Este final da Volta a Portugal foi um dos mais emocionantes dos últimos anos. Em Viana do Castelo tudo estava em aberto e apesar de ser um contrarrelógio em subida curto com apenas 18 km, todos sabiam que poderia haver mudanças na classificação geral. Primeiro, porque ninguém sabia se Stussi não iria quebrar neste dia final. Segundo, porque Henrique Casimiro, a somente 45 segundos de Stussi na classificação geral, não era um especialista no contrarrelógio e, para além de tentar ganhar a Volta, a sua maior preocupação era não perder o segundo posto.
Terceiro, porque António Carvalho demonstrava estar em grande forma e como especialista em contrarrelógio (embora seja um grande trepador), tinha reais aspirações a subir ainda mais na classificação geral.
Com todas estas cartas na mesa, obviamente a ansiedade apoderou-se dos principais homens da geral e nas horas que antecederam este crono sentia-se o nervoso miudinho. As típicas alterações de última hora em termos de carretos, rodas e mesmo de capacete demonstraram que esta diferença mínima na classificação geral se transformou em agonia. Pudera, afinal em Viana do Castelo estavam milhares de pessoas a assistir às Festas de N. Sra. da Agonia.
O contrarrelógio começou tarde (já passavam das 17h) e terminou perto das 20h e, como já se antecipava, ocorreram mesmo grandes alterações na classificação geral. Stussi foi o último a partir, o que lhe trouxe vantagens pois partiu com menos calor e recebeu muitas indicações dos seus colegas em termos de percurso e quais os melhores tempos nos pontos intermédios. Foi o terceiro melhor no contrarrelógio, mesmo assim foi o suficente para ganhar a Volta, mas também para dilatar a margem que tinha face ao segundo e terceiro.
O mais rápido neste domingo no Alto de Santa Luzia foi o espanhol Txomin Juaristi, da Euskatel Euskadi, conseguindo assim ficar em segundo lugar da geral, lugar que "roubou" a Henrique Casimiro (Efapel), que acabou por cair para o sexto posto. António Carvalho (ABTV Betão/Feirense) conhece esta subida como a palma da sua mão e como bom contrarrelogista que é fez o quarto melhor tempo, subindo ao terceiro lugar e confirmando o posto de melhor português.
Tanto Henrique Casimiro (Efapel) como Artem Nych (Glassdrive/Q8/Anicolor), os homens que mais perto estavam de destronar a Amarela de Colin Stüssi à entrada da última etapa, com diferenças de 45 segundos e um minuto, não fizeram bons tempos, ou pelo menos, não tão bons para garantirem a manutenção no pódio. O russo gastou mais 54 segundos que o vencedor e Casimiro 1m24.
AS OUTRAS CAMISOLAS
O suíço vencedor da Camisola Amarela Continente demonstrou ao longo de todo o contrarrelógio uma cadência muito igual, mesmo nos pontos mais difíceis do empedrado que levaram a corrida desde a zona ribeirinha de Viana até ao Monte de Santa Luzia, mas foi o ritmo certo para fazer uma boa marca e vencer a Volta.
Com a Classificação por Pontos praticamente definida de véspera, mas com pontos ainda em jogo neste final, foi o checo Daniel Babor (Caja Rural/Seguros RGA) quem vestiu por último a Camisola Laranja Galp.
Em aberto para o derradeiro dia de Volta estava também, e por uma diferença de apenas sete segundos, a luta pela Classificação da Juventude. Afonso Eulálio (ABTV Betão/Feirense) bem tentou, mas acabou derrotado pelo espanhol Jaume Guardeño (Caja Rural/Seguros RGA) que garantiu a Camisola Branca Jogos Santa Casa.
As contas da Montanha é que estavam já fechadas e o vianense César Fonte (Rádio Popular/Paredes/Boavista) só precisava mesmo de chegar ao fim para festejar “em casa” a conquista da Camisola das Bolinhas Azuis Europcar.
O Prémio Combinado Carclasse que soma a Classificação Geral, dos Pontos e da Montanha foi para Colin Stüssi.
VITÓRIA SUÍÇA NÃO É INÉDITA
Colin Stüssi foi o segundo corredor suíço a vencer a Volta a Portugal. Em 2001 o estreante foi o simpático Fabian Jeker que alinhava pela equipa portuguesa Milaneza/MSS. Ao longo da carreira Jeker participou em todas as grandes voltas como o Tour, o Giro, a Vuelta e, claro, a “Portuguesa”.
STUSSI É O 23º VENCEDOR ESTRANGEIRO NA VOLTA A PORTUGAL
Aos 30 anos esta é a vitória mais importante que o suíço de 30 anos já alcançou na carreira. Com toda a certeza não deverá esquecer tão depressa a passagem por Portugal, o dia em que vestiu de Amarelo na Serra do Larouco, em Montalegre, e a subida final ao Santuário de Santa Luzia, em Viana do Castelo, onde confirmou o triunfo. Este sucesso junta-o à vitória no Tour de Rhodes, na Grécia, em 2017.
Na história da Volta a Portugal, Colin Stüssi é o vigésimo terceiro vencedor estrangeiro. O primeiro foi o belga Antoine Houbrechts, em 1967, da equipa Flandria e imediatamente antes de Stussi venceu o uruguaio Mauricio Moreira, no ano passado com a Glassdrive/Q8/Anicolor. Se tirarmos Stüssi da equação, para encontrar o último estrangeiro vencedor de uma equipa igualmente estrangeira na Volta a Portugal é preciso recuar até 2006. Foi há 17 anos que o espanhol David Blanco venceu ao serviço da Comunidad Valenciana.
VOLTA A PORTUGAL É A VITÓRIA MAIS SONANTE DA EQUIPA VORARLBERG
A vitória de Colin Stüssi na “Portuguesa” representa para a Vorarlberg, conjunto criado em 1999 e que nunca correra em Portugal, o maior êxito dos últimos anos. Apesar de ter sido a primeira equipa austríaca de ciclismo a participar em provas UCI ProTour teve apenas um ou outro resultado secundário assinalável. Em 2015 venceu a Volta à Áustria com Victor de la Parte, espanhol que correra numa equipa portuguesa no ano anterior.