Pablo Castrillo (Kern Pharma) chegou ao topo da subida a Cuitu Negru no meio da nublina, sabendo de antemão que estava a ganhar uma etapa que vai ficar para a história. Esta façanha cometida pelo espanhol mostrou as suas qualidades de excelente trepador, surpreendendo tudo e todos, atacando e voltando a atacar, como se as suas forças não tivessem fim. Nesta jornada, o líder da prova, Ben O´Connor, voltou a ser atacado, mas o desfecho acabou por ser penalizado pelos Comissários, como explicaremos de seguida.
CASTRILLO PROVA QUE MERECE ESTAR NO WORLDTOUR
O ciclista aragonês atacou no início da subida final (Cuitu Negru), alcançando Vlasov, que estava na dianteira, ultrapassando-o e ganhando a jornada. Lembramos que o espanhol representa a equipa Kern Pharma, do escalão ProTeam e que esta é a sua segunda vitória.
Vlasov cortou a meta a 12 segundos, Sivakov ficou a 31, e Enric Mas e Roglic a 1m04. Carapaz cortou a linha de meta a 1m13, Landa a 1m27 e o líder Ben O´Connor a 1m42, conseguindo manter a camisola vermelha.
Tendo em conta as suas características e os ataques que sofreu, podemos dizer que foi um dia positivo para o australiano, que sofreu muito, mas conseguiu manter com unhas e dentes uma pequena vantagem sobre Roglic. No final da etapa essa vantagem era de 43 segundos, mas depois de os Comissários analisarem bem as imagens, decidiram penalizar Roglic com 20 segundos por ter aproveitado o cone do seu carro de apoio após ter trocado de bicicleta, uma situação desnecessária, dado que o esloveno tinha dois ciclistas que podiam ajudá-lo a reentrar no grupo principal. Foi um verdadeiro amadorismo da equipa Red Bull-BORA-hansgrohe.
UMA ETAPA CURTA, MAS EXTREMAMENTE DURA
A subida a Cuitu Negru não fazia parte do percurso da Volta a Espanha desde 2012 e vários diretores desportivos confessaram à revista Ciclismo a fundo na primeira etapa em Lisboa que esta era a subida que mais temiam de todo o trajeto, sobretudo devido às duras rampas.
A partida da etapa ocorreu em Infiesto, no coração das Astúrias, e logo de seguida o pelotão demonstrou uma atitude combativa, impondo um ritmo brutal logo na primeira hora.
As fugas começaram logo desde o início e existiram alguns cortes no pelotão, mas foi sobretudo a caminho da primeira subida de primeira categoria (Colladiella) que se solidificou a fuga principal.
O australiano Jay Vine foi o primeiro a passar no alto de La Colladiella (6,5 km a 8%) e no Alto de Santo Emiliano (uma subida de terceira categoria com 5,6 km a 4,9%), o que fez com que ficasse empatado em termos pontuais com Van Aert na classificação da montanha.
A corrida estava destroçada, com o pelotão perseguidor fraturado, cansado e desmotivado tendo em conta a dura subida final que se aproximava.
Os únicos que iam tentando a sua sorte a caminho de Pajares eram Pablo Castrillo (Kern Pharma), Pavel Sivakov e Jay Vine (UAE Team Emirates), Vlasov (Red Bull-BORA-Hansgrohe), Kung e Pacher (Groupama-FDJ) e Armirail (Decathlon-AG2R La Mondiale), gregário de O´Connor. Na segunda vez que este grupo subiu a La Colladiella, ainda se mantinha unido, mas a sua perseguição estava neste momento a ser feita com mais vigor pela T-Rex Quick Step de Mikel Landa, cifrando-se a vantagem dos fugitivos em 2m30.
SOFRIMENTO ATÉ AO FIM
As subidas de Puerto de Pajares e Cuitu Negru ditaram um dia de autêntica tortura no rosto dos ciclistas. Mikel Landa tinha dito antes da etapa começar que esta etapa seria um autêntico cenário de guerra, e isso veio mesmo a acontecer. Pouco antes de começar a subida final, Roglic trocou de bicicleta, optando por uma com rodas de perfil baixo, monoprato e uma cassete com desmultiplicação para alta montanha. A mudança de bicicleta até foi rápida e o esloveno tinha dois ciclistas da sua equipa preparados para o ajudar a reentrar no grupo, mas seguiram durante quase um minuto na traseira de um dos seus carros de apoio - quando era desnecessário, dado que os dois ciclistas poderiam perfeitamente ajudar a reentrar sem grandes dificuldades - e essa atitude acabou por ser penalizada pelos comissários em 20 segundos após a etapa.
Na subida de Pajares a fuga foi-se fragmentando e ficou reduzida a Castrillo, Vlasov e Sivakov. No pelotão, os gregários de Mikel Landa deixavam tudo o que tinham para reduzir a diferença temporal, até que a 3 km da meta, Landa atacou, mas não teve forças suficientes para fazer a diferença.
Depois de Pajares, foi a vez de Cuitu Negru, uma subida de categoria especial com 18,9 km a uma média de 7,1% deixaR a sua marca. Trata-se de uma subida asfaltada entre pistas de esqui que é uma tortura física e psicológica devido às rampas que ultrapassam os 20%!
Situada a 1.849 metros de altitude, esta é daquelas subidas em que não existe tática que resulte. É preciso pernas, um coração gigante e muita resistência psicológica (a subida é interminável e animicamente destrutível).
Com três quilómetros verticais pela frente, Castrillo lançou um ataque demolidor que aliou muita força mental e gestão física. O espanhol que vai representar a INEOS Grenadiers a partir do próximo ano ganhou vantagem sobre Vlasov e Sivakov e com a sua pedalada característica, abanando o corpo, foi conseguindo distanciar-se.
Roglic já tinha conseguido deixar O´Connor para trás e adotou uma cadência elevada, para tentar ganhar espaço, mas Enric Mas, um dos seus rivais, não cedia e chegou inclusive a atacar o esloveno.
Nas rampas de 24%, Castrillo sofria tremendamente e Vlasov conseguiu arranjar forças para se aproximar dele, mas depois quebrou bastante, ao contrário de Castrillo.
Na parte final ainda faltava a parte a 20% de inclinação e foi nessa altura que Castrillo aumentou o ritmo duas vezes, fazendo com que Vlasov não conseguisse ir na sua roda. O espanhol acabou por cortar a meta no meio da nublina, tendo a certeza de que tinha feito história. A maior parte das pessoas não sabem, mas Castrillo veio do hóquei no gelo e começou a gostar de ciclismo graças ao seu irmão, Jaime que foi ciclista profissional na Movistar. Esta vitória também foi dedicada a ele.
Está a ser um ano incrível para o aragonês, que começou na equipa Lizarte em 2020. Esta temporada partiu a clavícula na Itzulia, conseguiu recuperar e chegou à Volta a Espanha com o sonho de ganhar uma etapa com a camisola de uma das equipas que participam na Volta a Espanha por convite. E já ganharam duas etapas!
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