Competição

Pogacar vs Vingegaard: novo episódio de uma rivalidade histórica no Tour

O esloveno e o dinamarquês - que nos últimos quatro anos repartiram entre si o primeiro e segundo lugares - lideram a lista de favoritos na Volta a França 2025. Mas não são os únicos. Neste artigo analisamos os principais adversários.

Fernando Belda e Carlos Pinto. Fotos: Sprint Cycling Agency

6 minutos

Pogacar vs Vingegaard

Até à presente época, nunca em mais de cem anos de história da Volta a França dois ciclistas repartiram em quatro edições consecutivas os dois primeiros lugares da classificação geral. Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard mantiveram desde 2021 uma rivalidade que já faz parte dos livros da história tanto do Tour como do ciclismo e a partir deste sábado começa o quinto episódio. Eles são os principais favoritos a ganhar a 112ª edição da prova francesa, embora exista uma lista de outros ciclistas que vão dar luta: Evenepoel, Roglic, Lipowitz, Skjelmose, Almeida, Gall, O´Connor, Buitrago, Carlos Rodríguez, Enric Mas... 

O esloveno da UAE Team Emirates - XRG ganhou de forma surpreendente a Volta a França de 2020, após a cronoescalada de La Planche des Belles Filles, e em 2021 deparou-se com um inabalável Jonas Vingegaard, que se estreava na prova francesa como gregário de Roglic e acabou por assumir a liderança da Jumbo-Visma, assegurando a segunda posição. 

Foi o segundo Tour de Pogacar e o primeiro episódio de uma rivalidade que voltou a fazer correr muita tinta no ano seguinte - 2022 - quando Vingegaard e a sua equipa dizimaram o esloveno a caminho do Col de Granon, após as subidas do Telégraphe e Galibier. Foi uma etapa histórica na qual o dinamarquês assegurou a primeira vitória nesta prova. 

Em 2023, uma queda na Liége-Bastogne-Liége, na qual Pogacar fraturou o escafóide, atrasou a sua preparação e Vingegaard era o favorito. O dinamarquês não demorou muito a demonstrar que era o mais forte naquela edição e a primeira "machadada" aconteceu no contrarrelógio de Combloux (16ª etapa), na qual em apenas 22 km conseguiu uma vantagem de 1m38 sobre Pogacar, que acabou em segundo. O golpe final chegou no dia seguinte, na etapa rainha, a caminho de Courchevel, onde o esloveno viveu o seu pior dia como ciclista profissional. Perante um ataque do dinamarquês, ficou em dificuldades no Col de la Loze e chegou à meta em grande sofrimento e completamente vazio de forças, a 5m46 de Vingegaard, que assim garantiu a sua segunda vitória na Volta a França. 

Em 2024, o cenário inverteu-se e Pogacar vingou-se de Vingegaard. No entanto, o dinamarquês chegou ao Tour afetado por uma grave queda sofrida meses antes na Volta ao País Basco, o que atrasou a sua preparação. Em todo o caso, o ciclista da Visma genhou a 11ª etapa em Le Lioran e durante metade do Tour deu luta. Mas a UAE dominou nos Pirenéus, ganhando no alto de Pla d´Adet e Plateau de Beille, confirmando a terceira vitória  no Tour, além de ganhar as duas jornadas finais - Col de la Couillole e no contrarrelógio de Nice -. A vitória foi expressiva e incontestável, com mais de seis minutos de vantagem. 

A Volta a França 2025 vai marcar um novo capítulo nesta apaixonante rivalidade entre Pogacar e Vingegaard. O ciclista de Klanec é o principal favorito em todas as casas de apostas - incluindo na redação do site www.mountainbikes.pt e da revista Ciclismo a fundo - devido à sua forma atual (nos últimos 12 meses já soma 22 vitórias), além de ter dominado o Critérium du Dauphiné recentemente, batendo - precisamente - Vingegaard, Florian Lipowitz (3º) e Remco Evenepoel (4º). 

Pogacar está a uma vitória de chegar a um número simbólico, os 100 triunfos, e é claramente o ciclista em melhor forma atualmente. Mas será que conseguirá somar a quarta vitória nesta prova? Se o fizer aproxima-se de grandes mitos como Anquetil, Merckx, Hinault, e Indurain, todos eles com cinco vitórias. O percurso parece desenhado à sua medida e ao seu lado estará protegido por uma guarda pretoriana composta por João Almeida - também ele em grande forma -, Adam Yates, Pavel Sivakov, Jhonatan Narváez, Nils Politt, Marc Soler e Tim Wellens.

O seu principal rival - o segundo favorito na maioria das casas de apostas - competiu muito pouco este ano, mas a sua equipa alega que os dados de potência são prometedores. Será que este foco a cem por cento no Tour vai ser benéfico? Há quem diga que Pogacar competiu demais no início desta temporada e que vai pagar a fatura mais cedo ou mais tarde. Será que o dinamarquês vai beneficiar disso? Jonas Vingegaard venceu a Volta ao Algarve, abandonou a Paris-Nice após uma queda que provocou uma concussão cerebral e terminou o Dauphiné em segundo lugar, atrás de Pogacar. É obcecado com a Volta a França e o objetivo é claro: somar a terceira vitória nesta prova. Além disso, referiu recentemente que o seu estado de forma atual é melhor do que o que tinha em 2024 e 2023. 

