A Trek envereda pelo caminho da simplicidade ao reduzir de dois modelos para um e ainda eliminando dois tamanhos. Mas já lá vamos. No entanto, ainda existem muitas referências/modelos pois continua a permitir escolher entre várias cores de quadro além das inúmeras combinações disponíveis no Project One. Esta fusão assenta sobretudo em duas vertentes: a estratégica, ao simplificar a escolha ao consumidor e o processo de fabrico e stock, e a vertente prática, a que nos interessa, de criar uma plataforma que promete ser o melhor de dois mundos.
A Specialized já “fundiu” a Venge na Tarmac e aguardamos pela Scott, para ver se torna a sua Addict mais aero e elimina a Foil ou não. A Giant e a Orbea lançaram recentemente novas versões das suas trepadoras TCR e Orca, respetivamente, portanto ainda irão manter nas suas “fileiras” as Propel e Orca Aero. Não havendo uma clara tendência do mercado nesse sentido, acreditamos que no caso da Trek o objetivo foi mesmo o de juntar o melhor de dois mundos e permitir a um ciclista que procure leveza e aerodinâmica poder ter tudo numa só bicicleta.
Claro que esta decisão levanta questões. Será que a nova Madone poderá ter a leveza e agilidade da Émonda? E será que com esta redução dos tubos consegue manter os níveis de aerodinâmica da geração anterior da Madone? Essas são as questões que a Trek fez questão de esclarecer e que nós vamos tentar confirmar na prática, ou seja, na estrada.
PESO, UM CRITÉRIO ESSENCIAL
Ainda que o peso não seja tudo, a verdade é que é uma métrica incontornável. No plano e a descer já sabemos que é secundário, mas a subir, todas as gramas (a menos) ajudam. E é por isso que bicicletas como a Aethos, a Émonda ou a TCR têm tantos fãs, especialmente em zonas onde as subidas são mais frequentes que o plano. Ora a Trek não podia deixar de abordar este tema e uma das soluções encontradas foi não só reduzir a dimensão dos tubos do quadro, e assim reduzir o material necessário, mas também utilizar um novo carbono, o OCLV 900, que é 20% mais rígido e leve que o 800, permitindo assim poupar alguns gramas. Outra solução encontrada é a nova compactação do carbono dentro dos moldes, resultando em menos excedente de material e melhor rigidez alcançada.
A marca refere que esta nova Madone é 320g mais leve que a anterior e que pesa o mesmo que a Émonda SLR. No entanto, já testámos uma Émonda com o mesmo equipamento desta nova Madone e era cerca de 400g mais leve, portanto ainda há que tentar perceber o que é que não está a bater certo. É verdade que as rodas da Émonda (RSL37) pesam menos 85g que as RSL51 da Madone mas ainda há um diferencial por explicar e a verdade é que, na prática, a Madone tal como foi concebida e montada terá sempre uma pequena penalização.
Agora será que essa pequena penalização de peso se reflete na prática? Porque a verdade é que a componente aerodinâmica é, na maioria dos casos, mais importante. A não ser que as nossas voltas de bicicleta sejam sempre a subir pendentes acima de 5% e sem passar dos 20 km/h. Aliás, vê-se cada vez mais entre os profissionais, a vertente aero ser quase sempre a escolha em quase todas as etapas das grandes voltas pois o que se ganha no plano compensa. Mas também é verdade que no pelotão a velocidade média é maior que entre nós comuns mortais!
AERO Q.B.
Ora com tão pesada herança aerodinâmica da anterior Madone, esta nova geração tinha duas grandes responsabilidades: reduzir o tamanho e peso dos tubos e manter a performance aero. E este compromisso é observado em todo o quadro e não só (guiador, grades, rodas, mas já lá vamos). Os tubos são minimalistas, mas mantêm as formas espalmadas.
Por exemplo, a nível do Isoflow, a Trek realizou mais de vinte simulações virtuais até chegar a esta versão final com as proporções ideais, que confere uma melhor relação entre aerodinâmica, peso e conforto. Claro que mantém o seu formato de certa forma original e que muitos adeptos conquistou, ainda que possa não ser do agrado dos mais tradicionalistas e devido à sua complexidade terá sempre um pouco mais de peso que um desenho tradicional.
Apesar de o novo desenho não implicar obrigatoriamente uma nova geometria, a verdade é que a Trek aproveitou a oportunidade, conforme já referimos, para reduzir o número de tamanhos em que este quadro está disponível (são agora 6 tamanhos, em vez de 8, do XS ao XL). E por isso é bastante provável que agora uses um novo tamanho de quadro (como foi o nosso caso).
