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João Almeida refere que era impossível ganhar a Volta a Espanha

O ciclista João Almeida (UAE Team Emirates-XRG) esteve no programa Grande Entrevista da RTP e disse que era impossível ganhar a Vuelta. Também deu a sua opiniáo sobre a Volta a Portugal, classificando-a de baixo interesse para as equipas e falou sobre os seus objetivos, além de outros aspetos da sua preparação.

João Almeida refere que era impossível ganhar a Volta a Espanha
João Almeida refere que era impossível ganhar a Volta a Espanha

João Almeida está a descansar alguns dias em Portugal e depois irá participar nos Campeonatos da Europa de Ciclismo, em detrimento dos Mundiais. Aproveitando a sua presença no nosso país, a RTP convidou o jovem ciclista de 27 anos que terminou a Volta a Espanha num honroso segundo lugar, igualando o feito de Joaquim Agostinho na Vuelta de 1974. 

O ciclista das Caldas da Rainha referiu que ficou bastante satisfeito com a segunda posição na classificação geral, salientando que "o primeiro lugar não era possível. Não tenho arrependimentos, acho que dei o meu máximo e não consegui, neste momento, fazer mais".

João Almeida refere que faltou "um bocadinho mais de capacidade física. Fiquei doente na última semana, estava um pouco engripado, o que limitou a minha capacidade física". 

Mostrando bastante maturidade, o ciclista da UAE Emirates-XRG destacou que teve de lidar com a realidade dos factos.

Questionado sobre a preparação para uma prova destas, o luso referiu a experiência e o treino acumulado ao longo de anos, bem como a importância dos estágios constantes em altitude. 

"O truque é a recuperação. É recuperar o máximo dia a dia para chegar o menos fatigado possível ao final". 

Um dos momentos decisivos nesta edição da Volta a Espanha foi sem dúvida a subida ao Angliru, na qual o luso foi o vencedor. Foi nessa jornada que o português se apercebeu que podia lutar pela vitória. 

Na entrevista realizada pelo jornalista Vítor Gonçalves da RTP, um dos temas foi a constante interrupção da prova devido aos protestos dos manifestantes a favor da causa Palestiniana, tendo a etapa final sido suspensa, bem como a cerimónia protocolar oficial. João Almeida fez questão de referir que não é contra as manifestações, desde que sejam feitas de forma correta, mas destaca que neste caso concreto interferiram na corrida e na segurança dos ciclistas.

"Sou um corredor que nunca desiste, muito consistente e bastante forte", disse João Almeida quando foi questionado acerca das suas principais características. 

Naturalmente, João Almeida referiu os constrangimentos da alta competição, como o regime alimentar, os constantes estágios da equipa e o facto de estar muito tempo fora de casa.

"Não sou de extremos (na alimentação). Devemos ouvir o nosso corpo, isso é o mais importante."

Durante as provas, sobretudo as de três semanas, o desgaste é extremo, portanto os ciclistas têm um consumo calórico maior, sendo necessário ingerir mais quantidade do que na rotina de treino diário. O luso explicou esse detalhe. Também foi abordada a importância da ciência no desporto de alta competição - nomeadamente o uso das bandas de frequência cardíaca, medidores de potência, sensores de temperatura corporal e GPS. 

Um dos temas mais importantes da entrevista foi, do nosso ponto de vista, a explicação que João Almeida deu sobre o papel dos seus companheiros de equipa numa prova. Ganha quem conseguir poupar mais energia para o final e ter a ajuda dos colegas é imprescindível, nomeadamente levando comida, água e protegendo do vento.

Um dos maiores mitos que circula nas redes sociais, sobretudo nas páginas de influencers, é que existem muitas rivalidades dentro das equipas, mas o português desmistificou esse panorama.

"Muito raramente (há rivalidades). Todos sabem quem é o mais forte e temos um objetivo como equipa, portanto todos estamos no mesmo barco". 

Naturalmente, as equipas hoje em dia preparam as grandes voltas antecipadamente, reconhecendo as etapas mais importantes de cada prova. João Almeida falou sobre esse assunto.

Apesar de pedalar em sítios magníficos, alguns deles Património da Humanidade, João Almeida confessa que em competição não tem tempo de ver a paisagem, devido ao foco constante e ao stress

Neste momento são quatro os ciclistas portugueses na UAE Team Emirates-XRG. "Como curiosidade, todos estivemos na mesma equipa de júniores e temos uma grande proximidade".

A entrevista também abordou temas como a recuperação. "Fazemos recuperação ativa nos rolos, que é a mais eficaz, e temos bebidas energéticas com proteína e hidratos de carbono, também temos uma bebida com antioxidantes e dormir e comer bem que é o principal."

Perspicaz e sábio, o ciclista das Caldas da Rainha abordou a questão financeira.

"Tem de haver uma gestão inteligente (do dinheiro). Também é importante termos pessoas à nossa volta para tomar decisões corretas. (...) Eu venho de famílias humildes, em que nunca tivemos muito dinheiro, depois comecei a ganhar bastante bem. Sei bem de onde venho e sei dar valor ao dinheiro que tenho... É importante saber investir o nosso dinheiro e gastar nas coisas certas".

Vitor Gonçalves não sabia, mas todos os prémios que os ciclistas recebem são divididos entre os ciclistas da equipa. João Almeida salientou a importância de todos os ciclistas da equipa e a relevância de compensar todos pelo trabalho feito em prol do líder. 

"Um ciclista que disputa grandes voltas e está ao meu nível já tem um bom ordenado".

O tema do doping não foi ignorado. Frontal e direto, o segundo classificado na Volta a Espanha deste ano foi peremptório.

"Acho que hoje em dia temos uma mentalidade muito diferente. Há vigilância diária, posso ser testado das 5h da manhã às 11h da noite todos os dias.".

Como objetivos futuros, uma frase sobressaiu durante toda a entrevista.

"Gostava de ficar no pódio da Volta a França. Acho que é um objetivo alcançável."

Por outro lado, participar na Volta a Portugal não passa claramente pelos seus planos.

"Hoje em dia, a Volta a Portugal internacionalmente não tem grande interesse. De ano para ano tem vindo a diminuir, não dá muitos pontos e as equipas acabam por optar não vir cá, ao contrário da Volta ao Algarve". 

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