Todas as BTT precisam delas, ou quase todas... Mas têm de ser adaptadas ao tipo de utilização. Enquanto os downhillers precisam de suspensões de dupla coroa ultrarresistentes com 200 mm, as bicicletas de XC utilizam modelos leves com cursos a partir de 100 mm. Entre estes dois extremos, existem inúmeras opções com diferentes cursos e diâmetros de bainhas. Naturalmente, as suspensões “mais grossas” e com maior curso são mais pesadas. Os modelos do segmento Enduro pesam cerca de 2500 g, enquanto os de XC mais leves pesam menos de 1400 g. Mais peso geralmente significa mais estabilidade (iremos abordar este tema mais à frente), um pormenor importante nas bicicletas de enduro, mas também nas de all-mountain e E-MTBs. No entanto, isto não significa que as suspensões leves sejam frágeis. É importante ter em conta este pormenor: para os praticantes de enduro mais leves, por exemplo, uma suspensão com bainhas de 36 mm pode ser suficiente e assim pode poupar peso na bicicleta. Por outro lado, faz sentido optares por um modelo mais robusto numa E-MTB.
XC/MARATONAS | 100-120 MM | 32 A 34 MM |
DOWNCOUNTRY | 120-130 MM | 32 A 35 MM |
TRAIL | 130-140 MM | 34 A 35 MM |
ALL MOUNTAIN | 150-160 MM | 35 A 36 MM |
ENDURO/FREERIDE | 170-190 MM | 36 A 38 MM |
COMO FUNCIONA UMA SUSPENSÃO?
Uma suspensão é composta por muitos componentes fabricados com precisão e é uma das partes mais complexas da bicicleta. Os amortecedores hidráulicos têm muitos orifícios e anilhas ultrafinas, através dos quais circula o óleo, garantindo a regulação da velocidade de compressão e de rebound. Em linguagem técnica, a velocidade de compressão é conhecida como fase de compressão ou pressão (assinalada a azul na imagem) e a velocidade de extensão é conhecida como fase de rebound ou tração (assinalada a vermelho na imagem).
Com os botões de ajuste externos, estes parâmetros podem ser afinados em modelos de alta qualidade. Em quase todos os modelos de BTT, o amortecimento é separado da compressão. Isto significa que, de um lado da suspensão, está o amortecimento (normalmente no lado direito) e, do outro lado, a compressão, sob a forma de uma mola de aço ou de ar comprimido. Para reduzir o peso e facilitar a regulação, os sistemas pneumáticos são, atualmente, os mais utilizados. A sua concepção consiste numa câmara positiva e numa câmara negativa.
Através de uma bomba de suspensão podemos ajustar a suspensão ao peso do conjunto (bicicleta + ciclista + mochila, etc.). Raramente é necessário encher separadamente a câmara de ar negativa e a câmara de ar positiva. Um orifício de compensação assegura a transferência de ar entre as duas câmaras. Para além das pernas e das bainhas, a coroa da suspensão e outros componentes, os casquilhos deslizantes no interior e as juntas de vedação são peças importantes, das quais depende o seu desempenho. A suspensão é ligada à bicicleta através do tubo de direção, que hoje em dia é quase sempre de 1,5“ na parte inferior e de 1 1/8” na parte superior. O eixo passante fixa a roda dianteira à suspensão.
A imagem mostra como é construída uma suspensão. Em quase todas as suspensões, a mola pneumática está separada do amortecimento ou rebound. A imagem é de uma Rock Shox Zeb Ultimate.
QUANTO CUSTA UMA SUSPENSÃO?
O preço de uma suspensão varia consoante a sua qualidade. Dependendo da marca, o preço recomendado pelos fabricantes para as suspensões de boa qualidade situa-se entre os 600 e os 1800 euros. As suspensões muito mais baratas são limitadas para uma utilização intensiva em trilhos, uma vez que, geralmente, se poupa no elemento de amortecimento. Os fabricantes de bicicletas pagam muito menos pelos modelos no “mercado OEM”, pelo que uma bicicleta de 4000 euros também pode vir equipada com um modelo topo de gama e a compra pode “valer a pena”. Presta atenção aos diferentes níveis de cada marca: a diferença, por exemplo, na Fox, entre “Performance” e “Performance Elite” é maior do que entre “Performance Elite” e “Factory”.
É MELHOR UMA SUSPENSÃO DE MOLA OU A AR?
