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Da floresta ao oceano: à descoberta dos trilhos do Cycl’in Azores

Para quem gosta muito de viajar e de pedalar, tem nos Açores uma excelente oportunidade para ir para fora cá dentro. O Turismo dos Açores, a Associação de Ciclismo dos Açores e a AZ  Pedal são alguns dos nomes por detrás do centro de Santa Maria, onde tivemos a oportunidade e o prazer de descobrir alguns trilhos.

Alexandre Silva. Fotos e vídeo: Pedro Lopes

Da floresta ao oceano: à descoberta dos trilhos do Cycl’in Azores
Da floresta ao oceano: à descoberta dos trilhos do Cycl’in Azores

Foi com agrado que recebemos o convite do Turismo dos Açores e da Associação de Ciclismo dos Açores para uma jornada dupla: participar no Azores Granfondo, na ilha de São Miguel, e cuja reportagem já publicámos (AQUI), e visitar o centro de ciclismo da ilha de S. Maria. A viagem de Lisboa para Santa Maria foi direta e agradável e o processo de chegar e sair do pequeno aeroporto não podia ser mais fácil. O desafio está no exterior, quando precisamos de um táxi e não há. Ou raramente há. E depende das horas! Uma dica é terem um carro alugado.

Ficámos muito bem hospedados no excelente Hotel Colombo e curiosos para, no dia seguinte, ir ver afinal o que é este Cycl’in Azores. 

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O Cycl’in Azores representa a “adaptação açoriana” de um conceito que nasceu em território continental há mais de uma década: o programa Centros Cycl’in Portugal, anteriormente conhecido como Centros de BTT. Criado e coordenado pela Federação Portuguesa de Ciclismo desde 2012, o modelo foi inspirado em experiências francesas dos anos 1990, que visavam facilitar o acesso ao ciclismo de lazer através de infraestruturas permanentes, com percursos sinalizados, níveis de dificuldade normalizados e serviços de apoio técnico.

A partir dessa ideia, surgiria o Cycl’in Azores — com o intuito da valorização e revitalização dos antigos caminhos e vias de comunicação, aumentar as potencialidades turísticas da Região para a prática do cicloturismo e promover a descoberta do território e das suas paisagens naturais, históricas e rurais.

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A origem do projeto resulta de um investimento e de um esforço conjunto que foi essencial, entre o Governo Regional dos Açores, através da através da Direção Regional do Turismo, e em colaboração com a Associação de Ciclismo dos Açores e Federação Portuguesa de Ciclismo. O ponto de viragem deu-se em 2022, durante a Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), onde o Secretário Regional Mário Mota Borges apresentou oficialmente o Cycl’in Azores – Santa Maria, o primeiro centro desta rede. Este marco assinalou o arranque da implementação açoriana do programa, com o propósito de transformar as ilhas num destino de excelência para cicloturismo, abrangendo modalidades como estrada, BTT, gravel e enduro.

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O conceito Cycl’in Azores prevê que cada centro ofereça infraestruturas de apoio permanentes — como zonas de acolhimento, oficinas de manutenção, lavagens, painéis informativos e pontos de descanso — bem como uma rede de pelo menos 100 km de trilhos homologados, classificados segundo quatro níveis de dificuldade (verde, azul, vermelho e preto). No caso de Santa Maria, o centro-piloto foi instalado na Reserva Florestal de Recreio de Valverde, em Vila do Porto, e tornou-se o protótipo técnico e organizativo para futuras expansões às restantes ilhas. 

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Os números do projeto dão uma ideia da sua ambição: seis percursos de BTT/Cross-Country (totalizando cerca de 214 km), quatro de estrada (200 km), quatro rotas de gravel (outros 200 km), uma grande travessia de cerca de 80 km e 12 pistas de Enduro com cerca de 17 km totais. Os trilhos estão devidamente sinalizados e disponíveis em plataformas digitais como o Wikiloc, ou no local, permitindo aos utilizadores descarregar rotas via QR code e seguir a navegação por GPS.

VÊ AQUI O VÍDEO

 

O Centro Cycl’in Azores de Santa Maria é também um exemplo de integração entre desporto e natureza: a base local conjuga-se com equipamentos de lazer e interpretação ambiental — parque infantil, zona de merendas, miradouro e espaços verdes — num esforço conjunto da Secretaria Regional do Ambiente e Alterações Climáticas (via Parque Natural de Santa Maria), dos Serviços Florestais, da associação AZ Pedal e da Câmara Municipal de Vila do Porto. Este ecossistema institucional reflete a intenção de que o projeto vá muito além da vertente desportiva, promovendo o turismo sustentável e o contacto direto com a biodiversidade açoriana.

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No plano técnico, os percursos asseguram a segurança dos praticantes, o respeito por zonas protegidas e a redução do impacto ambiental. Foram também implementadas normas de conduta — como a obrigatoriedade de capacete, o uso apenas de caminhos autorizados e a preservação dos habitats locais — de modo a garantir a sustentabilidade.

Mais do que um simples conjunto de trilhos, o Cycl’in Azores é, hoje, uma ferramenta estratégica de diversificação turística. A aposta no cicloturismo procura prolongar a época alta e atrair um público diferenciado — viajantes ativos que valorizam o exercício físico, a paisagem e o contacto com a natureza. 

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COMO SÃO OS TRILHOS?

