Durante várias semanas, muito se falou sobre os principais candidatos à vitória e o nome de Tadej Pogacar foi sempre o mais referido. Mas ninguém fazia ideia de que forma o esloveno iria ganhar. Aquilo que Tadej fez em Zurique converte-o definitivamente numa lenda. Aos 26 anos fez algo que será lembrado certamente durante muitos anos e ainda por cima era o ciclista com mais pressão. Nesta prova de 273 km e 4.400 metros de desnível, deixou sem resposta os seus rivais fazendo um surpreendente ataque a 100 km da meta!
Evenepoel e Van der Poel nem sequer tentaram seguir o esloveno, o qual contou com a ajuda do seu compatriota Jan Tratnik durante muitos quilómetros. Ambos apanharam um grupo que estava em fuga, mas Pogacar não perdeu um único segundo nesse grupo, continuou a atacar, levando Sivakov (seu colega de equipa na UAE), mas a certa altura o russo com nacionalidade francesa não conseguiu acompanhar o ritmo de Tadej e ficou para trás. Os últimos 50 km foram feitos sem companhia e a vantagem oscilava entre 40 segundos e um minuto.
Atrás, Healy e Skujins estiveram em fuga lutando pelas medalhas, mas foram alcançados por Enric Mas, Van der Poel, Evenepeol, Marc Hirschi e Ben O´Connor. Foi precisamente o australiano da Decathlon que acabou por ficar com a medalha de prata, após um ataque a 2 km da meta. Van der Poel perdeu a camisola de campeão do mundo, mas ficou com a medalha de bronze, impondo-se no sprint do grupo perseguidor.
Com esta vitória, Pogacar iguala a façanha (ganhar no mesmo ano o Giro-Tour-Mundial) que Eddy Merckx alcançou em 1974 e Stephen Roche em 1987.
PORTUGUESES EM PROVA COM SORTES (OU AZARES) DIFERENTES
Sabia-se que os 273,9 quilómetros de corrida seriam muito duros, mas as dificuldades de Portugal começaram bem cedo. João Almeida, a aposta da Seleção para um lugar entre os primeiros, sofreu uma queda ainda antes da primeira das oito passagens pela meta.
O desconforto físico provocado pelo impacto com a estrada impediu o português de continuar, o mesmo tendo acontecido a outras vítimas da queda também com ambições, como Mikel Landa, Julian Alaphilippe e Mattias Skjelmose.
Enquanto João Almeida ficava arredado da corrida, os adeptos portugueses animavam-se com a presença de Rui Oliveira numa fuga de seis homens, que comandou a prova até faltarem menos de 100 quilómetros para final, altura em que um ataque do esloveno Tadej Pogačar mudou a configuração da corrida.
Quando o esloveno chegou à frente da corrida, o pelotão foi obrigado a reagir, fazendo-se uma seleção de valores em ritmo acelerado. Nessa altura, Ivo Oliveira perdeu o contacto com o grupo dos mais fortes, onde resistiram Rui Costa e Nelson Oliveira.

Afonso Eulálio acusou a passagem dos quilómetros e, sobretudo, as recuperações que antes fizera devido a dois infortúnios. Primeiro recolou ao pelotão após avaria e mais adiante teve de fazer nova reentrada, após queda.
Com a triagem a continuar a ser feita, Nelson Oliveira era o mais bem colocado à entrada para as duas voltas finais, mas acabaria por sentir-se “vazio” de forças, perdendo posições para terminar em 55.º, a 12m09s de vencedor, Tadej Pogačar, cujo ataque de longe nunca seria neutralizado.
“Como se esperava, foi uma corrida bastante dura. Tentei seguir o grupo da frente o mais possível, mas houve um momento da corrida, já nas duas voltas finais, em que fiquei completamente ‘vazio’. A partir daí foi lutar para terminar a corrida, o que, hoje, já não era fácil”, afirmou Nelson Oliveira.
Rui Costa, acusando a falta de ritmo provocada pela queda na Volta a Espanha, entregou tudo o que tinha, fazendo uma corrida consistente, que o colocou como melhor português, no 42.º lugar, integrado no mesmo grupo de Nelson Oliveira.
“Dei o máximo, mas a condição física não era a melhor. Não estou satisfeito com o resultado... Soube a pouco, porque queremos sempre estar nos lugares cimeiros de um Mundial, mas as pernas hoje não deram mais”, explicou Rui Costa.
Os olímpicos Rui Costa e Nelson Oliveira foram os únicos portugueses a terminar a corrida.
“O resultado não foi aquele que queríamos. As circunstâncias da corrida não permitiram que estivéssemos na discussão, como era o nosso objetivo. O Rui Costa e o Nelson Oliveira voltaram a provar a consistência que todos lhes reconhecemos, apesar de não estarem na máxima condição, o Rui devido à paragem após a queda na Vuelta e o Nelson devido a uma época muito longa e preenchida”, resume o selecionador nacional, José Poeira.
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