Finalmente a Volta a Itália teve ataques no grupo dos favoritos e o primeiro a demonstrar vontade de alterar o rumo da corrida foi precisamente o ciclista português da UAE Team Emirates.
A etapa de hoje foi demolidora, com cerca de 5.000 metros de acumulado de subida, e com quatro subidas duras que antecederam o Monte Bondone. Mais de 200 km, com um ritmo duro desde o início.
Apesar de haver uma fuga com vários ciclistas, os olhares estavam no pelotão onde estavam os favoritos e que se foi fragmentando rapidamente à medida que o ritmo crescia, bem como a altimetria. A Jumbo, a INEOS e a UAE tinham claros interesses e nunca atacaram, tendo como objetivo prioritário deixar para trás o camisola rosa, Bruno Armirail (Groupama-FDJ), algo que inevitavelmente aconteceu, apesar de tentar a todo o custo manter-se na cauda do grupo principal.
Aos poucos, os gregários de luxo iam perdendo o contacto, até que a certa altura, Jay Vine, o último dos gregários de João Almeida encostou e foi aí que o luso decidiu atacar, impondo o seu próprio ritmo. Poucos ciclistas conseguiram aguentar a roda do luso: Geraint Thomas, Primoz Roglic, Kuss, entre outros.
Quando Geraint Thomas se apercebeu que Roglic estava em sofrimento, atacou e só João Almeida seguiu no seu encalce. Kuss continuou a fazer o seu trabalho, rebocando Roglic até ao limite das suas possibilidades. Nos últimos três quilómetros, Thomas e Almeida foram revezando a liderança, enquanto atrás o caos dominava, com Roglic a tentar não perder muito tempo.

Nos 400 metros finais. Thomas parecia encaminhado para uma vitória, mas nos metros finais João Almeida sprintou, ganhando a etapa, seguido do britânico, que passa a liderar a classificação geral. Foi a primeira vitória de João Almeida numa grande volta e a sétima vitória de etapa de um português no Giro, após cinco triunfos de Acácio da Silva (em 1985 e 1989) e Rúben Guerreiro em 2020.

No final da etapa e atrás do camião do pódio, ambos se abraçaram, como sinal de grande desportivismo. Na classificação geral, Geraint lidera, seguido de João Almeida a 18 segundos, Roglic a 29 segundos e Damiano Caruso a 2m50. Se nada acontecer, o pódio será disputado entre Thomas, Almeida e Roglic.
"Esta vitória foi especial, foi um sonho concretizado. Senti-me bem e toda a equipa fez um trabalho extraordinário. No final tanto eu como o Thomas trabalhámos com o objetivo de distanciar o Roglic, mas depois o meu objetivo era ganhar a etapa. Tento melhorar dia a dia para evoluir cada vez mais", disse João Almeida na conferência de imprensa.
"Foi uma etapa muito difícil, com muitas subidas e estou muito contente com o resultado final. Fiquei na frente com o João Almeida e ele foi melhor do que eu no sprint. Não estou surpreendido com ele, é um ciclista muito forte e um forte candidato à camisola rosa", salientou Geraint Thomas.
Lembramos que João Almeida também lidera a classificação da juventude. Por sua vez, a camisola Ciclamino (classificação dos pontos) está na posse de Jonathan Milan (Bahrain Victorious) e a Azzurra (classificação da montanha) é liderada por Ben Healy (EF Education - EasyPost).