Quem acompanha o calendário World Tour e não só, sabe que, onde estão equipas de topo, geralmente é sinónimo de muitos fãs. Estas provas são preparadas pelo menos com um ano de antecedência e a afluência de público (nas estradas) é tão vital como as audiências televisivas e o retorno gerado pelos media.
Num desporto onde os grandes sponsors são, numa grande proporção, entidades que nada têm a ver com o desporto, mensurar o engagement, o ROI (Return on Investment) e a visibilidade nas mais diversas formas é crucial. É também verdade que há alguns magnatas que não se importam de injetar milhões nas equipas anualmente para saciar uma predileção sua, mas em regra, as equipas de topo têm de saber quantificar o retorno que dão aos seus patrocinadores.
Os organizadores têm de fazer o mesmo, pois também dependem de patrocínios e aqui reside a principal diferença. Para se ter um evento de sucesso não basta ter um percurso que seja do agrado de todos (UCI, ciclistas e responsável pela produção televisiva).
Também é preciso saber atrair o público e neste aspeto há alguns organizadores estrangeiros a dar cartas. Geralmente estes organizadores marcam reuniões mensais com os responsáveis das comarcas, dos Ajuntamentos, Freguesias, Câmaras e Governos Distritais de cada ponto por onde passa cada etapa para que eles próprios sejam uma espécie de embaixador - nas suas comunidades - dessa etapa. A ideia é incutir que essa etapa específica é de tal forma importante para a comunidade que todos devem ajudar na sua promoção e fazer com que seja considerada a etapa mais bem organizada da Volta "A" ou "B". Esses embaixadores de cada etapa depois fazem um trabalho de divulgação junto das escolas, envolvendo professores e alunos, nas igrejas, envolvendo as comunidades religiosas, nos comércios locais (pedindo aos empregadores e aos seus trabalhadores para pararem a sua atividade laboral durante a passagem da caravana, para que haja uma massa humana considerável a assistir ao evento), etc.
Deste modo, servem-se dois propósitos: primeiro, toda a comunidade está envolvida e assim cria-se uma sensação coletiva de apoio ao evento; segundo, evita-se contratempos em termos de segurança, como moradores descontentes por terem o trânsito cortado durante horas a fio sem sequer serem informados atempadamente.
Para além disso, chega a haver uma espécie de concorrência entre os vários "embaixadores" de cada etapa, o que aumenta a qualidade organizativa, sem sequer o organizador ter encargos acrescidos.
Isto faz falta em Portugal. Ao longo dos anos reparámos, nas várias vezes que viemos à Volta ao Algarve, que muitos dos moradores nem sequer sabem que está a decorrer a prova.