1. NINO SCHURTER, DÉCIMO TÍTULO MUNDIAL
A prova de XCO masculina foi uma batalha incrível entre vários corredores, com mudanças de liderança em várias ocasiões, com David Valero, Nino Schurter e Tom Pidcock a serem os principais protagonistas. Na última volta, Schurter atacou e só o espanhol conseguiu seguir a sua roda. O suíço voltou a demonstrar que quando está em forma é imparável e tem uma leitura da corrida impressionante, antecipando os movimentos dos seus adversários. Com esta vitória, assegurou o seu décimo título mundial. Valero cortou a linha de meta com um atraso de somente 9 segundos, tendo a medalha de bronze ficado para o italiano Luca Braidot. Schurter tornou-se uma lenda no BTT, tal como foram Thomas Frischknecht, John Tomac, Rune Hoydahl, Julien Absalon, Jose Antonio Hermida, entre outros.
2. VALERO ROÇOU O ARCO-ÍRIS
David Valero voltou a colocar o BTT espanhol num pedestal, após alguns anos em que a seleção espanhola andou à deriva por falta de resultados. Só um estratega como Nino Schurter conseguiu eliminar o sonho de Valero, que tentou nestes Mundiais, tal como em outras provas que assistimos, entrar na frente nas zonas técnicas finais. Mas Schurter tinha a lição bem estudada e sabia que não podia vacilar. Após a medalha de bronze olímpica, Valero soma agora a medalha de prata neste Mundial e vai lutar pela Taça do Mundo, certamente com muito mais confiança do que no passado. "Estou contente com o segundo lugar, mas tem um sabor agridoce. Na parte final faltou-me mudança de ritmo, mas estou feliz por conseguir esta medalha nas vésperas da última prova da Taça do Mundo".
3. PAULINE FERRAND PREVOT CONSEGUE A PRIMEIRA DOBRADINHA
Pauline Ferrand-Prévot converteu-se na primeira betetista na história a ganhar os títulos de XCC e XCO nos Campeonatos do Mundo de BTT. A vitória na prova de Short Track foi monumental, por isso, a francesa encarou a prova de domingo (XCO) com mais confiança do que nunca. Liderou a primeira subida do percurso e a partir daí foi aumentando a sua vantagem. A certa altura tinha uma vantagem tão confortável que decidiu não arriscar mais nas descidas técnicas. "Foi uma corrida muito dura e tomei a decisão de usar uma bicicleta rígida devido às vantagens que proporciona nas subidas em termos de velocidade. Foi um pouco arriscado, mas queria ir muito rápido desde o início e ganhar margem. Esta vitória parece um sonho".
4. FESTA FRANCESA NO DOWNHILL MASCULINO
O australiano Troy Brosnan tinha o melhor tempo numa altura em que só faltam chegar à meta 5 atletas. No entanto, quando Loic Bruni completou a sua descida, o placard mostrava que o francês tinha baixado em 4 segundos o melhor registo. Esta descida fez-nos lembrar as melhores descidas do atleta da Specialized em outras ocasiões, sendo pragmático, suave e enfrentando as linhas mais duras como se fossem um passeio no parque. O seu compatriota Loris Vergier também fez uma descida limpa, sem erros, mas mesmo assim ficou a 3 segundos de Bruni, enquanto Amaury Pierron foi o último a partir, fazendo o segundo melhor tempo, ou seja, foi um pódio totalmente francês. Com este resultado, Bruni é o quarto atleta da sua terra natal a envergar a camisola do arco-íris. "Esta temporada não tem sido a melhor, mas fiz tudo o que era possível para estar preparado para o Mundial. Gostei muito da prova e dei tudo o que tinha. Nunca tinha vencido em França e ainda por cima consegui ganhar os Mundiais, o que é uma loucura. Estou muito feliz."
5. VALI HOLL JÁ VENCE NA CATEGORIA ELITE
No sábado, Vali Höll tornou-se a primeira campeã do mundo de downhill da Áustria, graças a uma descida "sem espinhas". Nina Hoffman chegou a estar na liderança com um tempo - aparentemente - difícil de bater. Isto numa altura em que só faltavam descer três atletas. A francesa Myriam Nicole foi a seguinte a partir do gate e no terceiro setor estava dois segundos à frente de Hoffman, no entanto perdeu muito tempo nos últimos setores do percurso, acabando no segundo lugar. Depois foi a vez da descida de Höll. Fez uma descida sem erros, bastante homogénea e conseguiu retirar 0.906 segundos ao melhor tempo, garantindo a medalha de ouro. A única atleta que poderia impedir o título de Höll era a suíça Camille Balanche, mas fez somente o quarto melhor tempo (lembramos que esta atleta regressou à pouco tempo ao Downhill após ter sido operada à clavícula). Aos 20 anos de idade, Höll não poderia estar mais contente: "Antes da prova, pensei que se ganhasse seria surreal, mas nunca pensei que fosse realmente possível. Nem sei como é que consegui andar tão rápido".