Antigamente, a mola era considerada o padrão de excelência. A sua resposta perfeita, por ser uniforme, é o que hoje se tenta copiar com a mola pneumática, pela sua sensibilidade inicial e por oferecer uma resistência constante ao longo de todo o curso. A principal desvantagem é o seu peso mais elevado. Embora seja geralmente possível alterar a pré-carga da mola, se esta continuar a ser demasiado dura ou demasiado mole, tem de ser substituída. Por outro lado, o fácil ajuste ao nosso peso através de uma bomba de ar e a construção mais leve são as vantagens do sistema pneumático. Além disso, os engenheiros também conseguiram de certa forma eliminar o ponto de fricção inicial, o afundamento a meio do curso ou a elevada progressividade final. É por isso que o sistema de ar comprimido se tornou a regra geral nas suspensões, mas não tanto no amortecedor traseiro.
QUE AJUSTES SÃO REALMENTE IMPORTANTES NUMA SUSPENSÃO? PODEMOS CONFIGURAR TUDO?
“É melhor ter e não usar, do que não precisar e não ter". Este ditado também se aplica à regulação da suspensão? As opções de ajuste das suspensões podem ser complexas. A compressão e o rebound são parcialmente ajustáveis de duas formas. As câmaras de ar podem ser modificadas no seu volume através da opção de instalar “tokens” (espaçadores de volume), o que modifica a resposta em termos de progressividade. Mas de que é que precisamos realmente? É claro que o sistema de ar é ajustado ao peso através de uma válvula. O rebound deve ser ajustado depois de a câmara de ar ter sido equilibrada ao peso do sistema, para que a suspensão recupere corretamente. Quase todos os modelos oferecem também uma regulação simples da compressão. Qualquer coisa para além disto é um luxo, e se é mais ou menos necessário depende do tipo de utilização. Por exemplo, os modelos de curso longo oferecem normalmente compressão separada para alta e baixa velocidade. Esta distinção não se refere à velocidade de condução da bicicleta, mas à velocidade de compressão da suspensão. Esta é “rápida” num impacto forte (como um salto). A baixa velocidade reage a impactos ligeiros e também serve para suprimir o bombeio. Os modelos de curso curto, por outro lado, vêm muitas vezes com um controlo remoto para “bloquear” a suspensão, e outros modelos têm este bloqueio como uma alavanca diretamente no topo da bainha. A possibilidade de alterar a progressividade final através de tokens é oferecida por quase todos os modelos caros, mas também não é essencial.
A compressão a baixa velocidade (LSC) amortece a compressão lenta (pequenos impactos, pedalar em pé, contornar curvas apertadas). A compressão a alta velocidade (HSC) só está ativa durante impactos extremamente rápidos, como depois de um salto.
A recuperação é essencial, pois regula a velocidade de extensão.
As suspensões com funcionamento a ar só podem ser ajustadas com bombas específicas.
A curva de resposta pode ser modulada por espaçadores de volume. Quanto mais espaçadores, mais pequena é a câmara de ar e mais progressiva é a suspensão.
O botão de bloqueio é indispensável para os praticantes de XC, permitindo bloquear a suspensão. Geralmente, é acionado por um comando à distância no guiador.
COM QUE FREQUÊNCIA DEVEMOS FAZER A REVISÃO DA SUSPENSÃO?
Embora os fabricantes tenham normalmente especificações claras, também depende do tipo de serviço. Quem anda muito de bicicleta, deve fazer a manutenção com mais frequência. Como explicámos no início, as suspensões são componentes complexos. Mesmo que os fabricantes se esforcem por dar-lhes uma vida útil tão longa quanto possível, o pó e a sujidade entram nos vedantes e contaminam o óleo lubrificante no seu interior. A certa altura, a capacidade de resposta é visivelmente afetada. É difícil dizer, em termos gerais, quando e com que frequência se deve efetuar a manutenção. Se pedalas muito na serra, onde as descidas são a norma e, por isso, colocas muita pressão na suspensão, tens de planear a manutenção com mais frequência do que um entusiasta que pedala em terrenos mais tranquilos. No entanto, existem intervalos de manutenção que temos de ter em conta.. A chamada pequena manutenção inclui a mudança do óleo e a limpeza ou substituição dos anéis de espuma. Isto pode ser feito com relativa facilidade em casa, sem muitas ferramentas especiais. Os anéis de espuma, o óleo e até os vedantes podem ser adquiridos separadamente (também a fornecedores como a SKF). Para pequenas manutenções, os centros de assistência cobram, por vezes, menos de 100 euros; para grandes manutenções, com desmontagem completa e substituição de todos os O-rings, etc., o preço pode ser bastante superior a 100 euros.
