caixa longa). Embora existam várias versões, se queres usar uma cassete 10-51 precisas de um desviador com caixa longa e se optares por uma cassete 9-45, a solução é um de caixa curta. Também há uma versão específica para e-bikes, de caixa longa e alimentada pela bateria da bicicleta. 

Desviador XTR parte traseira

Desviador XT parte traseira

Nas versões normais (sem ser para e-bike), a bateria usada é a mesma tanto no XTR como no XT. Tal como o carregador. 

Quanto ao funcionamento, ambos os desviadores têm o mesmo desempenho e incluem um design recolhido para evitar impactos, bem como um mecanismo de desengate automático quando há uma pancada, absorvendo o impacto e retornando à posição original. Têm roldanas sem furos para evitar que se prendam em algo; mola dupla para uma tensão mais consistente; e até 5 velocidades de deslocamento do desviador, selecionáveis ​​através da app E-Tube Project da Shimano.

Funcionalmente são semelhantes, mas há diferenças subtis em termos de design e materais usados na construção.

Como curiosidade, graças à versão do firmware mais recente, existe uma ligeira diferença entre ambos. No Deore XT, a velocidade de passagem da mudança no último carreto foi reduzida, como uma espécie de mecanismo de proteção. Isto no XTR não acontece. 

Em suma, o desviador XTR, que é mais de 140 euros mais caro do que o Deore XT, basicamente só permite uma poupança de pouco mais de 50g de peso face ao Deore XT. 

CASSETE

Tal como acontece no desviador, também a cassete tem uma diferença considerável em termos de peso e preço. Os dois grupos possuem cassetes 10-51, mas também passa a existir uma nova 9-45, em vez da 10-45. Basicamente esta versão tem uma desmultiplicação maior e destina-se a ser usada com desviadores de caixa curta, reduzindo o peso (70g de poupança no caso da XTR face à cassete 10-51) e a altura livre ao solo do próprio desviador. 

Cassete Shimano XTR

Cassete Shimano Deore XT

Testámos e comparámos a versão 10-51 nos dois grupos e a diferença de peso entre a cassete XTR e a Deore XT é de 90g, embora a diferença de preço seja muito superior (supera os 270 euros). 

A explicação está na construção e nos materiais usados. A cassete XTR tem carretos de aço (4), titânio (5) e alumínio (3) unidos por uma aranha de alumínio, enquanto a Deore XT possui dez carretos em aço e os dois maiores são em alumínio, unidos por uma aranha também em alumínio. 

Cassete Shimano XTR parte traseira

Cassete Shimano Deore XT parte traseira

Em suma, é na cassete que residem mais diferenças, tanto em termos de peso como de preço. Há duas versões, uma 10-51 e outra -45 e a diferença de 90g implica pagar mais 278 euros (se compararmos a XTR com a Deore XT). 

CRANQUES

A Shimano continua a apostar nos cranques ocos em alumínio Hollowtech, com eixo em aço de 24 mm, tanto no XTR como no Deore XT. 

No caso do XTR, há duas versões de cranques, uns de XC que são mais leves e uns de Trail, mais reforçados. Testámos a versão de Trail que tem um eixo mais robusto e um fator Q mais largo (176 mm face aos 168 da versão de XC). A versão de Trail é 70g mais pesada do que a de XC e está disponível em vários comprimentos (de 160 a 175 mm), enquanto na de XC o comprimento começa nos 165 mm. 

Cranques Shimano XTR

No Deore XT só há uma versão de cranque que é similar à de Trail do XTR (tanto em termos de fator Q de 176 mm como de peso). Curiosamente os cranques Deore XT são um pouco mais leves do que os XTR na versão de Trail (cerca de 6g). 

Cranques Shimano Deore XT

Quanto à cremalheira é de fixação direta e o seu design protege-a de eventuais impactos. Além disso, é reforçada.

Esta disponível de 28 a 36 dentes e conta com o design dos dentes Dynamic, que evita quedas da corrente. A cremalheira XTR é 16g mais leve do que a Deore XT (no caso da versão de 32 dentes). 

A versão Trail dos cranques XTR é muito parecida à Deore XT, o mesmo não acontece nas cremalheiras. 

Em suma, para uma utilização em Cross Country os cranques XTR de XC são obviamente mais leves do que os Deore XT e têm um factor Q mais estreito. Os cranques XTR custam o mesmo nas duas versões e são quase 120 euros mais caros do que os XT, por isso o modelo XC do XTR pode valer mais a pena do que o XT devido ao peso mais baixo e ao factor Q, mas o modelo de Trail não tem essas vantagens e acaba por ser mais caro do que o Deore XT. Quanto à cremalheira, o peso mais reduzido (ou seja, 16g), implica pagar mais cerca de 70 euros no XTR face ao Deore XT. 

MANÍPULO DE MUDANÇAS

O novo manípulo de mudanças Di2 destaca-se pela sua elevada ajustabilidade, tanto em termos de ergonomia como de passagem das mudanças. E isto está disponível tanto no XTR como no Deore XT. 

Manípulo Shimano XTR

Manípulo Shimano Deore XT

Em ambos os casos os botões podem ser regulados em todos os ângulos possíveis, permitindo uma personalização sem paralelo no mercado. 

Também podemos consignar o tipo de passagem de mudanças que queremos (subir ou baixar carretos) em qualquer um dos botóes e existe ainda um terceiro botão auxiliar que podemos destinar, por exemplo, a alterar os modos de assistência nas bicicletas elétricas, navegar no menu dos ciclocomputadores, etc. 

