A cada ano que passa as suspensões e os amortecedores têm mais regulações e possibilidades de personalização e nesse aspeto não falamos só das de XC, mas também das que entram na categoria Gravity. Saber aproveitar estas características, quer seja para andarmos mais rápido, em segurança ou simplesmente para seguirmos mais confortáveis, significa uma bicicleta muito mais capaz.
Habitualmente encontramos nas nossas suspensões as regulações de pré-carga, recuperação, compressão em baixa (plataforma ou semi-bloqueio) e progressividade, sendo características das gamas mais altas a regulação detalhada da compressão em baixa e em alta velocidade, ou a recuperação em alta do amortecedor.
CONCEITOS
Primeiro, vamos explicar o que é que significa a pré-carga, a recuperação, a compressão e a progressividade. A pré-carga é a pressão do ar ou a tensão da mola quando a suspensão está na sua máxima extensão, e é facilmente modificável no caso do ar pois basta usar uma bomba de alta pressão ou através de uma rosca ou dial no caso dos amortecedores a mola. A recuperação visa, através de um circuito hidráulico, controlar a velocidade de extensão da suspensão ao ser descomprimida, enquanto a compressão é a resistência hidráulica que existe quando a suspensão está a ser comprimida. Finalmente, quando se fala de progressividade, implica um endurecimento sensível da suspensão na parte final do curso. Quanto às palavras alto e baixa indicam a velocidade de compressão ou de recuperação. Assim, a compressão em alta diz respeito ao circuito hidráulico percorrido pelo óleo quando a suspensáo é comprimida em impactos fortes e repentinos.
>Câmara de ar em amortecedores e suspensões: com o objetivo de conseguir uma boa sensibilidade e com maior apoio na parte central do curso podem ser utilizadas duas câmaras de ar, uma positiva e uma negativa. A positiva é a principal, a que sustenta o nosso peso e sobre a qual variamos a pré-carga. Esta mesma câmara propicia a recuperação do amortecedor, enquanto a negativa reage à positiva (funciona em sentido inverso, tentando comprimir o amortecedor) quando este está praticamente extendido. Os modelos mais recentes ampliaram o tamanho da câmara negativa com o objetivo de melhorar a sensibilidade na parte inicial do curso enquanto favorece o apoio na parte central do mesmo.
Com o objetivo de aumentar a progressividade, tanto as suspensões como os amortecedores de gama alta permitem introduzir espaçadores ou tokens que reduzem o tamanho da câmara principal. Costumam ser bastante simples de instalar e personalizam amplamente a suspensão.
CONTROLAR O FLUXO
Nos seguintes pontos descrevemos os circuitos hidráulicos dos amortecedores. Devemos esclarecer que são descrições simples com o objetivo de facilitar a sua compreensão.
COMPRESSÃO EM ALTA E BAIXA: Os ajustes da compressão habitualmente são identificados por comandos de cor azul. Neste exemplo, o rotor azul de compressão oferece três posições de passagem do óleo: aberto, médio e firme ou bloqueio. Na parte central do rotor azul encontramos o botão de ajuste da compressão em baixa, que regula o ajuste na posição aberta. Graças a esta regulação desfrutamos de uma suspensão mais sensível (a compressão em alta encontra-se aberta), mas controlada para evitar o afundamento excessivo em travagens ou apoios em curvas.
RECUPERAÇÃO EM BAIXA VELOCIDADE:
Aqui trata-se de controlar a extensão da suspensão com o objetivo de evitar a instabilidade que produziría uma recuperação demasiado brusca. Podemos imaginar a recuperação como uma bola de ténis, cheia de ar como a maioria das nossas suspensões, acumulando energia durante o impacto para depois devolvê-la em forma de recuperação. O circuito de recuperação visa reduzir a energia de recuperação. No caso de também existir uma recuperação em alta velocidade, a de baixa encarrega-se de controlar a suspensão quando se extende relativamente rápido, algo que acontece nos últimos milímetros de extensão quando a força exercida pelo ar (em pressão ou mola) é baixa, ou porque o nosso peso compensa a força e gere essa recuperação. Está presente e é regulável em todas as suspensões, exceto nas de gama muito baixa.
A sua intenção é permitir a recuperação do amortecedor suficientemente rápido de modo a que o curso esteja disponível antes do obstáculo seguinte, mas evitando um empurrão excessivo que nos faça perder o controlo. Uma recuperação muito fechada endurece a suspensão pois esta trabalha comprimida e com uma recuperação excessivamemnte aberta a bicicleta fica instável pois oscila em demasia.
Isto consegue-se habitualmente circulando o óleo através de uma abertura de tamanho fixo, podendo torná-la maior (aberta) ou mais mais pequena (fechada) através do rotor de recuperação.
