A Trek acabou de incorporar no seu catálogo a nova versão elétrica da espetacular Supercaliber, uma bicicleta que, em rigoroso exclusivo nacional, tivemos o privilégio de testar em segredo durante um mês. Chama-se Trek e-Caliber e pertence a uma nova categoria de e-bikes leves, com um peso inferior a 16 kg e com a capacidade real de poder pedalar com o motor desligado ou, inclusivé, sem o motor (como veremos mais à frente). Contudo, a e-Caliber não é uma Supercaliber à qual os engenheiros da marca acoplaram um motor, é muito mais do que isso, é uma bicicleta completamente nova.
A versão que testámos é a Trek e-Caliber 9.9 XTR, montada com Shimano XTR na transmissão e nos travões, e com um peso de 15,77 kg no tamanho M, sem pedais. Para conseguir esta leveza, traz de origem um quadro de fibra de carbono OCLV com o mesmo sistema de amortecimento minimalista IsoStrut da Supercaliber e com um compacto motor Fazua.
A e-Caliber é uma híbrida. Por um lado, a sua utilização oscila entre o XC e o Trail, partilhando o curso traseiro de 60 mm da Trek Supercaliber, com o mesmo sistema de amortecimento IsoStrut e o amortecedor, e a suspensão com bainhas de 34 e 120 mm de curso da Trek Top Fuel. Por outro lado, o seu sistema de propulsão, pode ser atuado com assistência elétrica, ou cem por cento apenas e só com a força das nossas pernas.
O quadro é similar ao da Supercaliber, 100% em fibra de carbono OCLV, com escoras que flectem e com o sistema IsoStrut. Esta é uma das principais inovações da década e o que está à vista não é o próprio amortecedor (o amortecedor está dentro da barra Kashima que está ancorada firmemente pelas suas extremidades ao quadro).
O deslizador (esta extremidade das escoras que rodeia a barra) está conetado ao amortecedor, comprimindo-o no seu deslizamento. Este eixo passante atravessa as 3 peças, o deslizador, o amortecedor e a barra, evitando assim as torções laterais e as possíveis rotações de umas sobre as outras. Mais engenhoso era impossível. O amortecedor Fox tem ajuste de recuperação e comando de bloqueio no guiador, o qual também bloqueia em simultâneo a suspensão.
Uma das chaves do sistema são as escoras achatadas e flexíveis. De lado ficou o sistema ABP entre as escoras superiores e inferiores das suas bicicletas de XC, bem como os links que comprimem o amortecedor. Como resultado, estas escoras, desde a sua posição de repouso até totalmente comprimidas, alcançam um grau de curvatura muito amplo, algo que é visível. Esta flexão permite que a força que o deslizador recebe seja o mais coincidente possível com a direção de compressão do amortecedor, reduzindo as cargas em direções não desejadas.
O sag recomendado para o amortecedor é de entre 22 e 28%, ou seja, entre 13 e 17 mm. Se optarmos por 28% será mais suave e absorvente, mas esgotaremos mais rapidamente o curso. Neste caso, ou se formos um betetista pesado, convém valorizar instalar um dos espaçadores de volume incluídos, para tornar o seu funcionamento mais progressivo.
Usar um espigão telescópico nesta bicicleta é praticamente uma necessidade, porque está desenhada de tal maneira que oferece a confiança suficiente para nos metermos em verdadeiros apuros nas descidas, e nesses momentos é sempre bom poder baixar o selim. Para esta montagem, a Trek optou por um espigão rígido de fibra de carbono OCLV, visando aligeirar o máximo possível.
Se optares por instalar um espigão telescópico mecânico, juntamente com a bicicleta é fornecida uma alavanca extra para um espigão com acionamento por cabo, que poderás colocar no mesmo comando das suspensões. Anexar um espigão com comando exclusivo, como um RockShox Reverb AXS é mais complexo, pois quase não há espaço livre no guiador.
Na imagem podemos ver a curiosa ponte de conexão aparafusada entre as escoras, a qual é removível para colocar o deslizador IsoStrut dentro do triângulo dianteiro.
A direção Knock Block, já habitual na Trek, bloqueia a rotação do guiador e impede que as manetes ou comandos batam contra o quadro.
