O vento e as mudanças de trajetória, devido às rotundas, foram os grandes inimigos dos ciclistas no contrarrelógio de hoje, uma ligação de 32,2 km entre Vila Real de Santo António e Tavira.
Mesmo assim, a grande maioria optou por usar rodas traseiras lenticulares, embora alguns tenham confessado ter apanhado um ou outro susto.
Como ainda havia muita indefinição na geral (com vários ciclistas separados por um segundo), o contrarrelógio de hoje foi decisivo e só um ciclista completo (bom rolador, bom contrarrelogista e bom trepador) poderá ganhar uma prova como esta.
Ainda por cima o contrarrelógio era longo, o que deixou os puros trepadores em sofrimento e veremos se amanhã não vão pagar a fatura. Quanto ao traçado, tinha empedrado no quilómetro inicial e depois deambulava entre estradas largas e descidas rápidas onde era possível manter uma velocidade muito alta.
Na Volta ao Algarve estão vários especialistas em contrarrelógio - um deles é o Rafael Reis (Glassdrive-Q8-Anicolor) - mas todas as atenções estavam focadas em Remco Evenepoel. Como curiosidade, estivemos junto ao autocarro da equipa do belga e quando o íamos entrevistar ele estava a dormir depois de ter almoçado. Pelos vistos a soneca fez efeito!
O prodígio belga pedalou a uma velocidade média de 51,09 km/h, percorrendo os 32,2 km em 37m49. O bicampeão europeu da especialidade, Stefan Kung (Groupama-FDJ), ficou a 58 segundos e o britânico Ethan Hayter, da INEOS Grenadiers, foi terceiro, a 1m06.
Evenepoel confessou no final: “Estou super, super feliz. Desde o início da semana sabia que este era o dia mais importante para mim. Tentei resguardar-me ao máximo para hoje e penso que tive uma preparação perfeita a pensar no contrarrelógio. Fizemos um bom reconhecimento do contrarrelógio. O vento estava forte, era um pouco perigoso a descer e não arrisquei nada na descida. Estou feliz por ter sobrevivido sem nenhum problema. No plano e na subida dei tudo, sem hesitar, a todo o gás. Acho que hoje foi o meu melhor contrarrelógio de sempre. Não esperava ganhar por tanta diferença. Stefan Küng é um dos melhores do mundo no contrarrelógio”.
Com esta vitória, Evenepoel fica com a camisola amarela que até hoje era envergada por David Gaudu (Groupama-FDJ), o qual foi nono na etapa e ontem já tinha confessado que hoje dificilmente conseguiria manter a liderança.
Rafael Reis esteve durante bastante tempo com o melhor registo. Foi o melhor português na etapa, como já se previa, acabando na 23ª posição, a 3m26 de Evenepoel.
Feitas as contas, o belga parte amanhã - última etapa entre Lagoa e o Alto do Malhão - com 1m6s de diferença para Ethan Hayter, da INEOS-Grenadiers. O terceiro é Brandon McNulty, da UAE Team Emirates, a 1m25s.
A INEOS tudo fará amanhã para tentar roubar a amarela a Evenepoel, mas a subida ao Malhão pode não ser suficiente para colmatar mais de um minuto de diferença. Além do mais, o belga está bem fisicamente.
João Matias continua o líder da montanha, Fabio Jakobsen é o dos pontos e Evenepoel é o líder da geral e da juventude.
Será que Evenepoel repetirá a vitória de 2020?
