De origem Suíça, a BMC pode não ser das marcas mais radicais e alternativas. Mas uma coisa é invegável. Quando se trata de qualidade, inovação e tecnologia, poucas marcas estão neste patamar. Sempre que surge um novo modelo sabemos que vamos ver algo de novo, uma tecnologia, um conceito diferente e que em muitos casos abre caminho a novos standards.
No segmento do gravel, onde tudo isto é importante, há no entanto que apelar também ao lado aventureiro e fora da caixa. E que melhor maneira de o conseguir que usar todo o know how da marca e o misturar com ideias novas, resultando numa bicicleta (ou numa gama) com caraterísticas e capacidades capazes de satisfazer desde o rider mais competitivo ao mais aventureiro sem esquecer o mais recreativo.

BIKEPACKING "ASSISTIDO"
Para apresentar esta renovada gama de bicicletas, a BMC convidou um pequeno grupo de jornalistas especializados para uma apresentação um pouco diferente. Em vez de ficarmos num hotel e darmos voltas de bicicleta num circuito, a marca de Grenchen organizou uma pequena viagem de bikepacking com 4 etapas ao longo de dois dias, pernoitando em pequenas cabanas. Tudo para nos aproximar do espírito por detrás da criação de alguns destes modelos. Só não foi em total autonomia porque não precisámos de ir carregados. Mas foi uma maneira original e muito real de testar estas novas bicicletas num contexto muito próximo do seu conceito.
UniveRSal
Existem URS para todos os gostos: para os mais rápidos, a URS 01 oferece um desempenho mais desportivo dentro do gravel mais hardcore; a URS é uma plataforma mais acessível para os menos exigentes; temos depois a URS LT para os mais aventureiros, com maior capacidade para enfrentar tiradas mais duras; e por fim, apelando aos que precisam de uma “mãozinha”, existe a URS AMP com motor TQ. Recordamos que a BMC conta ainda com a Kaius, uma gravel para competição, para rolar muito rápido em terrenos bem mais fáceis. Aliás, os trilhos que a BMC nos “serviu” nesta apresentação eram, por vezes, dignos de bicicletas de XC de suspensão total. Isto tudo para que os ciclistas mais técnicos pudessem levar estas BMC ao limite. Mas já lá vamos.
ALTERAÇÕES GERAIS
Existem alterações que são transversais aos quatros modelos, como é o caso da geometria. Com um ângulo de direção mais aberto (69.5º), escoras 5mm mais longas, e em combinação com avanços mais curtos e maior reach, confiança e controlo estão agora noutro nível. A distância entre eixos cresceu um pouco em todos os tamanhos e isso reflete-se e bem no comportamento. O ângulo de selim está mais vertical para manter uma boa capacidade de pedalar. Apenas a AMP tem ligeiras diferenças face às restantes para poder acomodar o motor e manter a filosofia base da geometria das restantes versões.

Outras alterações importantes neste segmento prendem-se com a capacidade de carga. Por um lado, a adição de um espaço de armazenamento no tubo diagonal, com acesso através de uma tampa onde também se fixa a grade de bidon. E também a adição de pontos de fixação de bagagem nas pernas da forqueta.

Os modelos com sistema MTT nas escoras também ganharam uma correia que permite transportar pequenos objetos.
Além disso, a largura máxima permitida de pneus aumentou, passando de 42 a 47. Na ponteira temos agora o sistema UDH para montagem direta de desviadores Sram.

As forquetas contam com protetores termo-moldados tipo "bota", e as escoras bem como o tubo diagonal também contam com respetivas proteções. Os quadros estão também preparados para montar espigões telescópicos com cablagem interna.

MAXIMIZAR O CONFORTO
Em termos de “suspensões”, existem três soluções presentes alternadamente em todos os modelos, excepto no URS “base”. Os modelos URS LT, 01 e Amp (a e-bike) contam todos com o sistema MTT atrás; as escoras superiores ativas com os elastómeros que agora oferecem 20 mm de curso em vez dos 10 mm da geração anterior.

Existem três durezas de elastómeros (suave, médio e duro) sendo que nos tamanhos XS a M de origem vem com suave e nos restantes tamanhos com médio. O elastómero duro é para quem quer uma traseira menos confortável ou para quem pesa muito e precisa de compensar. Os elastómeros podem ser adquiridos separadamente.

Na frente, existem duas soluções que visam aumentar o conforto e o controlo. Na URS 01 encontramos o avanço ICS MTT com um sistema de amortecimento integrado que conta com dois elastómeros no seu interior e fornece 20 mm de curso. É o único avanço com suspensão no mercado que permite integração dos cabos. Existem 5 durezas de elastómeros e com eles conseguem-se várias combinações de comportamento, sendo todos eles fornecidos com a compra deste modelo e trocá-los é uma operação simples que se pode fazer no trilho.


