Desde que a Trek lançou no mercado a espetacular Supercaliber, pouco ou quase nada se falou da Top Fuel. Ambas têm filosofias diferentes e embora há alguns anos a Top Fuel fosse a bicicleta de suspensão total da Trek ideal para Cross Country, desde 2022, quando sofreu uma profunda reestruturação, tudo mudou e passou a enquadrar-se no segmento de Trail ou Downcountry, onde as descidas têm um papel mais vincado.

A versão de 2025 é mais leve e versátil, graças a um quadro em carbono OCLV de última geração e à possibilidade de ajustar um chip (o Mini Link) em quatro posições, de acordo com o que pretendemos (abordaremos este tema mais adiante).
Além disso, possui um compartimento no tubo diagonal que permite transportar o kit anti furos e o quadro possui cablagem interna, para uma estética mais apurada. Agora que já vimos como é em termos gerais, vamos aprofundar mais os detalhes.
"DOWNCOUNTRY É O MEU NOME DO MEIO"
Embora tenha 130 mm de curso à frente e 120 mm atrás, a sua cinemática é genial. É o tipo de bicicleta que podemos personalizar e inclusive colocar uma mola helicoidal ou substituir a suspensão e o amortecedor por modelos com mais curso ou rodas mullet. Isto prova que é o "canivete suíço" dos trilhos e que com uma única bicicleta podemos ter o melhor de dois mundos.
E para garantir o isolamento das forças - travagem vs amortecimento - o sistema Active Braking Pivot faz parte desta gama, assegurando eficiência. Tudo isto num pack descomplicado, bem montado, sem links excessivos que acarretem peso ou solicitem manutenção.

Devido ao seu curso e geometria, mas também ao peso, é, pelo menos para nós, uma das bicicletas de BTT mais polivalentes da Trek. Tanto podemos usá-la em voltas mais rolantes como em Downcontry e Trail e mesmo num Enduro ligeiro. A Supercaliber é espetacular em XC e Maratonas, mas em Trail e Downcontry não tem nem curso suficiente, nem geometria para lidar com as agruras que geralmente encontramos neste tipo de percursos.
O que mais surpreende na Top Fuel é a sua agilidade em descida, a velocidade que conseguimos atingir facilmente, serpenteando nos trilhos, por mais agressivos que sejam, tudo isto ajudado por um Reach e um Stack muito bem escolhidos, por um espigão telescópico generoso e na generalidade por uma sensação de segurança proporcionada por todos os componentes.
Esta é a quarta geração de uma bicicleta que, embora pareça discreta, nesta nova "vida", é mais capaz e versátil do que nunca. De certa forma, acompanhou a evolução do BTT e, em particular, o surgimento do Downcountry. Por isso, os tubos são mais estreitos - o quadro é 220g mais leve do que o anterior -, a curva de alavancagem do amortecedor foi otimizada de modo a manter a roda traseira mais perto do chão, em vez de estar sempre a ressaltar, e deste modo otimizamos a tração e não desperdiçamos potência quando estamos a pedalar.

Como não podia deixar de ser, vem equipada, tanto à frente como atrás, com rodas de 29 polegadas, que nos permitem passar por cima de raízes e pedras com confiança, independentemente da velocidade.
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MONTAGEM FANTÁSTICA
Para além do quadro em carbono OCLV, esta Trek tem tudo para nos ajudar a manter a velocidade elevada, mesmo em subidas, por isso o "ouro negro", como costumamos chamar à fibra de carbono, também está presente em outros componentes, como o fantástico cockpit RSL e as rodas Bontrager Line Comp tubeless.

A transmissão é a fiável SRAM GX Eagle AXS de 12 velocidades, de funcionamento eletrónico sem fios, com uma generosa cassete 11-52 e uma cremalheira de 30 dentes. É o tipo de transmissão que trepa tudo, incluindo as paredes mais inclinadas.

O comando eletrónico AXS Pod - também ele sem fios e alimentado por uma pilha - é muito compacto, está bem protegido em caso de queda e é muito intuitivo Tem dois botões, um que sobe os carretos e outro que desce. Todo o sistema de comunicação da transmissão é encriptado e muito rápido e as mudanças funcionam exemplarmente.

