Treino

Lactato, um dos teus maiores aliados

A expressão lactato ou ácido lático (não são exatamente a mesma coisa) era vista como um inimigo do ciclista, como um dos limitadores do esforço. Atualmente, sabemos que não é assim e que pode até ser benéfico para o desempenho. Neste artigo perceberás porquê.

Miguel Ángel Sáez

2 minutos

Lactato, um dos teus maiores aliados

O lactato é um subproduto do processo de glicólise, através do qual o nosso organismo obtém energia a partir da glicose. Durante este processo bioquímico, são produzidas substâncias como o ácido lático e, a partir deste, um outro derivado, carregado de iões positivos, que é o lactato. O lactato é, portanto, considerado um produto final da glicólise. Quanto mais energia obtemos da glicose, maior é a ativação da glicólise, maior é a produção de lactato e a acumulação de lactato no sangue, sobretudo quando as necessidades de glicose são tão elevadas que o oxigénio não pode intervir e a glicose é produzida anaerobicamente. 

QUAL É A RELAÇÃO ENTRE O LACTATO E AS DORES NAS PERNAS?

A acumulação de lactato, uma vez que a sua presença aumenta em esforços de intensidade muito elevada, geralmente acima do nosso limiar ou, como conceito semelhante, acima do FTP, foi durante muitos anos associada a dores nas pernas sentidas a estas intensidades. No entanto, a investigação da última década demonstrou que o lactato não é diretamente responsável pela dor ou sensação de peso nas pernas que sentimos em fases muito intensas da pedalada. Este desconforto está associado aos iões de hidrogénio (ião de hidrogénio positivo) libertados pelo ácido lático quando este se transforma em lactato e que acabam por alterar o pH do tecido muscular.

O lactato, enquanto tal, não é responsável pelas dores nas pernas nem pelas limitações de desempenho que provoca, antes pelo contrário. A mesma investigação a que nos referimos descobriu que o lactato pode atuar como um outro substrato energético e, portanto, uma outra via pela qual o ciclista pode obter energia, da mesma forma que a obtém a partir das gorduras ou dos hidratos de carbono.

Esta circunstância muda completamente o papel do lactato, que passa de inimigo a amigo da performance do ciclista, desde que ele trabalhe em intensidades que o produzam e favoreçam a sua utilização. 

QUANTO MAIS LACTATO, MELHOR 

Em ciclistas que competem e, portanto, necessitam de uma importante capacidade de desempenho acima do FTP, é importante que o metabolismo possa gerar altas doses de lactato e, ao mesmo tempo, ser capaz de reutilizá-lo para obter energia. Esta elevada produção de lactato, sintoma de uma elevada ativação da glicólise anaeróbia, é uma boa oportunidade para reutilizar o lactato produzido para contribuir para o aumento da produção de energia. Neste sentido, a função da mitocôndria, a organela celular dentro da qual se desenvolvem os processos de obtenção de ATP, a molécula que liberta energia para o músculo, é fundamental. 

TREINA DEVAGAR PARA PEDALAR RÁPIDO 

Os treinos altamente aeróbicos, baseados em ritmos de 60-70% do FTP ou 65-75% da FC máxima, são os que mais estimulam a geração de novas mitocôndrias e, portanto, os ritmos mais adequados para desenvolvermos a capacidade de reutilizar o lactato que produzimos quando pedalamos a altas intensidades em energia benéfica para o desempenho. Por esta razão, treinar a baixa intensidade é uma forma interessante de conseguires aguentar melhor o esforço. 

Etiquetas:

Relacionados