DT SWISS | Inspeção visual e teste de funcionamento: antes de cada volta | Limpeza e lubrificação das juntas: cada 50h | Mudança de óleo e inspeção: cada 100h/anualmente | Serviço completo: 200h/ cada 2 anos |
DVO | Inspeção visual e teste de funcionamento: antes de cada volta |
Limpeza e lubrificação das juntas: cada 30h |
Mudança de óleo e inspeção: cada 100h/anualmente | Serviço completo: 200h/ cada 2 anos |
FORMULA | Inspeção visual e teste de funcionamento: antes de cada volta |
Limpeza e lubrificação das juntas: cada 50h |
Mudança de óleo e inspeção: cada 100h/anualmente | Serviço completo: 200h/ cada 2 anos |
FOX | Inspeção visual e teste de funcionamento: antes de cada volta |
Limpeza e lubrificação das juntas: cada 30h |
Mudança de óleo e inspeção: cada 125h/anualmente | Serviço completo: 250h/ cada 2 anos |
MANITOU | Inspeção visual e teste de funcionamento: antes de cada volta |
Limpeza e lubrificação das juntas: cada 25h |
Mudança de óleo e inspeção: cada 100h/anualmente | Serviço completo: 200h/ cada 2 anos |
MARZOCCHI | Inspeção visual e teste de funcionamento: antes de cada volta |
Limpeza e lubrificação das juntas: cada 50h |
Mudança de óleo e inspeção: cada 100h/anualmente | Serviço completo: 200h/ cada 2 anos |
OHLINS | Inspeção visual e teste de funcionamento: antes de cada volta |
Limpeza e lubrificação das juntas: cada 50h |
Mudança de óleo e inspeção: cada 100h/anualmente | Serviço completo: 200h/ cada 2 anos |
ROCKSHOX | Inspeção visual e teste de funcionamento: antes de cada volta |
Limpeza e lubrificação das juntas: cada 50h |
Mudança de óleo e inspeção: cada 100h/anualmente | Serviço completo: 200h/ cada 2 anos |
QUE FABRICANTES SÃO RELEVANTES NO MERCADO?
Os fabricantes mais importantes são a Fox e a RockShox (propriedade da SRAM). Estas duas marcas americanas dominam o mercado há quase 20 anos em termos de equipamento original para BTT e EMTBs de gama média e alta. Outras marcas, como a Marzocchi (filial da Fox) ou o fabricante sueco Öhlins, são também instaladas nas bicicletas de produção, mas com muito menos frequência. O mercado dos modelos aftermarket é muito mais diversificado. Para além dos líderes de mercado, todos aqueles que não conseguem uma parte do “bolo OEM” estão a competir pelos clientes. Assim, existem pequenas empresas como a Intend de Friburgo, a Bright Racing de Itália ou marcas dos EUA que oferecem modelos exclusivos de alta qualidade.
A Fox e a RockShox também têm uma grande penetração no mercado porque oferecem os seus modelos em diferentes níveis de qualidade. Por exemplo, a RockShox oferece, para além das completas suspensões Ultimate, os modelos Select Plus e Select, um pouco mais básicos, que são instalados em bicicletas mais baratas. A Fox, para além das muito caras versões Factory, também tem na sua gama os modelos Performance Elite, Performance e Rhythm.
>CANE CREEK: Os americanos são famosos pelas suas caixas de direção e espigões de selim. Para além dos amortecedores topo de gama, agora também oferecem suspensões dianteiras da mesma qualidade.
>DT SWISS: Conhecida pelas suas rodas, a DT Swiss também fabrica componentes de suspensão de alta qualidade. As suas suspensões para bicicletas de cross-country e trail ocupam um nicho de mercado bastante pequeno.
>DVO: Fabrica modelos de suspensão desde 2012, produzidas pela SR Suntour. Destaca-se pelas suas tecnologias interessantes e múltiplas opções de ajuste.
>FORMULA: A marca italiana é conhecida pelos seus travões, mas surpreende repetidamente com suspensões inovadoras. A sua linha vai do trail ao downhill.
>MANITOU: Comprada pela Hayes em 2006. Hoje em dia, os seus modelos de suspensão estão de novo tecnicamente no topo e são especialmente populares nos segmentos de enduro e downhill.
>MARZOCCHI: A tradicional marca italiana é agora propriedade da Fox. As suas suspensões atraem com preços moderados e uma construção robusta, algumas com molas de aço.
>MRP: Do Colorado, oferece peças exclusivas de afinação de suspensões topo de gama e suspensões com muitas tecnologias interessantes.
>ÖHLINS: Oferece modelos no segmento topo de gama. A marca sueca traz a sua experiência do mundo do motociclismo.
>INTEND: Esta marca sedeada em Friburgo, na Alemanha, destaca-se pela qualidade e leveza dos seus modelos invertidos.
>RST: Os asiáticos também fabricam modelos de suspensão para outras marcas, mas os seus próprios produtos são comparativamente baratos.
>SR SUNTOUR: Oferece uma vasta gama de suspensões, mais no segmento económico, mas também já entrou no segmento alto.
