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TESTE: Cannondale Scalpel Hi-Mod 1

A Cannondale reinventou a sua bicicleta de suspensão total para XC. Nesta versão perfeita para a Taça do Mundo, não há detalhes esquecidos. É a essência daquilo que todas as bicicletas deveriam ser.

TESTE: Cannondale Scalpel Hi-Mod 1
TESTE: Cannondale Scalpel Hi-Mod 1

As bicicletas de alta competição – como esta Scalpel – costumam vir equipadas com componentes de topo das mais variadas marcas, fazendo um pack perfeito e homogéneo, superleve, mas resistente o suficiente para as agruras dos rock gardens e dos saltos cada vez mais típicos na Taça do Mundo.

Esta bicicleta segue esse raciocínio, exceto na adoção de marcas externas. Tal como a Specialized faz, bem como a Trek, recorre à sua marca da casa, a Hollowgram, para o fornecimento das rodas e da pedaleira. Não penses que é uma forma de minimizar custos, pois a Hollowgram é uma submarca que gasta bastantes recursos no desenvolvimento de componentes de elite, superleves, resistentes e destinados à competição.

A marca recorre também à prata da casa no que diz respeito à suspensão, a nova Lefty Ocho. O somatório de todos estes componentes e de uma transmissão Shimano XTR é uma bicicleta que no tamanho L pesa somente 10 kg, e que no M pesa pouco mais de 9 kg, mas que no terreno voa como poucas.

Lefty
 

Com 20 anos de história, a Scalpel sofreu uma modificação profunda, sendo a terceira remodelação desde que está disponível com rodas de 29 polegadas. O objetivo desta nova versão é simples: aproveitar a leveza do quadro e a sua rigidez, mas melhorar o sistema de amortecimento traseiro, com uma cinemática simples, mas efetiva, que não implicasse um aumento de peso. Deste modo, e baseando-se em conceitos estreados na Habit de Trail, como o Proportional Response (em que cada tamanho de quadro tem os pivôs do amortecedor colocados de forma distinta para que a cinemática seja sempre igual, independentemente do nosso peso ou tamanho) e com a utilização de um sistema semelhante ao Horst Link (ou 4 Bar Link) – que é muito usado em bicicletas de Trail, Enduro e mesmo DH, pela capacidade de personalização da cinemática – o resultado é esta brilhante nova versão.

Contudo, a Cannondale encontrou uma solução brilhante para evitar o peso adicional deste tipo de sistemas. Retomaram – parcialmente – o conceito Zero Pivot (que é patenteado pela marca), usado na versão original de 2001 e em vez de estar localizado atrás do pedaleiro, o mesmo substitui a próprio Horst Link. Tem um formato aplanado horizontalmente, pelo que só funciona verticalmente, fazendo com que seja muito rígido. Para além das suas imponentes escoras, outra das grandes novidades é o tubo do selim. Como é visível nas imagens, o tubo apresenta curvas e uma diferença no diâmetro do tubo de modo a garantir rigidez onde é preciso. Além disso, o quadro “abraça” por fora as escoras, naquilo a que a Cannondale apelidou de “Chainstay Garage”. Na prática isto confere mais rigidez na zona do pedaleiro, e implica menos peso, tendo as escoras passado de 435 para 436 mm, o que garante que as rodas passam sem dificuldade, caso usemos pneus até 2.4”.

Roda Hollowgram
 

A joia da coroa

O quadro é a joia da coroa da Scalpel, disso não haja dúvidas. É construído no reputado carbono Ballistec e o seu peso face à versão anterior baixou 200 gramas (o peso do quadro Hi-Mod que aqui testamos é de 1.910g já com amortecedor). A geometria é mais agressiva do que na versão anterior, visando proporcionar uma pedalada mais efetiva e maior controlo nas descidas. Quem não for adepto desta geometria deve optar pela Scalpel SE, em que a diversão ocupa lugar de destaque, em vez da competição.

Scalpel High Mod
 

Sabias que... 

A Scalpel original lançada em 2001 foi a primeira bicicleta de suspensão total a apostar na flexão do carbono em vez de usar uma articulação. Além disso, foi a primeira bicicleta de suspensão total a ser usada de forma séria em competição, oferecendo vantagens reais (eficácia de pedalada e peso muito similar) face a uma rígida.

Continua a ser possível utilizar dois bidons, por isso é que a curva do quadro é tão acentuada, mas temos de salientar que mesmo nos tamanhos grandes (como o L que usámos), só conseguimos usar bidons de 500 ml e preferencialmente com grades de acesso lateral. No caso do tamanho mais pequeno só leva um bidon.

Comportamento

Esta nova versão é muito estável a rolar, é leve e previsível. Passa por cima dos obstáculos com desenvoltura e tanto a roda dianteira como a traseira mantêm sempre a tração, fruto do sistema de amortecimento que referimos atrás. É fácil de manobrar, tem uma posição de condução que privilegia o desempenho nas subidas, mas não nega o à vontade nas descidas. Isso deve-se ao triângulo dianteiro comprido e ao avanço curto. A Lefty Ocho com os seus 100 mm e um offset de 55 mm também tem culpa no cartório, pois é extremamente eficiente, tanto a rolar – onde mantem o sistema a ler e a filtrar as pequenas irregularidades - , como nas descidas, comportando-se como nenhuma outra nas zonas degradadas que exigem um esforço suplementar do sistema de recuperação.

