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TESTE: Trek Top Fuel 9.8 GX AXS Gen 4

A nova versão da Top Fuel está mais leve, eficaz, personalizável e divertida nos trilhos. É o tipo de bicicleta que abrange um espectro de utilização variado, embora seja em Downcountry e Trail que se sente como peixe na água.

Texto e vídeo: Carlos Pinto. Fotos: Pedro Lopes

Testámos a Trek Top Fuel 9.8 GX AXS Gen 4
Testámos a Trek Top Fuel 9.8 GX AXS Gen 4

Desde que a Trek lançou no mercado a espetacular Supercaliber, pouco ou quase nada se falou da Top Fuel. Ambas têm filosofias diferentes e embora há alguns anos a Top Fuel fosse a bicicleta de suspensão total da Trek ideal para Cross Country, desde 2022, quando sofreu uma profunda reestruturação, tudo mudou e passou a enquadrar-se no segmento de Trail ou Downcountry, onde as descidas têm um papel mais vincado.

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A versão de 2025 é mais leve e versátil, graças a um quadro em carbono OCLV de última geração e à possibilidade de ajustar um chip (o Mini Link) em quatro posições, de acordo com o que pretendemos (abordaremos este tema mais adiante). 

Além disso, possui um compartimento no tubo diagonal que permite transportar o kit anti furos e o quadro possui cablagem interna, para uma estética mais apurada. Agora que já vimos como é em termos gerais, vamos aprofundar mais os detalhes.

"DOWNCOUNTRY É O MEU NOME DO MEIO"

Embora tenha 130 mm de curso à frente e 120 mm atrás, a sua cinemática é genial. É o tipo de bicicleta que podemos personalizar e inclusive colocar uma mola helicoidal ou substituir a suspensão e o amortecedor por modelos com mais curso ou rodas mullet. Isto prova que é o "canivete suíço" dos trilhos e que com uma única bicicleta podemos ter o melhor de dois mundos.

E para garantir o isolamento das forças - travagem vs amortecimento - o sistema Active Braking Pivot faz parte desta gama, assegurando eficiência. Tudo isto num pack descomplicado, bem montado, sem links excessivos que acarretem peso ou solicitem manutenção. 

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Devido ao seu curso e geometria, mas também ao peso, é, pelo menos para nós, uma das bicicletas de BTT mais polivalentes da Trek. Tanto podemos usá-la em voltas mais rolantes como em Downcontry e Trail e mesmo num Enduro ligeiro. A Supercaliber é espetacular em XC e Maratonas, mas em Trail e Downcontry não tem nem curso suficiente, nem geometria para lidar com as agruras que geralmente encontramos neste tipo de percursos. 

O que mais surpreende na Top Fuel é a sua agilidade em descida, a velocidade que conseguimos atingir facilmente, serpenteando nos trilhos, por mais agressivos que sejam, tudo isto ajudado por um Reach e um Stack muito bem escolhidos, por um espigão telescópico generoso e na generalidade por uma sensação de segurança proporcionada por todos os componentes.

Esta é a quarta geração de uma bicicleta que, embora pareça discreta, nesta nova "vida", é mais capaz e versátil do que nunca. De certa forma, acompanhou a evolução do BTT e, em particular, o surgimento do Downcountry. Por isso, os tubos são mais estreitos - o quadro é 220g mais leve do que o anterior -, a curva de alavancagem do amortecedor foi otimizada de modo a manter a roda traseira mais perto do chão, em vez de estar sempre a ressaltar, e deste modo otimizamos a tração e não desperdiçamos potência quando estamos a pedalar. 

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Como não podia deixar de ser, vem equipada, tanto à frente como atrás, com rodas de 29 polegadas, que nos permitem passar por cima de raízes e pedras com confiança, independentemente da velocidade.

VÊ AQUI O VÍDEO

 

MONTAGEM FANTÁSTICA

Para além do quadro em carbono OCLV, esta Trek tem tudo para nos ajudar a manter a velocidade elevada, mesmo em subidas, por isso o "ouro negro", como costumamos chamar à fibra de carbono, também está presente em outros componentes, como o fantástico cockpit RSL e as rodas Bontrager Line Comp tubeless.

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A transmissão é a fiável SRAM GX Eagle AXS de 12 velocidades, de funcionamento eletrónico sem fios, com uma generosa cassete 11-52 e uma cremalheira de 30 dentes. É o tipo de transmissão que trepa tudo, incluindo as paredes mais inclinadas. 

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O comando eletrónico AXS Pod - também ele sem fios e alimentado por uma pilha - é muito compacto, está bem protegido em caso de queda e é muito intuitivo Tem dois botões, um que sobe os carretos e outro que desce. Todo o sistema de comunicação da transmissão é encriptado e muito rápido e as mudanças funcionam exemplarmente. 