A pintura deste quadro é espetacular, sobretudo a parte inferior em azul escuro translúcido "Gloss Alpine Navy Smoke", que permite ver as fibras de carbono... A e-Caliber estará disponível no programa de personalização Project One.
As semelhanças com a Supercaliber acabam aqui, pois a geometria difere claramente. A Trek não desenvolveu uma bicicleta elétrica de XC igual à sua bicicleta de competição, simplesmente porque quem procura as sensações proporcionadas por uma bicicleta de XC provavelmente vai escolher uma Supercaliber. A e-Caliber foi desenhada para os fãs das bicicletas elétricas leves e rápidas, sem a habitual faceta pesada e a lentidão típica das bicicletas elétricas convencionais em certas zonas dos trilhos.
O ângulo de direção é de 67,5º face aos 69º da Supercaliber e o quadro também é cerca de 10 a 15 mm mais comprido, dependendo do tamanho, para a dotar de mais estabilidade em alta velocidade. Com o apoio dos 120 mm de curso na dianteira, é uma bicicleta com aptidões em XC e com elevadas capacidades em Trail. Tem reações rápidas, mas com conforto suficiente para rolar durante horas, sendo ao mesmo tempo eficiente e divertida em descidas técnicas.
- Breeze: os LEDs do comando ficam de cor verde e oferece 100w de ajuda.
- River: Os LEDs são de cor azul. Assiste até no máximo 210w.
- Rocket: LEDs de cor vermelha. Supera os mais de 400w de potência.
Além do mais, com o software Toolbox é possível personalizar individualmente os modos de assistência, modificando os parâmetros de potência máxima, a relação da assistência e o Ramp-Up ou aceleração. É muito simples e permite um ajuste muito variado e preciso. Através da app Fazua Rider também é possível fazer diferentes ajustes ou até gravar as voltas que fizemos. O sistema também pode ser emparelhado com outros dispositivos da Garmin, Sigma Sport ou Wahoo.
O pedaleiro praticamente não tem atrito, e isto permite-nos utilizar a e-Caliber sem motor nem bateria, como uma bicicleta normal de 13 kg, com a qual podemos ir onde quisermos. Há um ligeiro som proveniente da engrenagem, mas que curiosamente desaparece quando o motor está colocado.
Já tínhamos referido em outras ocasiões que retirar a bateria a uma bicicleta elétrica é algo um pouco contraditório, mas neste caso, a verdade é que a bicicleta fica tão leve e rola de modo tão suave, que faz todo o sentido em dias nos quais, por exemplo, nos apetece sair e pedalar verdadeiramente, algo que é impensável em e-bikes de mais de 20 kg. Também permite sair num daqueles dias em que te esqueceste de carregar a bateria, ou quando por exemplo acabas sem carga a meio de um trilho, podendo chegar a casa dignamente e pedalando normalmente.
No seu lugar, e para completar a estética da bicicleta e para que não pareça que falta algo, podes montar a box Fazua, que também vem incluída com a e-Caliber, a qual permite levar o kit antifuros, comida, um impermeável ou o que quisermos no seu interior. Apenas como curiosidade, ao retirar a bateria e colocar a box, retiramos 2,75 kg ao peso total.
O carácter da e-Caliber faz lembrar bastante a Trek Top Fuel 9.9 que já testámos. Com o mesmo quadro de fibra de carbono OCLV e a suspensão dianteira com 120 mm, é leve e rápida, mas com uma segurança surpreendente nas descidas. A posição de condução é ligeiramente alongada e baixa, mas não tanto como na sua "prima" sem motor Supercaliber. É a posição ideal para pedalar e rolar a alta velocidade.
Facilmente atingimos os 25 km/h legais de assistência do motor, e a partir daí conseguimos superar esse valor e mantê-lo sem qualquer dificuldade. O motor apaga-se e nem sequer o notamos, aliás o peso e o efeito da gravidade não é tão notório como noutras e-bikes, nas quais parece que estamos colados ao chão. A partir do corte da assistência, a e-Caliber flui, sem fricções, e apenas é ligeiramente audível a engrenagem. Não se trata de uma bicicleta de XC abaixo dos 10 kg, mas apesar dos seus 16 kg (pronta a rolar) é mais rápida do que qualquer outra bicicleta de Trail ou Enduro, simplesmente pela soma da postura de condução, da suspensão e das rodas.
Podes encontrar mais informações acerca da e-Caliber aqui.