Esta Volta a Itália ficou marcada por muitos "ses". E se João Almeida não tivesse perdido muito tempo numa das primeiras etapas? E se Remco Evenepoel não tivesse bonificado, ultrapassando João Almeida na classificação geral, passando a ser o líder indiscutível? E se Patrick Lefevere não tivesse anunciado - num péssimo timing, diga-se de passagem - que a equipa belga não iria renovar contrato com o ciclista luso? E se toda a equipa tivesse trabalhado para o João Almeida em vez de se focar em Remco Evenepoel?
Estes "ses" são apenas parte do enredo de uma história que começou muitos meses antes e que data de 2020, pouco antes do Giro. Não vale a pena escamutear as decisões dos Diretores Desportivos da Deceuninck-Quick Step, mas vale a pena analisar a importância e relevância da performance de João Almeida.
No início da última semana do Giro, João Almeida estava em 13º lugar da geral, longe do Top-10, mas a sua performance demonstrou que o luso esteve melhor na última semana do que nos restantes dias da prova italiana. Nas etapas de montanha, foi ganhando tempo e foi principalmente na agoniante etapa de Cortina d´Ampezzo que começou verdadeiramente o ressurgimento de uma esperança pelo top-10. João Almeida infiltrou-se na fuga num dia medonho, chuvoso e frio, conseguindo um impressionante sexto lugar, o que permitiu que subisse três posições na geral.
Almeida provou que está ao nível dos melhores trepadores - incluindo Egan Bernal - isto apesar de ter confessado em entrevista exclusiva à revista Ciclismo a fundo ter de evoluir na alta montanha. Em todo o caso, os estágios que realizou com a equipa, sobretudo o último na Serra Nevada (Espanha) foram fulcrais para aprimorar a sua performance, como se viu em Sega di Ala e Alpe di Mera. As suas performances na alta montanha tiveram um salto qualitativo (face ao ano passado) impressionante, tendo o jovem luso de 22 anos voltado a demonstrar muita classe em mais uma subida de dificuldade muito elevada - Alpe Motta - voltando a subir no ranking.
Na última etapa em Milão - um contrarrelógio de 30.3 km -, apesar de cansado, conseguiu fazer um crono de elevado nível, acabando em quinto da geral, com o mesmo tempo de Daniel Martínez, tendo subido para sexto por centésimas de segundo.
O balanço que João Almeida fez da Volta a Itália mostra maturidade e tranquilidade: "Após três duras semanas, sinto-me muito bem e foquei-me a cem por cento no contrarrelógio. Estou contente com o resultado, especialmente num percurso plano como este. Ser sexto na classificação geral é um resultado muito bom e estou feliz por voltar a estar no top-10 novamente. No cômputo geral foi uma boa Volta a Itália, uma corrida onde aprendi muito e onde consegui ver a minha progressão na alta montanha, conseguindo seguir os grandes trepadores".
João Almeida regressa já hoje a Portugal, estando a sua chegada prevista para as 17h05 no aeroporto General Humberto Delgado.