1. Sem tokens: Partindo de uma pressão de 100 psi, quando comprimimos a suspensão 2" (5,08 cm), a pressão dentro da câmara principal alcança 180 psi.
2. Com os dois tokens: Ajustando a pressão da câmara principal a 100 psi (para obter um sag similar), quando comprimimos a suspensão 2" a pressão sobe até aos 260 psi, fazendo com que seja muito mais difícil esgotar o curso na totalidade. Isto acontece porque a relação entre o volume inicial e o volume final é maior neste segundo caso. Em nenhum caso os tokens limitam o curso já que o piston se detem antes de tocar neles.
RECUPERAÇÃO EM ALTA VELOCIDADE
A recuperação em alta velocidade nasce com o objetivo de permitir uma recuperação mais rápida da suspensão quando a roda não está em contacto com o solo e existe pouca pressão sobre ela, ou está muito comprimida e o ar ou mola faz mais força. Ao recuperar mais rápido dispõe de mais curso para enfrentar o impacto seguinte.
Por exemplo, ao superar umas escadas e não ter peso na roda dianteira, uma extensão rápida favorece que esteja preparada para o seguinte impacto, mas em contrapartida não afeta negativamente a estabilidade da bicicleta pois nesse momento o peso do ciclista não se encontra nessa roda.
Isto é conseguido através de válvulas sensíveis às oscilações de pedalada quando se encontra bastante fechada e não poderiam existir sem a existência das compressões em alta ou válvulas sensíveis à velocidade. Evitam o afundamento excessivo, permitem ao ciclista "empurrar" a biccleta contra o solo para procurar aderência e em rampas permitem saltar mais se o rider assim o desejar.
A forma de conseguir o controlo de compressão em baixa é similar à recuperação em baixa, uma passagem de óleo regulável através de um botão ou rotor.
Para a sua regulação procura-se um compromisso entre controlo em curvas evitando oscilações ao apoiar o nosso peso (aquí fecharíamos mais) e falta de absorção em impactos (neste caso abriríamos para conseguir mais absorção).
Este sistema tem uma limitação quando a compressão se realiza rapidamente, por exemplo com grandes obstáculos ou em impactos a grande velocidade, pois a força realizada pelo óleo ao passar pela válvula é proporcional à velocidade do óleo ao quadrado, o que significa que se produz uma resistência ao ser comprimida lentamente. Ao ser comprimida rapidamente a resistência será muito maior, reduzindo drasticamente a absorção.
Circuito de recuperação: em função do caudal de óleo, a válvula abre-se quanto mais generoso este for, permitindo uma recuperação mais rápida e pronta para enfrentar o obstáculo seguinte. A imagem de cima mostra uma recuperação excessivamente lenta, enquanto a segunda está bem regulada, oferecendo mais estabilidade.
COMPRESSÃO EM ALTA
A compressão em alta consiste numa válvula sensível à velocidade de compressão ou, dito de outra forma, um buraco que se abre quanto mais óleo passar. Tem várias funções, a primeira e mais notável é permitir à compressão em baixa funcionar com impactos e oscilações de pouca envergadura. No entanto, uma vez aberta, pode ajudar à absorção, pois ainda resta energia aos impactos em vez de acumulá-la no ar ou na mola, e no caso de ser um bom modelo, a mencionada absorção ou dissipação de energia produz-se a velocidades médias e altas. Um bom exemplo é o amortecedor Fox X2, que dispõe de duas válvulas de compressão em alta, uma regulável e outra no piston principal para grandes impactos.
Em alguns casos, a compressão em alta pode-se regular a partir do exterior do amortecedor modificando a sua reação, ficando mais branda se nos impactos grandes o amortecedor não absorve e mais dura se o amortecedor afunda excessivamente criando ineficiência na condução. A sua regulação deve fazer-se por sensações pois quando estamos parados, atuando com o nosso peso em cima da suspensão, não somos capazes de simular grandes impactos. No caso de estar mais aberta obtem-se uma suspensão mais ativa, mas menos estável e se estiver muito fechada, a bicicleta ao atingir velocidades muito elevadas ficará dura, chegando a recuperar em impactos fortes ou muito seguidos, e não utilizará o curso nos impactos mais duros, mas em contrapartida esgotará nos menos duros e prolongados.
O benefício de uma compressão em alta bem regulada é que além de permitir a compressão em baixa funcionar, produz estabilidade na condução, movendo-se menos na bicicleta e circulando mais rápido. A sua regulação depende muito dos usos e gostos de cada um. Em regra, um utilizador convencional procura conforto, enquanto um atleta procura mais rigidez e estabilidade.