Quanto à suspensão e amortecedor, a nossa redação ficou dividida entre um amor platónico e um amor não correspondido. Explicamos... Embora a suspensão dianteira RockShox Pike com mola DebonAir e cartucho Charger 3.1 RC2 seja fantástica em termos de absorção e rigidez proporcionada, até chegarmos à parte melhor (as descidas e zonas técnicas), por vezes temos de subir e quando pedalamos em pé notamos a falta de um bloqueio remoto.

É como se nos dessem para as mãos um daqueles bifes suculentos e bem temperados, mas se esquecessem de nos dar os talheres para o saborear. Sabemos que o intuito da bicicleta pode não dar relevância a um controlo remoto, mas alguns de nós consideram que seria, sem sombra de dúvida, uma mais-valia.

Quanto ao amortecedor, trata-se do Deluxe Ultimate RCT, da RockShox. É claramente um dos melhores componentes desta bicicleta devido ao seu comportamento exemplar em qualquer condição. O maior chamariz pode estar no quadro e no cockpit RSL, mas o Deluxe, que podemos configurar ao nosso gosto e reajustar no terreno, é um pequeno "brinquedo" que nos deixa sempre felizes e de sorriso rasgado, de orelha a orelha. Além disso, manualmente podemos rodar uma pequena alavanca no corpo do amortecedor, tornando-o mais menos absorvente, para aqueles segmentos em subida.
Há mais pormenores nesta Top Fuel que melhoram - e muito - a experiência de utilização, como o espigão telescópico Bontrager com bloqueio no guiador (170 mm de curso), que nos ajuda em zonas técnicas, dando prioridade à manobrabilidade em zonas verticais, ou os travões de quatro pistões SRAM Level Bronze, um modelo apresentado em 2023 e que adota o design Stealth, ou seja, com as mangueiras mais próximas do guiador.

As pinças e as manetes são em alumínio forjado e adota óleo sintético DOT 4. As manetes têm ajuste de alcance de ativação manual e neste caso (versão de quatro pistões) as pastilhas são orgânicas e o sistema de sangramento é o Bleeding Edge. Não são os travões mais potentes da marca - nesse aspeto os Maven são melhores - mas são fiáveis.
Quanto aos pneus, os leves Montrose RSL, embora na lateral mencionem a medida 2.4, medem na realidade pouco mais de 2.3. É um pequeno pormenor que não prejudica a condução, mas reparámos por acaso quando medimos com um paquímetro.

MINO LINK, O SANTO GRAAL DA TOP FUEL
Sejamos sinceros: a Trek não é a primeira marca a adotar flip chips no seu sistema de amortecimento. Mas este Mino Link tem características diferentes. É possível ajustá-lo em quatro posições, sem termos de adicionar nenhuma peça, o que altera a altura do movimento central e o ângulo da direção.

Se o link estiver alojado na parte de baixo, o eixo pedaleiro fica numa posição mais baixa e o ângulo de direção fica menos inclinado, o que se vai repercutir na estabilidade, aumentando-a. Se colocarmos o link na parte superior, o eixo pedaleiro fica mais alto - havendo menos probabilidade de bater em obstáculos em zonas técnicas, - e a bicicleta ficará mais ágil. Se o link estiver na parte da direita, a condução da bicicleta ficará mais flexível, enquanto se estiver na esquerda, a consequência será uma curva mais progressiva do sistema de amortecimento, o que na prática significa que o amortecedor ficará mais firme e será mais difícil esgotar o curso.
ARMAZENAMENTO INTERNO
Há cada vez mais bicicletas com compartimento interno de arrumação de ferramentas e do kit anti-furos. No caso desta Trek, está alojado debaixo do sistema de fixação da grade de bidon no tubo diagonal e abrir/fechar a tampa de acesso é muito fácil.

