COM LAMA PEGAJOSA
Esta é a pior lama que podemos encontrar nos trilhos e referimo-nos a zonas com terreno argiloso, onde a água não é drenada convenientemente ou onde tenha sido retirada terra (como um local de exploração de minério, zonas de construção civil, caminhos recém abertos, etc). Este tipo de lama pega-se às rodas como uma lapa e daí passa para a parte inferior dos tubos do quadro (escoras, suspensão, tubo diagonal, selim...) podendo até bloquear a rotação das rodas.
Para enfrentar este tipo de lama, convém utilizar pneus mais finos do que em piso seco de modo a que, mesmo com a acumulação de alguma lama, não travem a progressão da bicicleta. Devemos prestar também atenção ao formato dos seus tacos, pois estes deverão ser salientes, finos e estar muito separados entre si. Salientes e finos para que ganhem tração na lama e separados entre si para que a lama não tenha oportunidade de se acumular em demasia entre os mesmos.
Também é importante diminuir a pressão dos pneus. Podemos rondar os 2 bar se utilizarmos pneus com câmara de ar e baixar até 1.5 bar se usarmos Tubeless e sem medo de furar porque o terreno estará muito suave.
Quando for inevitável enfrentar uma secção desta lama espessa teremos duas opções: ou atravessamos à mão ou a pedalar. Se for uma secção plana ou em subida, onde a diferença de velocidade entre atravessá-la de bicicleta ou a pé é mínima, o melhor é desmontar e atravessar sem que a bicicleta toque na lama, para que uma vez superada essa secção a bicicleta continue limpa. Se a secção for rápida ou em descida, o ideal é atravessá-la montado na bicicleta e manter uma atitude neutra e relaxada pois a bicicleta ficará enlameada e com um comportamento incontrolável, o que é normal. Será como patinagem no gelo e mudar de trajetória será difícil.
Um truque consiste em seguir a roda de alguém.
COM LAMA LÍQUIDA
Neste tipo de lama é mais fácil controlar a bicicleta. Salpica muito e suja bastante a roupa, mas nada que uma boa lavagem não solucione. Podemos encontrar este tipo de lama em todo o tipo de caminhos, mas sobretudo onde o solo é mais granítico. Neste caso também é preferível montar pneus um pouco mais estreitos e com tacos largos e profundos, mas não é descabido optar por tacos de grande volume. Porquê? Ao ter menos consistência, este tipo de lama oferece um apoio mais instável. Um pneu volumoso oferece uma superfície maior de apoio e proporciona mais estabilidade à bicicleta. Por ser uma lama menos densa, não fica tão colada à bicicleta, não tapando o espaço entre as rodas e as escoras, portanto conseguirás andar sem grandes dificuldades.
Neste caso também podemos jogar com as pressões como referimos antes. A técnica a aplicar neste tipo de terreno é muito distinta da anterior. Devemos ser muito mais tolerantes com o comportamernto da bicicleta pois esta terá tendência para ter reações mais imprevisíveis, fazendo com que percamos tração e, em alguns casos, iremos pedalar em falso. A vantagem deste terreno é que não enterra tanto as rodas e podemos escolher a linha que quisermos seguir.
RAÍZES, TRONCOS E PEDRAS...
Quando em vez de lama o caminho está forrado de raízes, folhas e pedras, então nada do que referimos antes faz sentido agora. Em piso seco, este tipo de terreno oferece muita tração, mas converte-se numa pista de gelo quando se molha; sobretudo as raízes que se vão descarnando com a nossa passagem. Aqui uma queda pode magoar-nos bastante porque o solo é duro e costumam ser quedas bruscas.
Geralmente estas zonas não são caminhos saturados destes elementos resvaladiços, pois são apenas pequenas secções, pelo que devemos aproveitar as secções de pedras entre elas para manobrar a bicicleta. A melhor forma de enfrentar estas secções é fazê-lo o mais rápido possível, sem tocar nos travões nem girar o guiador. Precisaremos de alguma velocidade para que a bicicleta ao tocar nas raízes e/ou pedras não pare, o que poderia fazer-nos saltar por cima do guiador, cair de lado ou simplesmente colocar o pé no chão.
Evidentememte mete algum respeito enfrentar uma encruzilhada de raízes e pedras com velocidade, mas devemos pensar que a inércia será a nossa maior aliada. Devemos atravessar esta secção o mais perpendicularmente possível, evitando tocar nos travões porque se as rodas chegarem a bloquear perderemos num ápice a tração. Tenta travar antes ou depois (esta é a melhor opção, para assim atravessares com alguma velocidade), mas nunca a meio delas.
Mais difícil será evitares uma queda se tentares mudar de direção. As rodas são um mero ponto de apoio nestas circunstâncias, portanto não esperes muita aderência. Os mais hábeis tecnicamente, se o terreno assim o permitir, podem tentar saltar a secção ou fazer um bunny hop utilizando como rampa uma pedra mais plana ou a ondulação do terreno. Assim conseguirão passar essa secção sem sequer tocar no solo.
CONSELHOS DE CONDUÇÃO
Quanto mais rápido enfrentarmos uma secção de lama melhor, porque assim a inércia dar-nos-á estabilidade, embora devamos estar atentos a escorregadelas imprevisíveis, perdas de tração, mudanças de direção, nula retenção da travagem... Imagina como seria pedalar em cima de manteiga e já terás a ideia. Somos capazes de manter a inércia e gastaremos pouca energia, mas por outro lado gastaremos muitas calorias ao termos de estar constantemente a acelerar.
Conta sempre com a possibilidade de saíres do trilho ou de cair, embora felizmente a lama estará mais suave do que a terra seca e dura. Deves ir relaxado, mas alerta, improvisando continuamente e procurando um equilíbrio entre conduzir a bicicleta e deixá-la ir por onde quer. Entendemos que é uma explicação demasiado genérica, mas deves compreender que a lama nem sempre nos permite cumprir uma linha pré-definida, um salto ou uma travagem ao nosso gosto e devemos ter sempre em conta o fator surpresa. Deves estar muito atento ao terreno que pisas já que isso poderá antecipar como será o comportamento da bicicleta.
Convém que a pedalada seja lenta (à volta das 60 ou 70 pedaladas/minuto) para ter tração. A passagem das mudanças deve ser feita com prudência, dado que a acumulação de lama e detritos vai desgastar mais a transmissão. Tens de ter em conta que a travagem também poderá perder eficácia, mesmo com as pastilhas e discos atuais. Deverás também levar o peso mais centrado e passar mais tempo sentado no selim, para poderes reagir atempadamente a mudanças de direção involuntárias.
No caso de te deparares com alguma subida, o melhor é fazeres a mesma sempre sentado sobre o selim (quanto mais pendente tiver, coloca-te sentado o mais adiante possível), para assegurar a máxima tração. Nas descidas deves estar em pé, mas numa posição próxima do selim e no caso de haver alguma curva podes retirar o pé interior (para o lado da curva) de modo a ganhares equilíbrio e ter um ponto rápido de apoio no caso de a roda dianteira perder tração. Tenta escolher bem a trajetória antes de entrares na zona de lama, porque quando já lá estiveres terás pouca margem de manobra.
Quando seguires a roda de alguém, não só serás salpicado com a lama que salta das rodas dele, como das tuas, anulando parte da tua visibilidade. Por isso usa um guardalamas dianteiro e traseiro e recomenda aos teus companheiros de pedaladas que falam o mesmo.