A história da marca espanhola Berria, criada em 2012 pelos irmãos José e David Vitoria, na verdade começou bastante antes, através do seu pai e do avô, ambos grandes fãs de ciclismo. A marca cresceu, modernizou-se, evoluiu e após o lançamento da Belador para estrada, apostou no BTT e numa das vertentes que mais cresceu: o gravel.
SEIS VERSÕES
Toda a gama Belador Allroad 2024 foi desenhada em Espanha e é formada por 6 versões diferentes, incluindo a opção de personalização. Duas delas - as mais baratas - utilizam o quadro HPR, construído em alumínio 3BS de tripla espessura, com tubos hidroformados e soldas polidas. Quanto à forqueta, é de carbono.
As versões mais caras - incluindo a 6.2 que testámos - utilizam um quadro e forqueta em carbono HM2X, para um excelente equilíbrio entre rigidez, conforto e leveza - no tamanho M pesa 1.060g -, mas também tem em conta a aerodinâmica em algumas zonas.
A união das escoras ao tubo vertical salta à vista, devido à sua posição bastante baixa e, sobretudo, ao uso de uma articulação nesse ponto. Trata-se do sistema de absorção Softex criado pela Berria, que tira proveito da flexão controlada do carbono para absorver vibrações e pequenos impactos. Tal como num amortecedor, possui um ponto de rotação que depende de rolamentos selados e de um eixo em alumínio de 15 mm de diâmetro. A manutenção desta secção da bicicleta é fácil de fazer, sendo apenas necessário chaves sextavada e os rolamentos - dois de 23 mm de diâmetro - que podem ser substituídos. A sua capacidade de absorção - segundo o fabricante - é de 26 mm, um valor discreto mas que, como conseguimos comprovar, é percetível e ajuda a aumentar o conforto.
O espigão de selim Tibia Flex - desenhado pela Berria - também tem como missão absorver as iregularidades do terreno. A parte superior está dividida em dois, fletindo até cerca de 14 mm quando recebe um impacto.
PONTEIRA AJUSTÁVEL
A forqueta permite variar o rake - distância na horizontal entre a ponteira e o prolongamento do tubo de direção - em duas posições: 45 ou 51 mm. Para modificar primeiro temos de retirar a roda dianteira, inverter a posição dos casquilhos das ponteiras e ajustar o suporte da pinça de travão. Para tal, só precisamos de uma chave Torx T25 e de uma sextavada de 4 mm. É importante centrar a pinça de travão em relação ao disco para evitar que roce. Se não tens conhecimentos de mecânica, é melhor ires a uma loja de confiança.
A distância entre as ponteiras e a parte inferior da direção surpreendeu-nos, pois é maior do que o habitual. Perguntámos aos responsáveis da Berria qual o motivo e disseram-nos que deste modo permite a instalação - se quisermos - de uma suspensão com 30 mm de curso, como por exemplo a RockShox Rudy XPLR que está montada no modelo Allroad LTD, evitando assim modificar a geometria e, sobretudo, para evitar que o eixo do pedaleiro fique mais elevado, relaxando o ângulo de direção.
A cablagem está alojada internamente no quadro e na forqueta, proporcionando um aspeto mais limpo. Na parte superior do tubo horizontal duas roscas (tapadas por uma tampa) indicam que este quadro está preparado para poder levar uma bolsa, mas não tem furações (nem no quadro nem na forqueta) para a colocação de suportes para alforges ou guardalamas.
A pintura é de elevada qualidade e tem acabamentos muito bons. No modelo testado, o azul metalizado casa bem com o negro satin.
MONTAGEM
Para conter o preço, a Berria optou por montar diferentes gamas da SRAM. Os manípulos, travões e corrente correspondem ao grupo Apex, a entrada de gama da marca norte-americana; o desviador traseiro é um X1 e os cranques são Rival - gama acima do Apex -. De modo a aumentar a sua polivalência, combina um único prato de 44 dentes com uma cassete Eagle 11-50, uma desmultiplicação suficiente para qualquer descida ou subida. Esta transmissão é eletrónica, sendo altamente fiável e precisa tanto em termos de passagem de mudanças como de travagem.
As rodas, umas Zipp 303 S, para além de serem em carbono, são leves (pesam 1.530g o par) e têm uma performance muito superior à de umas rodas de alumínio. Os aros têm uns generosos 23 mm de largura interna, são hookless - não têm gancho interno - e são tubeless, prescindindo de câmaras de ar. Só notámos a ausência de um cepo com sistema ratchet, mais fiável e direto do que os clássicos com linguetes. Os pneus Vittoria Terreno Dry têm tacos bem dimensionados e a medida assinalada na lateral - 38 mm - engana, dado que ascende a 42 mm quando estão montados na Zipp. A forqueta permite montar pneus de até 45 mm de largura, mas a roda traseira não tem espaço para muitos mais do que 42 mm, sobretudo na zona das escoras.
