A forma como as marcas valorizam a comunicação mudou muito nos últimos anos e isso é bem visível nas novas estratégias de Marketing. Se até há pouco tempo um atleta profissional com uma grande experiência sempre foi considerado um ativo importante, hoje em dia esses protagonistas estão a perder espaço para aquilo que o Marketing chama de "Influencers", quer seja através dos seus canais de YouTube, quer através das suas redes sociais. Há quem seja as duas coisas atualmente, ou seja, inluencer e atleta profissional, pois um atleta de elite não deixa de influenciar muitos seguidores.

Tinker Juarez foi um grande atleta, mas também uma grande pessoa. Sempre simpático, foi dos primeiros atletas a ter fãs um pouco por todo o mundo e a mostrar que a modalidade era mais polivalente e recetiva do que aquilo que se pensava.
Mas aqui a questão da separação de Juarez da Cannondale pode centrar-se precisamente na relevância que estes atletas têm na atualidade. Ex-atletas como Tinker, Absalon, Nicolas Vouilloz, entre outros têm sido quase relegados para segundo ou terceiro plano por influencers. Se analisarmos o tema, existem vários prismas. Imaginemos um influencer na área da moda, depois pensa num atleta profissional. Qual dos dois tem mais relevância em termos de opinião pessoal acerca de material, treino, nutrição, valores morais, etc? O atleta tem o handicap de ser patrocinado por marcas (o influencer muitas vezes também) e os seus conselhos costumam centrar-se num perfil mais competitivo, mas nem sempre. Além disso, nem sempre a sua retórica é a mais habilidosa, como a de um comunicador nato.
O influencer, salvo alguns casos, costuma ser alguém que não é um expert na área, mas os outros pressupõem que ele tem experiência e humildade, ou pelo menos vende-nos essa imagem. Por vezes, transmite opiniões e informação que, digamos... não pode ser verificada ou deixa muito a desejar (já vimos isso inúmeras vezes). Mas tem um perfil que se coneta com outros praticantes, talvez pela empatia, talvez por simpatia ou uma mescla de ambas. É uma pessoa normal, pelo menos mais "normal" do que um pró, por isso sentimo-nos mais próximos dele nesse aspeto.
Dito isto, voltamos a fazer a mesma pergunta: "Qual dos dois tem mais relevância em termos de opinião sobre material, treino, nutrição, valores morais...?"

Esta reflexão, talvez um pouco delirante, digamos assim, surgiu na minha cabeça depois do que aconteceu com Tinker Juaréz, o mítico corredor que desde sempre vimos com as cores da Cannondale, apesar de ter corrido por outras equipas, como a Klein.
Desde então, até hoje, David (o seu verdadeiro nome) Juaréz esteve ligado à marca de Conneticut, sendo atleta e depois embaixador. Correu o mundo inteiro a representar a marca, sempre ligado à competição, especialmente às provas de maratonas, tendo inclusive sido Campeão do Mundo Master nos Mundiais do Brasil, com quase 50 anos.
Mas essa relação chegou ao fim. Tinker anunciou nas redes sociais a separação, afirmando que a marca não tinha no seu orçamento 25.000 dólares para pagar o caché do atleta, o que não é um valor elevado para alguém que sempre vestiu a camisola. Até agora a Cannondale não se pronunciou, mas certamente a marca terá uma versão distinta para apresentar.
É verdade que Juaréz é um atleta da velha guarda, talvez não tão ativo como outros nas redes sociais, mas continua a ser um atleta tremendo que ganha a qualquer um de nós em qualquer prova que apareça pela frente. Esses 25.000 dólares poderão servir para outras ações de Marketing, inclusive para o budget dos influencers, mas serão os valores e os likes no Facebook, Instagram e YouTube comparáveis a uma figura que se compromete com uma marca e que é um simbolo de estabilidade? Todos sabemos que os algoritmos ditam as regras nas redes sociais e nos sites e que o que hoje está em alta, amanhã estará em mínimos históricos, mas e o valor humano? Seremos números? Isto deve-nos fazer pensar no real valor de tudo, inclusivé no desporto.