Entre as modalidades do BTT e do ciclismo de estrada encontra-se uma nova vertente que tem características comuns a ambas. Na verdade, não é totalmente nova, pois há quem já tenha pedalado com a sua tradicional bicicleta de estrada em terrenos fáceis de BTT. De facto, a maioria dos praticantes de ciclocrosse dedicam-se a treinar nesse tipo de terrenos, mas mais numa vertente competitiva. E é aí que reside a grande diferença do gravel face ao ciclocrosse. O gravel é para ser levado com ligeireza, sem registos de tempo. Por isso, recentemente apareceram bicicletas com geometrias mais relaxadas do que as de ciclocrosse, com mais espaço nas escoras para os pneus rolarem à vontade. Foi apenas uma questão de tempo até o maior fabricante de transmissões apostar num projeto próprio específico para este segmento, que a cada dia que passa ganha mais adeptos.
A Shimano passou os últimos dois anos a desenvolver este grupo GRX. Adotaram aquilo que consideram o melhor de cada um dos dois mundos, partilhando elementos dos seus grupos de estrada e de BTT. O grupo GRX existe em três versões: RX400, com um nível de construção equivalente ao Tiagra e ao Deore; o RX600, que é equivalente ao 105, ou SLX se falarmos de BTT; e o grupo topo de gama RX800, que se encontra ao nível do Ultegra e XT, está disponível em versão Di2.
O desenvolvimento do GRX deriva seguramente do Ultegra RX, cujo design se baseia nos sistemas Shadow Plus de BTT conseguindo, por um lado, que o desviador fique mais protegido e oculto debaixo da escora, e por outro o imobilizam face aos movimentos verticais, evitando o saltitar da corrente. Um desviador que chegou a ser utilizado por alguns ciclistas em provas de pavé nas Clássicas da Primavera. Este foi o primeiro passo até chegar ao GRX. O funcionamento é preciso, mesmo que não utilizemos o sistema de embraiagem que evita os movimentos verticais do mesmo, e caso o utilizes, a qualidade de funcionamento é exemplar ao evitar saltos de corrente.
CORAÇÃO MENOSPREZADO
Segundo a Shimano, o componente mais difícil de desenhar é o desviador dianteiro, um componente que muitos consideram secundário. A Shimano desenvolveu um para o RX400 que é capaz de saltar 16 dentes (46-30) e outro que é capaz de trabalhar com uma diferença de 17 dentes (48-31) no RX600 e 800.
Além disso, tudo foi desenhado de modo a que os componentes não rocem, e idealizado para uma linha de corrente 2,5 mm mais aberta, fazendo assim com que os fabricantes de quadros possam optar por rodas mais largas. Durante os percursos que percorremos pudémos utilizar a opção monoprato. Embora seja a alternativa que preferimos nesta disciplina, temos de reconhecer que, com a suavidade e rapidez de subida e descida da cremalheira/carretos que a Shimano alcançou, os dois pratos são uma opção que ganha força e permite-nos escalonar melhor a desmultiplicação, sobretudo se tivermos em conta que podemos chegar a cruzar a corrente sem roçar.
Devemos, todavia, ter em conta que, apesar da compatibilidade entre os componentes de estrada e de BTT da marca, os cranques e o desviador deste GRX devem ser usados em conjunto se queremos evitar ter problemas derivados da linha de corrente.
MELHORIAS QUE TE FACILITAM A VIDA
As manetes desenvolvidas para o GRX proporcionam, na nossa opinião, duas grandes vantagens. A primeira é ergonómica, sobretudo nas de acionamento eletrónico, ao contar com um rebordo que evita que a mão possa escorregar. Uma característica que se complementa com a textura super-aderente da borracha. A segunda vantagem são os próprios botões das manetes, pois integram um design que facilita alcançá-los com os dedos, inclusivé se utilizamos os habituais guiadores abertos que os fãs do gravel costumam montar.
A superfície rugosa da manete permite "sentir" melhor a comutação das mudanças, além disso, o ponto de articulação da travagem foi elevado 18 mm, facilitando bastante a sua atuação quando levamos as mãos nos drops. Outra característica a destacar neste grupo da Shimano é a possibilidade, se utilizarmos o sistema monoprato, de usar a manete esquerda para controlar um eventual espigão telescópico (caso o montemos).
Tal como nos grupos de estrada, as manetes Di2 possuem botões extra na parte superior, os quais podemos programar ao nosso gosto para, por exemplo, controlar o ciclocomputador.
Os travões são precisos e contam com um tato excelente ao combinar o melhor dos seus irmãos de BTT e de estrada. Adotam a tecnologia Servo Wave para alcançar uma elevada potência de travagem desde que começamos a apertar a manete, mas é incrementado de forma linear consoante mais força fizermos. As pinças são flat-mount, tal como nos modelos de estrada. Adicionalmente, o design do conjunto permite montar uma manete auxiliar horizontal à semelhança das utilizadas em ciclocrosse até à chegada dos travões de disco. Nas saídas com chuva e bastante lama, os travões cumprem na perfeição.
RODAS
A Shimano mantém a filosofia de englobar nos seus grupos todos os elementos necessários, para além da transmissão. Por isso, não podiam faltar as rodas. Utilizam aros em alumínio assimétricos de perfil baixo e largura interna de 21,6 mm, muito similares às de BTT e permitindo um balão generoso em termos de pneu, e possibilitando usar pressões mais baixas obtendo assim mais aderência e conforto.
São um par de rodas para eixo passante de 12 mm, tubeless ready e com raios retos que melhoram a resistência do conjunto. Durante os três dias de teste mantiveram a pressão dos pneus e cumpriram na perfeição o que lhes foi exigido. Estão disponíveis em diâmetros de 700 mm e 27,5".
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