O selim escolhido foi o Selle Italia Model X com carris em aço, um modelo com ponta recortada e com uma excelente cobertura antideslizante. A direção e o avanço Avanforce - a marca de componentes da Berria - formam um conjunto bastante homogéneo e sólido, e o guiador - também desta marca - é fabricado em carbono, com a parte superior aerodinâmica, deixando claras as suas intenções: rolar rápido.
GRANDE DESEMPENHO
A sua geometria não esconde o seu propósito: é uma bicicleta focada na vertente mais competitiva do gravel, embora sem excentricidades. Os escassos 419 mm de comprimento das escoras surpreenderam-nos, mas temos de confessar que ficámos vidrados com o sistema de ponteira regulável da forqueta. Na posição mais curta - 45 mm - a teoria diz-nos que conseguimos ter uma direção menos sensível, mais estabilidade em alta velocidade e uma absorção dos impactos menor por parte da forqueta; pelo contrário, se mudarmos para a posição de 51 mm, a direção fica mais sensível, tem menos estabilidade em secções rápidas e a absorção dos impactos aumenta. Mas temos de ter em conta que a distância entre eixos também muda, passando de 1.082 para 1.022 mm, compensando a redução ou aumento da estabilidade em cada caso. Testámos a Belador Allroad com a forqueta nas duas posições, e embora notássemos alterações no comportamento, que validaram a teoria, são bastante subtis, porque na realidade são só 6 mm de diferença entre as duas posições.
Quanto ao peso, embora alguns componentes como as rodas, o espigão e o guiador de carbono tenham o objetivo de o manter baixo, outros como a cassete - preferíamos que tivesse vindo com uma gama superior e com o carreto mais pequeno de 10 dentes - e o selim não o ajudam a baixar. O sistema de absorção traseiro e as ponteiras reguláveis afetam o peso (pela negativa) e embora não duvidemos da eficácia do amortecimento controlado, sobretudo em longas distâncias e em terreno degradado, quanto ao detalhe da forqueta já não estamos tão seguros da sua efetividade.
A sensação que a combinação do sistema de amortecimento traseiro com o espigão de selim proporciona durante os primeiros quilómetros é semelhante a levar um pneu traseiro muito mais largo e com menos pressão, reduzindo as vibrações que recebemos, sobretudo quando estamos sentados. Mas na parte dianteira não temos esta ajuda e provavelmente devido a este guiador demasiado rígido as nossas mãos e braços sentiram mais pressão. A solução é a tal suspensão que vem de origem no modelo LTD, embora os mais puristas aleguem que "é quase uma BTT".
POLIVALENTE
Durante o teste avaliámos a sua precisão e segurança em ritmo elevado, e confirmámos que se trata de uma bicicleta que permite controlar sempre e em qualquer situação, incluindo nos momentos mais delicados, com secções técnicas. Asfalto degradado, zonas com terra muito compacta, gravilha.. andámos em todo o tipo de terrenos com a Belador Allroad, e recomendamos baixar um pouco a pressão do pneu dianteiro (ou montar um mais largo, para relaxar um pouco os braços) em zonas com pedra, raízes e regos. Quer sejas um novato nestas andanças do gravel ou alguém com mais experiência, com esta Belador não terás qualquer problema e poderás sempre aproveitar o sistema de ponteiras reguláveis para encontrar o comportamento que melhor se adapte ao teu nível.
Ficha técnica
Quadro e forqueta: Belador Allroad, carbono HM2X
Tamanhos: XS, S, M, L e XL
Cores: Azul/negro, personalizado
Cranques: SRAM Rival 1 Wide, eixo DUB, 44T
Desviador: SRAM X1 Eagle AXS
Manípulos: SRAM Apex eTap AXS
Corrente: SRAM Apex
Rodas: Zipp 303 S
Cassete: SRAM XG1210 Eagle, 11-50, 12v
Pneus: Vittoria Terreno Dry TNT, 38 mm, tubeless
Travões: SRAM Apex. Discos Centerline, 160 mm
Guiador: Avanforce AF1 Gravel, carbono
Avanço: Avanforce ICS2, alumínio
Espigão: Tibia Flex, carbono
Selim: Selle Italia Model X, carris em aço
Preço: 4.000 €
Peso: 9,38 kg (sem pedais, tamanho M)
Distribuidor: Berria Bikes, info@berria-racing.com
Site: berriabikes.com
Geometria (tamanho M)
Tubo horizontal: 555 mm
Tubo de selim: 508 mm
Tubo frontal: 129 mm
Escoras: 419 mm
Distância entre eixos: 1.028 / 1.022 mm
Ângulo de direção: 71º
Ângulo de selim: 74,5º
Reach: 398 mm
Stack: 567 mm