Por fim temos a forqueta Hiride com um sistema de mola e cartucho hidráulico que oferece igualmente 20 mm de curso. Consoante o tamanho do quadro pode ser fornecida uma mola suave ou média (tal como os elastómeros nas escoras MTT) e ainda existe uma mola mais dura assim como espaçadores que se podem comprar em separado para ajustar o início do curso através do aumento da pré-carga exercida na mola.

URS "CORE"
O longo dia que tínhamos pela frente estava dividido em três voltas e a primeira bicicleta a ser testada seria a URS base, ou Core como a marca lhe chama. Trata-se do modelo mais simples, sem qualquer tipo de suspensão, destinado a quem não precisa de mais conforto do que aquele que uma bicicleta destas já oferece. Assim que comecei a aquecer ainda no parque de estacionamento, de imediato foi notória a alteração do ângulo de direcção. Os 69.5º combinados com um guiador de estrada tornam a direção um pouco mais lenta. E isso são ótimas notícias, porque isso significa que quando a velocidade aumentar teremos muito mais estabilidade e confiança em trilhos técnicos.

Nessa altura, já ninguém vai querer uma direção rápida e nervosa, que em gravel, aliás, nem faz falta. Arrancámos então em direção à montanha e rapidamente ganhámos ritmo num estradão de gravilha ao longo do rio, apreciando não só a paisagem como o excelente conforto proporcionado pelo selim WTB Silverado, pelos pneus WTB Raddler de 44 mm e pelo quadro sólido e rígido, mas, ao mesmo tempo, meigo na sua configuração de escoras baixas.
Se esta URS fosse minha apenas alterava o guiador por um que tivesse passagem interna ou recuada de cabos para que estes não se notem tanto quando agarramos o guiador e aproveitava para montar umas fitas mais espessas.
Em alta velocidade já começava a ser notória a estabilidade acrescida desta nova geometria. Podia facilmente tirar as mãos do guiador acima dos 30 km/h mesmo em zonas irregulares sem que isso perturbasse a trajetória da bicicleta. Nas descidas mais técnicas e sinuosas, se não fosse o guiador de estrada parecia que estava a descer com uma hardtail de BTT. Afinal de contas, muitas hardtail atualmente no mercado ainda têm este ângulo de direção.
A versão testada, a URS TWO vinha com transmissão Apex AXS combinada com Eagle com cassete 11-50, que permite uma boa amplitude de utilização e com um funcionamento simples, preciso e mais do que suficiente para quem se está a iniciar nestas andanças. Será comercializada por 4499€ e a abrir a gama temos ainda a URS THREE com Apex mecânico por 3799€.

EM BUSCA DE MAIS CONFORTO
Após 3h aos comandos da URS TWO estava na altura de trocar o selim pela cadeira do restaurante e reabastecer para mais uma dose de exploração alpina. As montanhas Jura são o palco ideal para pedalar, oferecendo trilhos mais técnicos e estradões serpenteantes. Depois de um prato de massa, a sobremesa seria a URS 01 ONE, o modelo mais bem equipado de toda a gama que oferece 20 mm de curso em cada roda. Atrás, através dos elastómeros situados no topo das escoras superiores, e na frente graças ao avanço ICS MTT de que já falámos.
E nesta bicicleta tudo está noutro nível. O grupo combinado Red XPLR/XX Eagle oferece outra precisão e um maior poder de travagem. Isto em conjunto com uma geometria a que já estava familiarizado, abriram caminho a umas horas de muito prazer.
Inicialmente fez um pouco de confusão o avanço mexer, fazendo-me lembrar os tempos em que andava com um Girvin… No entanto, o ICS MTT com os seus 20 mm de curso ajuda a retirar muita da trepidação do piso e até alguns impactos maiores. Não tem exatamente o mesmo benefício que a suspensão de 20 mm das versões LT como falarei mais adiante, mas ajuda muito a quem gosta de fazer gravel com mais conforto. Não necessariamente para ir a fundo em maus pisos (mas pode, como aconteceu nesta apresentação), mas para ter mais conforto do que teria com outra bicicleta, independentemente do ritmo. É que ao fim de algumas horas, nota-se bem a diferença.
E já que estamos a falar de MTT, as escoras atrás contam também com esta Micro Travel Technology com 20 mm de curso, que ajudam a anular não só trepidações contínuas como impactos ocasionais. Durante a apresentação, além de sentir na pele (mais propriamente no “traseiro”), conseguia ver o “trabalhar” deste sistema nas bicicletas dos outros jornalistas. Se olharmos para o elastómero conseguimos ver a sua ação. Praticamente conseguimos perceber como é o piso só de olhar para a maneira como o elastómero se comprime com maior ou menor amplitude. É realmente impressionante como um elemento tão pequeno tem um impacto tão positivo no conforto.
Em termos de equipamento, duas notas. Primeiro a questão do guiador e da fita que já referi na URS e aliás se estende a toda a gama. E mais concretamente nesta URS 01, assim como na LT e na AMP, de que falarei a seguir, é de lamentar a montagem de um selim WTB Gravelier. Não só não é tão confortável como o Silverado da URS como é muito largo e "afiado" atrás e incomoda quando queremos passar para trás do selim em descidas mais inclinadas. Mas sobre selins cada um sabe de si!