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Quanto à suspensão e amortecedor, a nossa redação ficou dividida entre um amor platónico e um amor não correspondido. Explicamos... Embora a suspensão dianteira RockShox Pike com mola DebonAir e cartucho Charger 3.1 RC2 seja fantástica em termos de absorção e rigidez proporcionada, até chegarmos à parte melhor (as descidas e zonas técnicas), por vezes temos de subir e quando pedalamos em pé notamos a falta de um bloqueio remoto.

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É como se nos dessem para as mãos um daqueles bifes suculentos e bem temperados, mas se esquecessem de nos dar os talheres para o saborear. Sabemos que o intuito da bicicleta pode não dar relevância a um controlo remoto, mas alguns de nós consideram que seria, sem sombra de dúvida, uma mais-valia.

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Quanto ao amortecedor, trata-se do Deluxe Ultimate RCT, da RockShox. É claramente um dos melhores componentes desta bicicleta devido ao seu comportamento exemplar em qualquer condição. O maior chamariz pode estar no quadro e no cockpit RSL, mas o Deluxe, que podemos configurar ao nosso gosto e reajustar no terreno, é um pequeno "brinquedo" que nos deixa sempre felizes e de sorriso rasgado, de orelha a orelha. Além disso, manualmente podemos rodar uma pequena alavanca no corpo do amortecedor, tornando-o mais menos absorvente, para aqueles segmentos em subida. 

Há mais pormenores nesta Top Fuel que melhoram - e muito - a experiência de utilização, como o espigão telescópico Bontrager com bloqueio no guiador (170 mm de curso), que nos ajuda em zonas técnicas, dando prioridade à manobrabilidade em zonas verticais, ou os travões de quatro pistões SRAM Level Bronze, um modelo apresentado em 2023 e que adota o design Stealth, ou seja, com as mangueiras mais próximas do guiador.

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As pinças e as manetes são em alumínio forjado e adota óleo sintético DOT 4. As manetes têm ajuste de alcance de ativação manual e neste caso (versão de quatro pistões) as pastilhas são orgânicas e o sistema de sangramento é o Bleeding Edge. Não são os travões mais potentes da marca - nesse aspeto os Maven são melhores - mas são fiáveis. 

Quanto aos pneus, os leves Montrose RSL, embora na lateral mencionem a medida 2.4, medem na realidade pouco mais de 2.3. É um pequeno pormenor que não prejudica a condução, mas reparámos por acaso quando medimos com um paquímetro. 

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MINO LINK, O SANTO GRAAL DA TOP FUEL

Sejamos sinceros: a Trek não é a primeira marca a adotar flip chips no seu sistema de amortecimento. Mas este Mino Link tem características diferentes. É possível ajustá-lo em quatro posições, sem termos de adicionar nenhuma peça, o que altera a altura do movimento central e o ângulo da direção.

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Se o link estiver alojado na parte de baixo, o eixo pedaleiro fica numa posição mais baixa e o ângulo de direção fica menos inclinado, o que se vai repercutir na estabilidade, aumentando-a. Se colocarmos o link na parte superior, o eixo pedaleiro fica mais alto - havendo menos probabilidade de bater em obstáculos em zonas técnicas, - e a bicicleta ficará mais ágil. Se o link estiver na parte da direita, a condução da bicicleta ficará mais flexível, enquanto se estiver na esquerda, a consequência será uma curva mais progressiva do sistema de amortecimento, o que na prática significa que o amortecedor ficará mais firme e será mais difícil esgotar o curso. 

ARMAZENAMENTO INTERNO

Há cada vez mais bicicletas com compartimento interno de arrumação de ferramentas e do kit anti-furos. No caso desta Trek, está alojado debaixo do sistema de fixação da grade de bidon no tubo diagonal e abrir/fechar a tampa de acesso é muito fácil.

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Basta rodar para fora a alavanca e, delicadamente, puxar a tampa. No interior, uma bolsa BITS em neoprene tem compartimentos isolados para uma câmara de ar, botija de CO2, adaptador e desmontas. É sem dúvida uma mais valia pois evita termos de levar uma mochila, mas confessamos que não é fácil voltar a colocar a BITS dentro do compartimento com todos os componentes referidos, porque a abertura é apertada. Mas com jeito, lá conseguimos. 

COMPORTAMENTO

Um dos problemas mais comuns nas bicicletas de suspensão total é a influência da travagem no sistema de amortecimento. A Trek resolveu esta situação há alguns anos quando desenvolveu o Active Braking Pivot, garantindo tração e tornando o amortecedor independente das forças externas. Este vídeo explica muito bem em que consiste este sistema:

 

O comportamento da Top Fuel em descida ou em reta é muito bom, graças ao peso contido, mas também ao cockpit leve e avantajado, que proporciona estabilidade em qualquer situação. Além disso, a RockShox assegura que todos os ressaltos são absorvidos e não há ruídos parasita. Debaixo do tubo diagonal, junto ao eixo pedaleiro, a Trek colocou uma proteção num local onde por vezes batemos quando transpomos troncos ou pedras mais volumosas, sendo realmente uma mais-valia.