Basta rodar para fora a alavanca e, delicadamente, puxar a tampa. No interior, uma bolsa BITS em neoprene tem compartimentos isolados para uma câmara de ar, botija de CO2, adaptador e desmontas. É sem dúvida uma mais valia pois evita termos de levar uma mochila, mas confessamos que não é fácil voltar a colocar a BITS dentro do compartimento com todos os componentes referidos, porque a abertura é apertada. Mas com jeito, lá conseguimos.
COMPORTAMENTO
Um dos problemas mais comuns nas bicicletas de suspensão total é a influência da travagem no sistema de amortecimento. A Trek resolveu esta situação há alguns anos quando desenvolveu o Active Braking Pivot, garantindo tração e tornando o amortecedor independente das forças externas. Este vídeo explica muito bem em que consiste este sistema:
O comportamento da Top Fuel em descida ou em reta é muito bom, graças ao peso contido, mas também ao cockpit leve e avantajado, que proporciona estabilidade em qualquer situação. Além disso, a RockShox assegura que todos os ressaltos são absorvidos e não há ruídos parasita. Debaixo do tubo diagonal, junto ao eixo pedaleiro, a Trek colocou uma proteção num local onde por vezes batemos quando transpomos troncos ou pedras mais volumosas, sendo realmente uma mais-valia.

Também na escora direita existe uma proteção de borracha que garante que mesmo nas zonas onde há mais trepidação a corrente nunca irá bater no carbono. São pequenos e ao mesmo tempo grandes detalhes. E se no trilho apanharmos uma descida muito técnica e vertical, basta baixar o espigão telescópico e voilà!
A manobrabilidade é muito alta e é por isso que se sente como peixe na água em ambiente de Downcountry ou Trail. Como tem uns pneus robustos e com muita aderência, não precisamos de travar muito nas curvas e sentimos grande confiança mesmo nas secções de pedra. Estes Montrose foram uma agradável surpresa e não ficam atrás de outros mais consagrados da Maxxis ou da Schwalbe.

Até podemos usar esta suspensão total em passeios ou maratonas, desde que não apanhemos muitas subidas que exijam pedalar em pé. Nesse caso, é onde sobressai a ausência de um bloqueio remoto para a suspensão, já que o amortecedor tem um bloqueio no próprio chassi. Ok, poderíamos alterar a compressão da suspensão, mas depois teríamos de reajustar antes das descidas e isso não seria prático.
Em qualquer caso, não temos qualquer dúvida em aconselhar esta bicicleta a muitos dos que acabam por comprar bicicletas de baixo curso. No fundo, vão atrás de bicicletas de suspensão total que são leves - um dos requisitos para essa compra - mas depois acabam por sofrer um pouco na parte mais divertida dos trilhos, as descidas, por terem um curso diminuto. Se queres descobrir a parte mais divertida do BTT, esta Top Fuel é aquilo que procuras. Se queres bater recordes de tempo, preocupas-te com os watts e queres bater os teus rivais nas subidas, aí a Procaliber e a Supercaliber são a melhor opção.

OPÇÕES EM CARBONO E ALUMÍNIO
Embora as versões de carbono sejam as que mais atraem os consumidores portugueses, também há versões em alumínio, como a Top Fuel 9 e 5. As versões em alumínio podem ser mais pesadas, mas têm as tecnologias presentes nos modelos mais caros e são bem mais baratas.
Top Fuel 9.9 XX AXS Gen 4: 10.239€ (carbono)
Top Fuel 9.9 X0 AXS Gen 4: 8.019€ (carbono)
Top Fuel 9.9 XTR Gen 4: 6.679€ (carbono)
Top Fuel 9.8 XT Gen 4: 5.789€ (carbono)
Top Fuel 9 Gen 4: 4.009€ (alumínio)
Top Fuel 5 Gen 4: 2.229€ (alumínio)
Top Fuel Gen 4: 3.559€ (alumínio)
FICHA TÉCNICA TOP FUEL 9.8 GX AXS GEN 4
NOTA
Usámos nesta sessão fotográfica o capacete Trek Rally Wavecel, as luvas Fox Racing x Trek Ranger, a camisola Fox Racing x Trek Ranger, os calções com forro Fox Racing x Trek Ranger, as meias Fox Racing x Trek Ranger e os sapatos Trek RSL.