Quando encomendarem tenham por isso em atenção não só o tamanho da bicicleta como do espigão de selim e do guiador integrado, pois comprar mais tarde estes componentes tem um custo elevado (680 euros o guiador e mais de 400 o espigão). O melhor é mesmo recorrer a uma loja e, através do Project One, personalizar não só a cor como as medidas destes componentes.
Em termos de tamanho, com o novo escalonamento que a Trek desenvolveu para reduzir o número de tamanhos e simplificar a escolha, esta nova Madone em tamanho L situa-se entre o 56 e o 58 da Émonda e comparando com a geração passada da Madone, está muito mais perto do 58 do que do 56. Ora tendo isto em consideração e ainda a questão do espigão de selim, há que escolher bem o tamanho primeiro e depois, como já foi dito, escolher também os componentes de maneira a completar o fit ainda antes de comprares a bicicleta.
AGILIDADE E AGRESSIVIDADE
São as duas melhores palavras para descrever o comportamento desta máquina. A Madone não é daquelas bicicletas que deixa os seus créditos por mãos alheias. Foi claramente concebida para andar depressa. E se isto é bom para quem quer uma bicicleta de competição, por outro lado afasta quem procura o conforto. É óbvio que se estiveres encantado com esta Madone podes sempre fazer ajustes nos componentes de modo a torná-la mais confortável e tentar amenizar um pouco a agressividade da geometria. Mas não será o ideal. A Madone é mesmo daquelas bicicletas para andar de faca nos dentes.
A sua posição de condução e rigidez de quadro, convidam a andar a fundo. A própria direção, devido ao formato do guiador, exige uma posição agressiva. O guiador com avanço integrado tem um desenho peculiar. Nas laterais é recuado em relação ao centro (onde se junta com o avanço) e apesar de na realidade isto fazer crer que o avanço efetivamente só tem 110mm, a verdade é que tem 130mm e isso influencia o comportamento da dianteira. Fica mais estável a altas velocidades quando vamos nos drops, mas numa condução mais relaxada exige alguma atenção. Até porque nos topos tem apenas 39mm de largura (42mm nos drops), e isto num tamanho L.
Como seria de esperar, as acelerações são rápidas, mais do que na anterior Madone, mas as mudanças de velocidade em subida serão um pouco mais lentas que na Émonda, quase meio quilo mais leve com montagem semelhante. Portanto se a rigidez é a tua preocupação, podes ficar descansado. A Madone é sólida e muito precisa a curvar, depois de nos habituarmos ao guiador.
E só para esclarecer um pouco a questão do conforto, não é que seja uma bicicleta dura. De facto, o Isoflow consegue absorver algumas vibrações. É mais pela posição de condução agressiva, a frente baixa que a muitos de nós obrigará a usar alguns espaçadores.
E agora voltando à rapidez, a Madone é de facto uma bicicleta rápida nas acelerações e permite manter bons ritmos em subida. Rola bastante bem, mas é muito difícil medir a sua eficácia na estrada face à anterior geração. Seria preciso fazer várias experiências, na mesma estrada, com várias medições e esperar que o vento fosse sempre igual… Teremos de confiar no túnel de vento e pensar que nem sempre vamos rolar a velocidades que permitam usufruir da aerodinâmica desta Madone.
Segundo a Trek, esta oitava geração da Madone é tão aerodinâmica como a anterior e 77 segundos mais rápida do que a Émonda - se o ciclista estiver a pedalar a 200 watts e usar os bidões -. A marca também afirma que a uma velocidade média de 35 km/h, a nova Madone SLR pemite poupar 13 watts.
MUITO POR ONDE ESCOLHER
Testámos a versão topo de gama com as rodas Aeolus RSL, o guiador da mesma família, e um Red AXS completo. Mas existe muito mais por onde escolher. Além de dois “níveis” de quadro, a Madone é oferecida com várias montagens caso não tenhas 12.469 euros para esta versão. Os preços começam nos 3.119 euros da Madone SL 5, com Shimano 105 mecânico e quadro com o carbono OCLV 500 (quadro e forqueta pesam apenas 250g mais que o SLR), o que é bastante interessante tendo em conta que se quiseres comprar um quadro separado desembolsas 2.699 euros. Dentro da gama SL tens ainda mais 3 modelos com esta base de quadro e passando ao SLR podes escolher entre 5 versões entre os 8.019€ e os 16.669€.
De ressalvar que esta Madone testada já vinha equipada com o novo Sram Red, onde o principal destaque vai para a redução de peso, mas, em termos de comportamento, interessa destacar a travagem. Além da ergonomia das manetes que foi melhorada, tendo mais espaço para as mãos, é na potência que está a grande evolução. Agora temos potência muito cedo e à medida que vamos apertando vamos tendo ainda mais. Quase parece que a potência de travagem nunca se esgota, há sempre mais alguma consoante precisamos. E não é brusca, o que é bom mesmo nas mãos dos menos experientes.