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Também na escora direita existe uma proteção de borracha que garante que mesmo nas zonas onde há mais trepidação a corrente nunca irá bater no carbono. São pequenos e ao mesmo tempo grandes detalhes. E se no trilho apanharmos uma descida muito técnica e vertical, basta baixar o espigão telescópico e voilà! 

A manobrabilidade é muito alta e é por isso que se sente como peixe na água em ambiente de Downcountry ou Trail. Como tem uns pneus robustos e com muita aderência, não precisamos de travar muito nas curvas e sentimos grande confiança mesmo nas secções de pedra. Estes Montrose foram uma agradável surpresa e não ficam atrás de outros mais consagrados da Maxxis ou da Schwalbe. 

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Até podemos usar esta suspensão total em passeios ou maratonas, desde que não apanhemos muitas subidas que exijam pedalar em pé. Nesse caso, é onde sobressai a ausência de um bloqueio remoto para a suspensão, já que o amortecedor tem um bloqueio no próprio chassi. Ok, poderíamos alterar a compressão da suspensão, mas depois teríamos de reajustar antes das descidas e isso não seria prático.

Em qualquer caso, não temos qualquer dúvida em aconselhar esta bicicleta a muitos dos que acabam por comprar bicicletas de baixo curso. No fundo, vão atrás de bicicletas de suspensão total que são leves - um dos requisitos para essa compra - mas depois acabam por sofrer um pouco na parte mais divertida dos trilhos, as descidas, por terem um curso diminuto. Se queres descobrir a parte mais divertida do BTT, esta Top Fuel é aquilo que procuras. Se queres bater recordes de tempo, preocupas-te com os watts e queres bater os teus rivais nas subidas, aí a Procaliber e a Supercaliber são a melhor opção. 

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OPÇÕES EM CARBONO E ALUMÍNIO

Embora as versões de carbono sejam as que mais atraem os consumidores portugueses, também há versões em alumínio, como a Top Fuel 9 e 5. As versões em alumínio podem ser mais pesadas, mas têm as tecnologias presentes nos modelos mais caros e são bem mais baratas. 

Top Fuel 9.9 XX AXS Gen 4

Top Fuel 9.9 XX AXS Gen 4: 10.239€ (carbono)

Top Fuel 9.9 X0 AXS Gen 4

Top Fuel 9.9 X0 AXS Gen 4: 8.019€ (carbono)

Top Fuel 9.9 XTR Gen 4

Top Fuel 9.9 XTR Gen 4: 6.679€ (carbono)

Top Fuel 9.8 XT Gen 4

Top Fuel 9.8 XT Gen 4: 5.789€ (carbono)

Top Fuel 9 Gen 4

Top Fuel 9 Gen 4: 4.009€ (alumínio)

Top Fuel 5 Gen 4

Top Fuel 5 Gen 4: 2.229€ (alumínio)

Top Fuel Gen 4

Top Fuel Gen 4: 3.559€ (alumínio)

FICHA TÉCNICA TOP FUEL 9.8 GX AXS GEN 4

Quadro: carbono OCLV
Suspensão: RockShox Pike Select +
Amortecedor: RockShox Deluxe Ultimate RCT
Guiador e avanço: cockpit integrado Bontrager RSL Carbon
Rodas: Bontrager Line Comp 30 Tubeless
Pneus: Bontrager Montrose RSL XT 29x2.4
Manípulos: SRAM AXS Pod
Desviador: SRAM GX Eagle AXS
Pedaleiro: SRAM GX Eagle 30 dentes, cranques 170 mm
Eixo pedaleiro: SRAM Dub BSA de rosca
Cassete: SRAM Eagle 10-52
Corrente: SRAM GX Eagle, 12 velocidades
Selim: Bontrager Verse Comp
Espigão: telescópico, Bontrager de 170 mm
Travões: SRAM Level Bronze de 4 pistões
Tamanhos: S, M, ML, L, XL
Peso: 13,21 kg (tamanho XL)
Preço: 5.789€
Distribuidor: Trek Bikes

 

NOTA

Usámos nesta sessão fotográfica o capacete Trek Rally Wavecel, as luvas Fox Racing x Trek Ranger, a camisola Fox Racing x Trek Ranger, os calções com forro Fox Racing x Trek Ranger, as meias Fox Racing x Trek Ranger e os sapatos Trek RSL.

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