Competição

O que significa para a UAE Team Emirates o abandono de João Almeida?

O abandono de João Almeida, gregário de luxo de Tadej Pogacar no Tour, implica uma mudança de estratégia por parte da UAE Team Emirates-XRG. Qual será a tática da Visma-Lease a Bike para debilitar Pogacar e o que é que a equipa de Matxin terá de fazer para ganhar o Tour? Debatemos esse tema neste artigo.

Carlos Pinto. Foto: UAE Team Emirates-XRG

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O que significa para a UAE Emirates o abandono de João Almeida

Não há ninguém que não perceba a relevãncia de João Almeida na UAE Team Emirates. Neste Tour, foi o braço direito de Pogacar nos momentos decisivos e ainda tinha um segundo papel: tentar baralhar as contas da Visma, ficando bem classificado na geral de modo a não deixar que todos os ataques da equipa neerlandesa se focassem no esloveno. 

É verdade que até agora Pogacar não mostrou sinais de debilidade, mas todos sabemos o que é que vai acontecer a partir de agora (aliás, já tem acontecido): a Visma vai tentar desgastar o esloveno atacando nestas etapas de montanha que se avizinham.

Se analisarmos os plantéis das duas equipas vemos claramente que a Visma é atualmente mais forte, pelo menos em teoria. Com o abandono de João Almeida, do nosso ponto de vista um dos cinco ciclistas em melhor forma nesta edição do Tour, a UAE perdeu um elemento essencial, que poderia ser uma peça chave na engrenagem da equipa nas etapas que se avizinham nos Pirenéus e nos Alpes. 

Agora, o esloveno terá de contar com o equatoriano Jhonatan Narváez, com o britânico Adam Yates e com o espanhol Marc Soler para as subidas mais duras, mas nenhum deles mostrou no Maciço Central ter capacidade para aguentar o ritmo elevadíssimo que é exigido nas subidas finais, sobretudo quando há mudanças de ritmo.

João Almeida este ano mostrou que tem capacidade para isso e não temos dúvidas de que se ainda estivesse em prova a tática da equipa seria diferente. 

Vingegaard ainda tem Sepp Kuss, Simon Yates e Matteo Jorgenson, além de Victor Campenaerts, uma locomotiva capaz de causar muitos estragos. 

Nas montanhas que se avizinham já todos sabemos o que vai acontecer: Jorgenson vai atacar e tentar debilitar Pogacar e Simon Yates poderá ser a arma secreta, desestabilizando Pogacar, enquanto Vingegaard poderá poupar as suas energias para os momentos certos. 

Pogacar já sabe que não poderá responder a tudo, caso contrário, pode acabar por pagar a fatura, mas se, a partir de agora, jogar taticamente, pode ganhar com isso. 

Há quem diga que a melhor defesa é o ataque. Na maioria das situações, é verdade, mas vejamos o que falta do Tour. Além do desgaste acumulado destes dias, aproximam-se etapas duras e quem souber poupar, poderá sair vitorioso.

Pogacar é, em teoria, mais forte do que Vingegaard. Embora o dinamarquês não tenha dado sinais de fraqueza, ainda não o vimos atacar realmente o campeão do mundo, apenas seguiu na sua roda. Vingegaard está melhor do que no Dauphiné, isso é inegável, embora, do nosso ponto de vista, ainda não esteja a um nível superior ao de Pogacar. 

Por isso, a tática da Visma terá de ser atacar Pogacar e debilitá-lo o máximo possível, para que quando chegar o momento da verdade - um "mano a mano" com Vingegaard - não esteja fresco.

Avizinham-se subidas longas, duras, onde ter resistência tem mais preponderância do que explosividade, sobretudo nos Pirenéus, Mont Ventoux e Alpes. 

Vai ser aí que a Visma vai tentar dinamitar Pogacar. Mas o esloveno tem uma vantagem sobre Vingegaard: mais quilómetros nas pernas, mais células preparadas e habituadas a este nível de desgaste, enquanto o dinamarquês, embora tenha feito vários estágios em altitude, vem de uma lesão e tem menos ritmo de competição. Há quem diga que Pogacar competiu demasiadas vezes este ano e que vai acabar por pagar a fatura, mas é um ciclista jovem e tem uma capacidade de recuperação muito acima do normal. 

Vingegaard tem a vantagem de contar com uma equipa que não está desfalcada e que, até ao momento, tem estado fortíssima. A grande dúvida é qual vai ser a reação do corpo de Vingegaard à terceira semana de prova, tendo em conta a sua preparação. Porque uma coisa é treinar, outra é competir a este nível. 

As jornadas nos Pirenéus e a cronoescalada provavelmente vão provocar alterações na classificação geral, portanto dentro de poucos dias saberemos realmente o estado de forma de ambos.

Por enquanto, o dinamarquês tem uma desvantagem de 1m17 e tem de ser ele a tomar a iniciativa. Ainda não vimos Pogacar desfalecer - embora tenha confessado que sofreu muito na nona etapa - mas Vingegaard não esteve ao seu melhor nível no contrarrelógio de Caen. O que se seguirá? Veremos. Mas temos uma certeza: será memorável!

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