Com muita pena nossa, dada a curta estadia e a imensidão de trilhos e estradas para descobrir, tivemos de nos cingir a uma pequena amostra do que esta ilha tem para oferecer. Saímos a pedalar diretamente do hotel com e-bikes de Enduro gentilmente cedidas pelo amigo Fontes e tendo como guia o incansável Hugo Carvalho da AZ Pedal. Começámos pelo alcatrão, passado por Almagreira, e tendo como destino o Pico Alto, o ponto mais alto de Santa Maria e de onde partem 7 dos 12 trilhos de Enduro

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Aí tivemos a oportunidade de tomar contato com a densa vegetação e, ainda que estivéssemos quase em clima de verão, a verdade é que devido à humidade os trilhos estavam longe de estar secos. E com vegetação a crescer quase a olhos vistos, as primeiras descidas foram feitas com atenção redobrada. 

Claro que existem trilhos para todos os níveis de dificuldade e pudemos descer não só em singletracks mais naturais como em trilhos claramente desenhados por riders locais (AZ Pedal) com pequenos saltos e estruturas de madeira para aumentar o grau de diversão. 

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Toda esta zona em redor do Pico Alto é densa e com piso mais ou menos húmido consoante a localização. Só já mais abaixo, e saindo da floresta mais densa, encontrámos zonas mais compactas e secas. 

E por essa razão, entre outras, um dos desafios mais significativos ao nível da manutenção decorre também das alterações climáticas. A maior frequência de fenómenos meteorológicos extremos, nomeadamente chuvas intensas e derrocadas, tem exigido uma presença mais constante das equipas no terreno e a adoção de soluções de engenharia natural de modo a tornar os trilhos mais resilientes e menos vulneráveis a danos estruturais.

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Os percursos estão bem marcados e alguns estão agrupados entre si, o que permite que numa manhã ou tarde possas fazer várias voltas e explorar várias descidas. Mas o melhor é mesmo veres o vídeo!

Foi com pena que não pudemos explorar os trilhos de gravel ou BTT assim como os percursos de estrada (talvez numa próxima viagem), mas para aguçar o apetite podemos dizer que certos percursos atravessam crateras vulcânicas, florestas laurissilvas, lagoas e fajãs, oferecendo experiências que combinam não só a parte do desporto com a contemplação de paisagens a que não estamos habituados. Este equilíbrio entre desafio físico e descoberta natural tem sido uma das razões pelas quais o projeto tem recebido elogios de praticantes e visitantes.

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Agora só falta lá ires. E isso é uma das formas de apoiar este projeto. A sua utilização é gratuita e por isso mesmo a melhor forma de contribuíres para a manutenção e expansão das infraestruturas é precisamente recorrendo a serviços e experiências promovidos por empresas da Região, fortalecendo a economia local e incentivando a sustentabilidade económica deste projeto.

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Neste momento, o projeto está implementado em Santa Maria, funcionando como projeto-piloto para a estruturação da rede regional de cicloturismo. Contudo, no Plano Estratégico de Marketing do Turismo dos Açores pretende-se fazer a expansão faseada do Cycl’in Azores às restantes ilhas do arquipélago, adaptando a abordagem às especificidades territoriais, ambientais e logísticas de cada uma.

Importa sublinhar que em algumas ilhas como São Miguel, Terceira, Pico e Faial, apesar de o projeto ainda não ter sido formalmente implementado, existe já oferta estruturada para a prática de cicloturismo, com iniciativas locais e privadas que complementam o esforço público de promoção de um destino sustentável e ativo.

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Ao longo do seu curto percurso, o Cycl’in Azores tem mostrado que é possível conciliar infraestrutura turística moderna com a preservação dos ecossistemas insulares. O que começou como um projeto experimental apoiado por entidades públicas e pela FPC tornou-se, em poucos anos, uma referência para o turismo ativo no Atlântico. E, se o plano seguir o ritmo previsto, os trilhos que hoje serpenteiam Santa Maria poderão em breve prolongar-se por todas as ilhas dos Açores — um arquipélago inteiro transformado num santuário para quem vive a bicicleta como forma de explorar o mundo. E se isso vier a acontecer, podem ter a certeza que uns dos primeiros a lá ir seremos nós!

DICAS ADICIONAIS

  • Toda a informação sobre os trilhos e o Centro pode ser encontrada em https://turismo.azores.gov.pt/cyclin-azores/
  • Na ilha, além do Hotel Colombo e do Hotel Santa Maria, tens diversos alojamentos disponíveis com preços bastante diversos.
  • Uma altura boa para ir a Santa Maria é no verão, pois além dos trilhos estarem menos húmidos podes explorar as praias e o programa cultural que inclui o festival Santa Maria Blues (meados de Julho), Festival Maré de Agosto (finais de Agosto) e ainda as Festas de 15 de Agosto (em honra de Nossa Senhora da Assunção, padroeira da Vila do Porto).
  • Podes voar diretamente de Lisboa ou com escala se vieres do Porto ou de Faro, mas vê se compensa fazer escala em São Miguel e sempre exploras duas ilhas.
  • Se não quiseres trazer a tua bicicleta, para simplificar a logística, podes alugar uma em: https://santamaria-ebiketours.com.
  • Para encher os “depósitos” a meio do dia, ficas bem servido no restaurante A Moagem, em Almagreira. Senão em Vila do Porto tens mais opções, de onde destacamos o Cantinho da Vila.

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