6. MARTÍN VIDAURRE FOI BATIDO NOS SUB23
O grande dominador da categoria sub23 nos últimos anos, o chileno Martin Vidaurre, não conseguiu despedir-se da categoria da forma como gostaria. Em Les Gets tentou destacar-se do grupo que estava na liderança, mas a sua vantagem não foi suficiente, facto que foi aproveitado pelo italiano Simone Avondetto e pelo francês Mathis Azzaro, que conseguiram apanhar o chileno e ultrapassá-lo, decidindo a vitória entre ambos. O italiano acabou por ser o vencedor. Também o suíço Luca Schatti conseguiu ultrapassar Vidaurre, deixando-o fora das medalhas. Na prova feminina, Line Burquier fez aquilo que já se antecipava, ganhando o título no seu primeiro ano na categoria sub23, ainda por cima um ano após ter vencido o título na categoria júnior.
7. A DECEÇÃO DE TOM PIDCOCK
Depois da forma como Pidcock ganhou os Campeonatos da Europa, todos esperavam que o britânico ganhasse o Mundial. No entanto, pode-se dizer que o "karma" desempenha um papel vital em alguns casos. Pidcock fez declarações que não caíram bem nos bastidores das equipas, dizendo que os atletas não treinavam o suficiente. Além disso, mostrou ter uma autoconfiança muito acima da média, o que pode ter ditado o defecho que todos vimos. Nesta prova, estiveram presentes atletas que não estavam no Europeu e que desempenharam um papel importante no desenrolar da corrida. Pidcock foi obrigado a fazer uma corrida de trás para a frente, o que o desgastou, mas rapidamente ocupou um lugar de liderança. Tentou atacar várias vezes, mas desta vez não conseguiu, dado que corredores como Valero, Schurter e Braidot responderam sempre às suas tentativas, e inclusive conseguiram deixá-lo em apuros, quando descolou. Sofreu dois percalços na zona mais técnica e um furo, descartando-o da luta pelas medalhas. Ficou muito frustrado e isso ficou visível quando teve de ir à zona de assistência da sua seleção.
8. JOLANDA NEFF FEZ UMA LEITURA DA CORRIDA FENOMENAL
Embora a grande dominadora na prova elite feminina tenha sido Ferrand-Prevot, todas as atenções estavam centradas na luta pelas medalhas de prata e de bronze. Se a quantidade de fãs atribuísse medalhas, Jolanda Neff tinha obtido a de ouro, tal era a legião de adeptos da betetista suíça. Jolanda foi, juntamente com Loana Lecomte, uma das atletas que seguiu o seu próprio ritmo, mas a suíça soube ler perfeitamente a corrida e protagonizou uma das suas conhecidas "marcha-atrás", deixando-se cair na classificação para estabilizar o ritmo cardíaco e recuperar o andamento certo. O objetivo era deixar a própria dureza do percurso eliminar atletas que estavam claramente num ritmo muito acima das suas capacidades e, no caso dela, fazer uma recuperação bem ao seu estilo, o que chegou a acontecer, subindo até ao segundo lugar. Voou nas zonas técnicas e demonstrou que é realmente uma atleta sobredotada.
9. RAQUEL QUEIRÓS OBTÉM MELHOR RESULTADO DE PORTUGAL NO MUNDIAL
Portugal tem neste momento duas atletas sub23 de altíssimo nível em Portugal, Raquel Queirós e Ana Santos, representando ambas equipas espanholas. Ana Santos ainda está a recuperar de um problema de saúde, portanto não foi convocada e Raquel Queirós é uma sobredotada, como provam a vitória na Volta a Portugal feminina em 2021, a geral da Taça de Portugal, o Campeonato Nacional e o nono lugar no Europeu. Neste Mundial foi 12ª, embora a 4m da vencedora, a francesa Lina Burquier, que liderou desde a segunda das seis voltas. A Raquel foi consistente ao longo da prova e caso se mantenha com este ciclo de provas internacional, ganhando ritmo, poderá evoluir muito mais. Foram os últimos Mundiais da Raquel nesta faixa etária e com resiliência e trabalho, não temos dúvidas de que tem estofo para chegar mais além.
10. GONÇALO BANDEIRA DE VOLTA À COMPETIÇÃO
O jovem Gonçalo Bandeira esteve afastado destas lides algum tempo e o seu regresso brindou-nos com um 31º lugar na prova de Downhill Masculina. É o segundo melhor resultado de sempre de Portugal em Mundiais de DHI na categoria de elite masculina. Se tivermos em conta que a diferença entre o primeiro e o 31º é de apenas 11 segundos, dá para ter a noção de que esta modalidade anda no fio da navalha. O jovem lousanense tem experiência internacional e costuma treinar naquela que é a meca da modalidade, a Serra da Lousã, onde ocasionalmente recebe alguns dos melhores atletas do Mundo, inclusive alguns dos que estiveram em Les Gets. As lesões são frequentes nesta modalidade e o Gonçalo já tem a sua maquia para contar aos netos daqui a muitos anos, mas é atualmente um dos melhores atletas nacionais e que, com mérito, representou as cores lusas. “O Gonçalo fez uma boa corrida e conseguiu um dos melhores resultados de sempre para Portugal nesta disciplina. Ainda é jovem e a indicação que aqui deu hoje é a de que tem um grande futuro na modalidade”, disse o selecionador nacional, Pedro Vigário.