VALEU ENTÃO A PENA TUDO ISTO?
A questão na cabeça de muitos é se realmente valeu a pena extinguir duas bicicletas que eram excelentes nas suas categorias para criar uma que, inevitavelmente, nunca poderá ser tão boa quando comparada com as outras duas. E a resposta está no uso que lhe vamos dar.
Para quem vive na Serra da Estrela ou numa zona igualmente montanhosa, ficará mais bem servido como uma Émonda, uma Aethos ou uma TCR. E quem rola sobretudo em zonas mais planas ou até com algum sobe e desce alternado (e mesmo em zonas com longas subidas, mas em que o “grosso” da volta se desenrola acima dos 30 kmh) poderá ver alguma vantagem na anterior Madone.
Mas é sobretudo neste segundo cenário que a nova Madone se encaixa melhor. É muito polivalente e por isso será quase tão rápida no plano como a antiga Madone e pouco irá perder para a Émonda nas subidas que possam surgir. Se é este o cenário onde mais pedalas, então a Madone é para ti, assumindo que gostas de uma posição agressiva ou que estás disposto a algumas alterações para adaptar a bicicleta ao teu gosto.
GEOMETRIA
A geometria da Madone revela um caráter desportivo, com uma distância entre eixos curta. O ângulo de direção também é bastante agressivo, chegando quase aos 74º no tamanho L, sendo que nos tamanhos mais pequenos é bastante inferior, o que resulta em maior estabilidade e menor agilidade. No tamanho L, o Stack é de 582, o que significa que está a meio termo entre um desenho super agressivo e um mais confortável. Mesmo assim, é possível que muitos de nós tenhamos de recorrer a espaçadores por baixo do avanço para conseguir uma posição que nos permita enfrentar longas saídas com conforto.
Aspetos positivos: Polivalência de uso, linhas originais e bastante aero para o segmento, mais ágil e leve que a anterior Madone, possibilidade de personalizar pintura e componentes
Aspetos a melhorar: Guiador requer alguma habituação, não oferece o conforto da Émonda.
DETALHES
- O espigão de selim conta com dois parafusos de aperto e só precisas de usar um. Isto significa que tens maior amplitude de afinação. Além disso, existem dois comprimentos de espigão que podes escolher quando compras através do sistema Project One.
- Tanto o guiador como o apoio para o GPS são bastante elegantes. O guiador requer alguma habituação, como explicamos em maior detalhe no teste. O suporte de GPS permite ainda acoplar uma luz ou câmara por baixo do ciclocomputador.
- O Isoflow além de tornar esta bicicleta visualmente inconfundível, funciona como apêndice aerodinâmico e ainda confere, graças ao seu desenho, algum conforto, não só pela difusão das vibrações por mais tubos como pela própria flexão em conjunto com o efeito de “alavanca” amplificado pelo espigão.
- Os bidons da polémica! Muito se fala da forma destes bidons, que não se seguram de pé (fora das grades) e que requerem alguma atenção ao voltar a colocá-las nas grades (só entram numa posição). São detalhes que se ultrapassam e que consoante o ciclista e a volta, podem compensar pela vantagem aerodinâmica que conferem. Para quem não quer, pode usar bidons normais nestas grades.
- Há uma chave removível que pode ser fixada tanto no eixo dianteiro como traseiro. Prático para aqueles dias em que temos um furo e deixámos a multiferramenta em casa.
FICHA TÉCNICA
Quadro e forqueta: Carbono OCLV 900
Tamanhos: XS, S, M, ML, L, XL
Cores: Gloss Carbon, Navy Smoke, Interstellar, Tête de la Course, Carbon Red Smoke e Era White
Pedaleiro: Sram Red 12v 48x35 - 172.5
Desviadores.: Sram Red AXS E1
Manípulos: Sram Red AXS E1
Corrente: Sram Red E1 12v
Rodas: Bontrager Aeolus RSL 51
Cassete: Sram Red XG-1290 10-33 12v
Pneus: Pirelli P Zero Race, 700x28mm
Travões: Sram Red
Guiador: Bontrager Aeolus RSL
Avanço: integrado
Espigão: Madone Gen8 Carbon
Selim: Bontrager Aeolus RSL
Peso: 7.23 kg (sem pedais, tamanho L, com suporte GPS e grades)
Preço: 12.469€
Distribuidor: Trek
Site: trekbikes.com