A subir, a sua leveza e o sistema de bloqueio são parceiros inseparáveis, mas se deixarmos o sistema desbloqueado, não notarás um bombear excessivo e incomodativo, mas sim uma pressão salutar sobre a roda para que esta se mantenha no chão, auxiliando na tração. Mas não é só a baixa velocidade que se nota o seu pedigree de alta competição. Em alta velocidade é soberba a forma como passa por cima de zonas degradadas com pedra e raízes, mantendo a direção, proporcionando confiança e permitindo poupar energia para quando realmente é necessária.

É extremamente desenvolta a curvar, ágil nas mudanças de ritmo e – atrevo-me a dizer – altamente “desenrascada” quando nos metemos em secções de Enduro mais perigosas. Não é propriamente o seu terreno de eleição – nesse aspeto os pneus Schwalbe de origem são mais destinados à velocidade do que a situações que não são a sua praia - mas esta bicicleta tem o condão de impressionar pelo à vontade com que ultrapassa o “pior dos singletracks” com nota muito positiva. Pudera! É uma bicicleta desenhada para a Taça do Mundo e lá encontrará secções dignas de nos fazer mudar a roupa interior só de olhar para o tamanho dos drops!

Amortecedor
 

A cereja no topo do bolo, para além das fantásticas e superleves rodas em carbono Hollowgram (apesar de haver quem preferisse umas ENVE), bem como da exclusiva pedaleira com a mesma denominação, é algo que ninguém valoriza, mas que torna qualquer volta, por mais dura que seja, muito mais confortável: os punhos ESI em silicone de 32 mm. Proporcionam um toque de seda que faz chegar a casa com uma sensação de leveza fora de série. São muito confortáveis e chegámos a usá-los em luvas. Por sua vez, o ponto negativo desta bicicleta é a impossibilidade de usar bidons de alta volumetria. Mesmo nos quadros maiores só conseguimos usar bidons de 500 ml, sendo o acesso aos mesmos dificultado – no tubo diagonal fica demasiado próximo do cabo do amortecedor, e no caso do suporte que se encontra no tubo vertical, fica muito perto do link do amortecedor -. A melhor solução é adquirir suportes de bidon de utilização lateral.

No cômputo geral, esta Scalpel Hi-Mod é daquelas bicicletas abençoadas que nos deixa um sorriso de orelha a orelha depois de uma volta nos nossos trilhos favoritos, com secções rápidas, zonas técnicas e mudanças de ritmo. É daquelas que nos deixa com aquela sensação de que andamos mais do que realmente as nossas capacidades permitem, e isso é impagável. Experimenta uma se tiveres a oportunidade e comenta nas nossas redes sociais o que achaste.

Como colocar/retirar a roda dianteira

Retirar a roda dianteira numa Cannondale com uma suspensão Lefty é totalmente diferente dos modelos tradicionais. Primeiro, porque a suspensão tem apenas uma perna, segundo porque é necessário extrair o piston do travão da suspensão. Para retirar o piston (antes de retirar a roda) é necessário usar uma chave sextavada de 5 mm, carregar num botão existente no apoio e rodar o bloqueio até ao topo. Uma seta indica o local certo. Depois basta puxar para fora, desapertar a roda no eixo com a mesma chave e voilá. Para voltar a colocar a roda, é preciso colocá-la pelo eixo que atravessa a base da suspensão e apertar. Só depois colocamos o piston no local e apertamos o bloqueio (aqui já não é necessário carregar num botão).

pedaleiro Hollowgram
 

Ficha técnica

Quadro: Ballistec Hi-Mod 1

Amortecedor: Fox Factory Float DPS EVOL. 100 mm.

Suspensão: Lefty Ocho Carbon. 100 mm.

Pedaleiro: Hollowgram. 34d.

Pedais: Não incluídos.

Desviador: Shimano XTR

Manetes: Shimano XTR

Cassete: Shimano Deore XT. 10-51d. 12 velocidades.

Corrente: Shimano Deore XT.

Travões: Shimano XTR. Discos 160/160mm.

Direção: integrada.

Avanço: Cannondale 1. 80 mm.

Guiador: Cannondale 1 Flat Carbono. 31.8 x 760 mm.

Selim: Prologo Dimension NDR. Carris de Tirox.

Espigão de selim: Enve Carbon. 31,6 x 400 mm.

Rodas: Hollowgram 25 carbono.

Pneus: 29 x 2.25”. Dianteiro: Schwalbe Racing Ray. Traseiro: Schwalbe Racing Ralph.

Peso: 10,04 kg (tamanho L, sem pedais).

Tamanhos: S, M, L e XL.

Preço: 8.199€.

+ INFO: Cycling Sports Group.www.cannondale.com

 

O MELHOR: Condução. Reatividade e geometria. Comportamento em qualquer situação. Peso. Aderência e absorção do sistema de amortecimento.

O PIOR: Numa bicicleta de 8.000€ a cassete e os discos deveriam ser XTR e não XT. Acesso aos bidons.

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