QUAL DEVE SER A RIGIDEZ DE UMA SUSPENSÃO?
Estamos sempre a ler e a ouvir falar da importância da rigidez nas bicicletas. Como é que aplicamos isto à suspensão? A rigidez do material é essencial na suspensão. Refere-se à propriedade, por exemplo do alumínio, de resistir a forças que atuam a partir do exterior.
Em relação a uma suspensão, isto significa o quanto pode fletir durante a travagem, nas curvas ou ao passar por cima de uma pedra. A rigidez é mensurável e é expressa, por exemplo, em Newton-metros por grau (ver caixa). Para obteres uma maior rigidez, tens de utilizar mais material ou um diâmetro de tubo maior. Por isso, é normal que os modelos mais leves e mais estreitos tenham valores mais baixos. No entanto, isto não significa que não sejam tão duráveis. Simplesmente, deformam-se mais. Quanto mais agressivo for o estilo de condução e mais acidentado for o terreno, mais rígida deve ser a suspensão. Caso contrário, com uma suspensão de XC leve, terás uma sensação de condução menos segura em descidas irregulares e íngremes e, portanto, menos divertida. Os ciclistas pesados, bem como os utilizadores de E-MTB, devem optar por uma classe superior para compensar as forças mais elevadas. A propósito: a categoria de suspensões invertidas apresenta valores piores em termos de rigidez de torção sem uma ponte adicional, mas pontua um pouco mais alto na rigidez de travagem.
TIPOS DE EIXO
15 x 100 mm |
Substituiu o 9 x 100 mm e o 20 x 100 mm, que por sua vez foi substituído pelo “Boost”. |
15 x 110 mm (Boost) | O “Boost” foi introduzido pela SRAM e pela Trek em 2010, primeiro na roda traseira (148 x 12 mm) para aumentar a rigidez da roda. A mudança nas suspensões veio logo em seguida. |
20 x 110 / 100 mm |
Padrão atualmente comum apenas em bicicletas de downhill. |
9 x 100 mm e 10 x 135 mm | Padrão ainda presente nas bicicletas mais antigas com aperto rápido. |
Lefty 50 e 60 mm | Padrões especiais para os modelos de braço único Cannondale Lefty. |
No nosso laboratório interno, podemos medir estaticamente os valores de rigidez explicados ao lado. A suspensão é mantida num suporte de teste pelo tubo da direção, tal como numa bicicleta. Um peso pré-determinado puxa a ponta do eixo na direção correspondente. Quanto mais dobrada for a suspensão, menor é a sua rigidez. A deflexão é medida em milímetros e convertida em Newton-metro por grau ou Newton por milímetro. Os valores indicam quantos Newton ou Newton-metros são necessários para torcer ou dobrar a suspensão em 1° ou 1 mm. Neste caso é utilizada a especificação em Nm/°.
COMO CONFIGURAR A SUSPENSÃO
Para ajustar a suspensão, o grande segredo consiste em ter paciência, ajustar aos poucos e aprender que alterações sofreu, podendo posteriormente - através das nossas sensações - configurar da forma que achamos melhor para o nosso estilo de condução ou tipo de trilho.
ENCHER. Ajusta a pressão do ar aproximadamente ao teu peso. A tabela impressa na suspensão dá-te um valor de referência.
Monta-te na bicicleta e coloca o pequeno anel nos vedantes. Não traves, desmonta com cuidado, para que a suspensão não se comprima.
MEDE O SAG. Ou seja, mede o utilizado. Dependendo do tipo de utilização, este deve ser de 15 % (XC) a 30 % (Enduro) do curso total.
REBOUND. Comprime a suspensão com muita força e solta o guiador. Se a roda dianteira saltar do chão, fecha mais o rebound. Se a frente se estender muito lentamente, abre-o um pouco.
COMPRESSÃO. A definição perfeita para a compressão (a velocidade baixa/alta) é normalmente encontrada após alguns percursos. Começa numa posição neutra (meio aberta ou totalmente aberta) e trabalha até chegares à posição ideal.
APLICAÇÕES DE CONFIGURAÇÃO
Existem assistentes inteligentes para te ajudar a configurar a tua suspensão. Aqui tens duas opções da SRAM.
TRAILHEAD. Na aplicação gratuita, podes encontrar modelos de suspensão RockShox até ao ano 2018 por número de série. Recomendações de pressão de ar e cliques, bem como vídeos, ajudam-te na configuração. Há também espaço para anotações.
SHOCKWIZ. Testa a tua suspensão em tempo real. Ligado à câmara de ar, analisa as tuas definições e transmite-as para uma aplicação via Bluetooth. Dá dicas para melhorar. Preço: a partir de 371 euros