A aplicação E-Tube Project permite-nos fazer vários ajustes, como optar pelo modo Multishift (passagem múltipla das mudanças). A passagem das mudanças é audível e basta clicar uma vez para engrenar a mudança desejada. Mas se mantivermos o dedo no botão, entra automaticamente outro carreto. 

Isto acontece tanto no XTR como no Deore XT. 

Mas há uma grande diferença no XTR face ao XT. Ou seja, o comando do XTR possui um pequeno parafuso na parte inferior que permite anular o duplo clic, fazendo com que o manípulo funcione com um só clic. O Deore XT não possui esta funcionalidade.

O tato do comando é muito nítido e podemos evitar o duplo clic se quisermos. E ao longo de todos estes meses a testar estes dois grupos chegámos à conclusão que é quase impossível clicarmos involuntariamente no duplo clic, por isso a vantagem do comando XTR face ao Deore XT não é muito relevante. 

Em suma, o comando XTR tem uma pequena vantagem em termos de ajuste graças ao parafuso que permite escolher o duplo clic ou o clic simples. Ambos os comandos são personalizáveis e essa é uma das principais vantagens face à concorrência. Quanto ao preço, a diferença entre ambos não é muito elevada (no final do artigo mostramos isso mesmo numa tabela). 

TRAVÕES

Os travões XTR e Deore XT também sofreram alterações que vale a pena mencionar. Ambos passam a usar um novo óleo mineral de baixa viscosidade. É importante esclarecer que não é possível misturar este óleo (de cor amarela) com o anterior (de cor mais avermelhada). Esta nova fórmula melhora o tato, a consistência e a estabilidade da temperatura durante a travagem. 

Travões Shimano XTR de quatro pistões.

Obviamente a versão de dois pistões do XTR continua a ser a opção mais leve e a grande novidade - para além do novo óleo - é o novo design da versão de quatro pistões. 

A manete está mais próxima do guiador, o que é ideal em bicicletas com cablagem interna através da direção. Além disso, o design tem um ângulo diferente (5º), fazendo com que as manetes de alumínio sejam mais ergonómicas. 

O pivô também foi reposicionado, estando mais perto do guiador, por isso a manete tem um ângulo mais natural (evitando que os pulsos ou os dedos adotem uma posição pouco confortável). 

Além disso, as manetes possuem tecnologia ServoWave, um mecanismo que multiplica a potência ao acionar o travão e possuem duas regulações: ponto de contato e alcance. 

Ajuste do alcance da manete

Quanto às pinças, possuem dois pares de pistões assimétricos e têm design monobloco. As pastilhas também são novas. Como curiosidade, ressalvamos um aspeto: é possível combinar as novas manetes do modelo de quatro pistões com as pinças de dois pistões. 

Os novos Deore XT - que estão disponíveis em versões de dois ou quatro pistões - também possuem o novo design da manete mais "colada" ao guiador, sendo ao mesmo tempo mais ergonómica e com dupla regulação. 

Basicamente a grande diferença face ao XTR de quatro pistões reside na pinça. A do XTR é fabricada numa só peça enquanto a do Deore XT é fabricada em duas peças. 

Esta alteração implica que os travões Deore XT sejam um pouco mais pesados do que os XTR, mas somente 7g. Em qualquer caso, são bastante leves.

Em suma, se procuras o máximo rendimento e tato no sistema de travagem, a Shimano é a marca de referência. E agora, com este novo óleo e design, está melhor e mais eficiente. As principais diferenças entre o XTR e o Deore XT residem na pinça de duas peças ou monobloco, sendo o XT ligeiramente mais pesado. 

PESOS E PREÇOS

Nesta tabela encontrarás um comparativo entre os preços e pesos, para que possas escolher a melhor opção para ti. Convém esclarecer que estamos a comparar as versões de caixa longa e cassete 10-51, bem como os travões de quatro pistões. 

TERCEIRA OPÇÃO: SHIMANO DEORE

A Shimano também lançou no mercado uma terceira opção sem fios Di2, o Deore. No entanto, só existe uma nova versão do desviador traseiro e um novo manípulo.

O desviador usa a mesma bateria do XTR e do Deore XT e há uma versão específica para bicicletas elétricas, embora não exista a opção de caixa curta. Além disso, as duas placas que alojam as roldanas são fabricadas em aço. Por isso mesmo, é mais pesado do que as outras versões, apesar de ter basicamente as mesmas funcionalidades. Quanto ao manípulo, também tem três botões (dois principais e um auxiliar), embora neste caso os botões não tenham ângulo regulável e não incluam duplo clic. 

A Shimano colocou no mercado kits especiais de upgrade que permitem passar de mudanças mecânicas para eletrónicas tanto no Deore como no Deore XT e XTR. 

O novo Deore vai estar montado de origem em diversas bicicletas que chegarão ao mercado durante as próximas semanas e meses, mas há também uma grande novidade. Há kits de upgrade que permitem transformar uma transmissão Shimano normal numa Di2 sem fios. Esse kit inclui o desviador, o manípulo, a bateria, o carregador, o cabo e um link de corrente. 

Esse kit de upgrade custa 544€ no caso do Deore, 655€ no Deore XT e 847€ no XTR. 

Lembramos que a Shimano é distribuída em Portugal pela Sociedade Comercial do Vouga. Poderás encontrar mais informações em bike.shimano.com.