CASAMENTO LÓGICO
Quando uma marca de topo considera os componentes que instala nas suas bicicletas, muito é tido em consideração. E ao criar uma URS elétrica, a escolha pelo motor TQ é mais do que lógica. É o mais compacto, silencioso e "natural" do mercado. O que oferece um nível de assistência mais que suficiente sem sobrecarregar esteticamente. Nesta URS AMP LT o TQ surge com uma bateria de 360w/h e existe a possibilidade de adicionar um range extender de 160w/h, o que dá uma autonomia bastante grande.

A bicicleta que testei vinha com o extender e portanto comecei com 150% de autonomia. Subimos 12 km, com 650m de acumulado, sempre no "turbo", a uma média de 14 kmh e ainda terminei com 90% de autonomia. Claro que é uma situação extrema, e numa utilização mista de subida e descida a autonomia poderá chegar a 100 km com 1000m de acumulado. A entrega de potência é já nossa conhecida, com suavidade e um silêncio absoluto. Como só rolamos em estrada e a subir, não deu para sentir a AMP na sua totalidade. Esperamos por uma próxima oportunidade.

DIA NOVO, BICICLETA NOVA
Depois de um belo churrasco ao ar livre e dormir numa cabana a ouvir a trovoada, estava na altura de começar o segundo dia de testes com a última das novidades, a URS LT.
Este é o modelo que partilha o quadro com a URS 01 mas, em vez do avanço com suspensão, utiliza a forqueta Hiride com 20 mm de curso. Trata-se de uma forqueta cujas pernas são semelhantes às das suas irmãs, mas na sua coluna de direção conta com um sistema de mola e hidráulico que oferece 20 mm de curso que podem ser bloqueados no topo através de um botão rotativo. Enquanto o avanço com suspensão alivia as mãos, esta suspensão vai mais longe, porque amortece toda a dianteira da bicicleta e isso nota-se bem no comportamento geral. Esta é a bicicleta ideal para os que querem um comportamento mais próximo de uma BTT ou que querem mais conforto e controlo no geral e não se importam com a penalização de peso (a forqueta pesa 1240g).
Mais uma vez fiquei impressionado com a confiança que esta BMC oferece um trilhos que nem são adequados ao conceito. Às vezes, e não fosse o guiador, pensava estar a desfrutar com uma hardtail. Não é uma bicicleta leve, mas rola rápido, e o sistema MTT atrás além de conforto oferece uma tração em subida a que não estamos habituados numa bicicleta de gravel.
Mais uma vez, acabei uma volta grande e, ao relembrar os trilhos que percorremos, fico com a sensação que foi uma saída de BTT. Obviamente a marca levou-nos a estes trilhos não para nos convencer que estas bicicletas podem substituir as BTT, mas sim para mostrar que os limites são bastante além do que julgamos. E para quem quer apenas uma bicicleta de gravel capaz de muito mais mas, acima de tudo, capaz de garantir conforto e confiança a quem não quer ir ao limite, tem aqui 4 excelentes opções.
Em suma, estamos na presença de uma gama de 4 modelos destinados a quem quer levar o gravel mais além, não só em termos de distâncias como de variedade de terrenos e sempre na presença de mais conforto. Aliás, algumas destas configurações aproximam-se de bicicletas destinadas a trekking ou até BTT, tal não é a capacidade extra que têm nas mãos dos mais habilidosos. Mas para a maioria, estas bicicletas, nas suas diferentes configurações, oferecem imensas combinações de comportamento que encaixam perfeitamente num vasto leque de utilizadores. Em nota de resumo, o destaque vai para a qualidade e a atenção ao detalhe que a BMC coloca em todos os seus produtos e ainda para o nível de conforto e estabilidade/confiança que esta geometria oferece.
GAMA
URS 01
-ONE

SRAM RED XPLR AXS/SRAM XX SL Eagle Transmission
11.999€
-THREE

SRAM Force XPLR AXS/SRAM X0 Eagle Transmission
8.499€
-FOUR

SRAM Rival XPLR AXS/SRAM GX Eagle Transmission
5.999€
URS LT
-ONE

SRAM Force XPLR AXS/SRAM X0 Eagle Transmission
MTT Suspension Fork (HiRide, 20mm)
8.999€
-TWO

SRAM Rival XPLR AXS /SRAM GX Eagle Transmission, MTT Suspension Fork (HiRide, 20mm)
6.499€
URS
-TWO

SRAM Apex XPLR AXS/SRAM X1 Eagle AXS
4.499€
-THREE

SRAM Apex 1/SRAM Apex Eagle
3.799€
URS AMP LT
-TWO

Motor TQ HPR50, SRAM Force XPLR AXS / SRAM X0 Eagle Transmission
9.999€