Se alguém pode derrotar Pogacar é ele e a sua equipa: Matteo Jorgenson, Simon Yates, Wout van Aert, Sepp Kuss, Tiesj Benoot, Victor Campenaerts e Edoardo Affini. 

OUTROS CANDIDATOS AO TOP5

Parece dificil imaginar um vencedor da Volta a França 2025 que não seja Pogacar ou Vingegaard, mas há um conjunto de ciclistas dispostos a tudo para chegar ao pódio em Paris. 

Nome como Primoz Roglic e Remco Evenepoel são óbvios. O esloveno da Red Bull-BORA-Hansgrohe é um ciclista corajoso, experiente e tem qualidade mais do que suficiente, mas tem sofrido quedas em momentos cruciais. No entanto, já ganhou quatro edições da Volta a Espanha e uma da Volta a Itália, portanto só lhe falta ganhar na Volta a França e esse é o seu objetivo número um. Como tem 35 anos, esta será uma das últimas oportunidades para brilhar no Tour, e na sua memória está certamente o ano de 2020 quando perdeu a hipótese de ganhar esta prova precisamente para o jovem Pogacar na Planche des Belles Filles. 

Por seu lado, Remco Evenepoel pretende repetir o pódio que alcançou no seu ano de estreia no Tour (2024). Aliás, o belga ganhou o primeiro contrarrelógio da prova e ganhou a camisola branca (líder da juventude), demonstrando que pode estar entre os melhores nas grandes etapas de montanha e acabar nos lugares cimeiros em provas de três semanas. O líder da Soudal Quick Step ganhou o Campeonato belga de contrarrelógio, somente alguns dias após ter sido quarto classificado no Dauphiné. Remco confessou que tinha de melhorar as mudanças de ritmo e a resistência nas subidas, algo que trabalhou com o seu treinador nos últimos dois meses. O campeão olímpico de estrada e de contrarrelógio tem a seu favor o contrarrelógio de Caen de 33 km que é plano, portanto poderá ganhar vantagem face aos seus rivais mais diretos. 

Há outros ciclistas que, numa segunda linha, digamos assim, têm qualidade para ficar no top 5, apesar de serem gregários de luxo dos seus chefes de fila. Falamos obviamente de João Almeida, Matteo Jorgenson e Florian Lipowitz. O luso da UAE Emirates é combativo, nunca atira a toalha ao chão e após ter mudado de treinador está mais forte na montanha e já consegue fazer mudanças de ritmo, algo essencial para ganhar corridas. Mentalmente também é muito forte e após uma temporada espetacular - venceu a Volta ao País Basco, a Volta à Romandia e a Volta à Suíça, além de ter sido segundo na Volta à Comunidade Valenciana e Volta ao Algarve, bem como sexto na Paris-Nice - está na melhor forma da sua vida, por isso acreditamos que é possível, embora ambicioso, fazer uma dobradinha (Pogacar em primeiro e Almeida em segundo). 

O norte-americano Jorgenson (8º na Volta a França de 2024) foi sexto no Dauphiné e ganhou pela segunda vez a Paris-Nice. Será o segundo chefe de fila da Visma-Lease a Bike, caso Vingegaard falhe. Por outro lado, o alemão Lipowitz (de 24 anos) continua a ganhar experiência e confiança, como se pode ver pelos resultados mais recentes (foi 3º no Dauphiné, 4º na Volta ao País Basco e 2º na Paris-Nice), confirmando que está preparado para a dureza das provas de três semanas (em 2024 foi 7º na Volta a Espanha). Vai ser a sua estreia na Volta a França e embora não estivesse previsto participar no Tour, os seus dados de potência e o resultado final no Dauphiné fizeram com que os responsáveis da Red Bull-BORA decidissem levar este fantástico ciclista. A grande dúvida é: afinal de contas, o líder da equipa será Roglic ou Lipowitz? Em teoria será o esloveno, mas a estrada - e sobretudo as etapas de montanha - é que vão ditar a resposta. 

Como referimos no início do artigo, há outros ciclistas com capacidade de lutar pelo top 5 ou top 10. Falamos de Felix Gall (8º no Tour de 2023 e atualmente em grande estado de forma), Ben O´Connor (4º no Tour de 2021 e 2º na Volta a Espanha de 2024), Mattias Skjelmose (vencedor este ano da Amstel Gold Race e 5º na Volta ao País Basco), Santiago Buitrago (10º no Tour de 2024), Thymen Arensman (ficou três vezes no top6 em grandes voltas), Tobias Halland Johannessen (5º no Dauphiné), Oscar Onley (3º na Volta à Suíça), Michael Storer (10º na Volta a Itália e vencedor do Tour dos Alpes) e os espanhóis Carlos Rodríguez e Enric Mas (ambos já ficaram no top5 nesta prova). Rodríguez foi 5º em 2023 e 7º em 2024, enquanto Mas foi 5º em 2020 e 6º em 2021. 

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