"Quando se trata de Covid 19, o ciclismo está a entrar no quilómetro zero da prova", declarou Eusebio Unzué ao jornalista Alasdair Fotheringham do site Cyclingnews.
O veterano patrão da Movistar acredita que recomeçar o calendário WorldTour tarde esta temporada significará que as perspetivas de sobrevivência a longo prazo das equipas em 2021, e até mais adiante, irão ter um impacto nas suas atuações esta temporada. Unzué acredita que os ciclistas que participem nas provas de 2020, e que estejam conscientes de que as suas equipas correm o risco de desaparecer, terão a moral extremamente em baixo face aos que acreditam que vão permanecer no pelotão profissional em 2021.
Tendo começado a sua carreira como diretor na década de 80, uma coisa não falta a Unzué... experiência. Mas até ele tem dúvidas sobre o futuro do ciclismo. "Quando se trata de Covid 19, o ciclismo está a entrar no quilómetro zero da prova, como tudo no mundo. Contudo, estamos muito longe de conseguir prever quais vão ser as consequências finais".
Quando questionado acerca da situação financeira da equipa Movistar para o próximo ano, Unzué afirmou que não existem problemas a esse respeito. Mas, salienta, "ao mesmo tempo, não nos podemos relaxar numa situação da qual sabemos ainda muito pouco. As coisas estão tranquilas, mas temos de estar precavidos. Temos a consciência de que alguns dos nossos patrocinadores técnicos estão a passar por momentos extremamente difíceis, quer seja porque não estão a produzir, quer seja porque não estão a vender o suficiente. Felizmente, os corredores da nossa equipa podem sair para treinar nos seus respetivos países, e o calendário de provas parece que provavelmente será cumprido. Mas, logicamente, se isto acontecer, uma temporada com zero ou quase nenhuns resultados sería um grande problema para todos nós".
A FAVOR DA REFORMA FINANCEIRA
Unzué argumenta que uma forma de garantir que as equipas sobrevivem coletivamente poderia ser a criação de um mecanismo de regulação financeira independente, desenhado para limitar os efeitos do desiquilíbrio considerável em termos de orçamento entre as equipas maiores e as mais pequenas.
Desta maneira, crê que "todos teriam garantido algum tipo de retorno do seu investimento". Caso contrário, adverte, "quatro, cinco ou seis equipas WorldTour não terão nenhum problema no próximo ano. Mas 14 ou 15 delas sim, e nas categorias inferiores, ainda mais. Temos de encontrar uma forma de assegurar que as equipas não desapareçam".
"Somos um desporto de alto risco no sentido que uma marca paga porque acredita que vai ter retorno. Mas o problema surge quando esses objetivos não funcionam e ainda estão a pagar pelo mesmo. Estou a procurar uma fórmula para que todos possamos justificar o nosso investimento financeiro".
Unzué argumenta que esta reforma é mais urgente agora, devido à crise do Covid 19, mas que tem raízes mais profundas. Ele acredita que antes de 2020, as equipas com grandes orçamentos estavam obrigadas a ganhar provas para justificar o seu investimento, enquanto na outra extremidade da balança, para as equipas pequenas é mais difícil justificar esse investimento porque grande parte do retorno publicitário é absorvido pelas equipas de nível superior.
"Obviamente, há algumas coisas que o dinheiro simplesmente não compra, como o carácter de uma equipa, a sua capacidade para ler uma corrida corretamente. Também é verdade que as melhores equipas são, geralmente, no desporto, as que têm os orçamentos mais elevados. Não diria que temos de ter um limite em termos de orçamento, mas sim igualar alguns custos, para que as diferenças entre elas nesse nível sejam as mínimas".