Este evento reuniu cerca de 70 participantes que vieram à procura acima de tudo de um desafio, pois se há coisa que este percurso praticamente não tinha eram zonas planas e de descanso. De fato, a altimetria, ainda que possa parecer razoável nos números, atinge-nos de forma impiedosa, como falaremos mais à frente. Ainda que haja sempre um fator competição, o caráter deste Granfondo era para a maioria sobretudo lúdico e de superação pessoal.
A vila de Nordeste, sede de concelho nesta zona da ilha, foi o palco para a partida e a chegada desta aventura. No menu estavam dois pratos, o médio e o granfondo. O médio contava com 86 km e 1765m de subida enquanto que o Granfondo anunciava 118 km com 2550m de acumulado.
A partida foi dada pouco depois das 9h da manhã e o sol que já brilhava assim como a temperatura do ar bastante amena anteviam momentos bem “suados”.
No entanto, os primeiros 27 km iriam ser relativamente calmos, pois a organização sugeriu um ritmo controlado até chegar a Povoação. Lá teríamos um primeiro abastecimento e então seria dada uma nova “partida” para o resto da “viagem”.
Já em ritmo livre e cada um por si, “levámos” logo com uma subida de 6 km com 5.7% de inclinação para retomar as hostilidades. Estávamos agora com 33 km no “bucho” e o GPS já marcava quase 1000m de acumulado. E logo num dia destes as pernas pareciam não querer colaborar. São daqueles dias que até queríamos forçar o andamento mas as pernas parecem “vazias”. Restava ir gerindo e apreciando as paisagens incríveis que esta ilha proporciona.
SIGA PARA NORTE
Depois de explorar o sobe e desce do sul da ilha, foi tempo de rumar em direção a Norte para um dos ex-libris de São Miguel, as Furnas. Não chegámos a entrar na povoação, pois iria ser o caos com tanto turista, mas o melhor estava incluido: rolar no empedrado que circunda a espetacular lagoa.
Deu não só para apreciar a beleza indescritível do local, como para apreciar também uma das poucas retas deste percurso, aliás, essencial para dar algum descanso às pernas porque para podermos sair dali tínhamos de vencer mais uma subida, mas desta vez com secções a 20%!
VÊ AQUI O VÍDEO:
AINDA NO GRANFONDO
Nesta fase já o médio e o granfondo iam em direções opostas e eu tinha-me alistado no percurso maior. Mas, mais à frente, e já com mais 500 ou 600m de acumulado, comecei a equacionar se teria pernas para cumprir o objetivo. E ao chegar ao Norte da ilha, já bastante desgastado pelo percurso e pela bicicleta de aluguer, decidi que iria “sair” do Granfondo e seguir o percurso do Médio.
Caso fosse para o Granfondo iria certamente ser derrotado pelos 8km a 8% que ligam a zona de Fenais da Ajuda ao Salto do Cavalo, um dos miradouros mais altos da ilha, situado a quase 800m de altitude. Um pouco antes desta separação dos percursos, estive uns minutos no abastecimento de Lomba da Maia. Aqui tínhamos não só o belíssimo ananás dos Açores como outras iguarias como queijos e doces, bolo lêvedo, presunto e, para aqueles que já estavam por tudo, até tinto e cerveja fresca havia! E por mais retemperador que este momento tenha sido, estava mesmo decidido que iria seguir rumo à meta pelo percurso do médio.
PERTO, MAS TÃO LONGE
O GPS marcava 75 km, mas as pernas traduziam esse número para algo com três dígitos. E apesar de já ver placas para a vila de Nordeste, a verdade é que os 30 km finais não iam ser fáceis. Mais uma vez, procurei, sem sucesso, por uma zona plana. Aqui ou se sobe ou se desce! E assim foi. Cada momento de descontração e adrenalina a descer, era sucedido de uma bela e inclinada subida. Foram 30 km neste registo elevando a altimetria até uns 2302m que mais pareceram 3000m.
Quem seguramente teve (muito) mais pernas que eu, foram os vencedores. Em termos da “competição” em si, no Granfondo a equipa Credibom/LA Alumínios/Marcos Car dominou os acontecimentos, tendo imposto um ritmo forte até ficarem só os 3 elementos da equipa. João Medeiros, João Oliveira e Gonçalo Leaça seguiram juntos até final tendo entre eles decidido que era por essa ordem que haveriam de cruzar a meta, 4h35m16 depois de partirem.
O primeiro “amador” a cruzar a meta foi Romeu Sousa (Pedro Miguel Dinâmica - Núcleo Sporting de São Miguel) já a 5m29s7 do trio. Entre as senhoras, Séfora Ferreira foi a única participante no Granfondo, terminando esta aventura a solo após 5h37m44.
As outras duas participantes femininas alinharam no Mediofondo e foram elas Andrea Costa (CDASJ/Cyclin ́Team/Município Albufeira) e Elisabete Costa, com a atleta da casa a terminar com 4h27m52, deixando a única “adversária” a quase 8 minutos depois de terem feito grande parte do trajeto juntas.
Quanto aos masculinos do Mediofondo, também houve hatrick, desta vez da equipa Pedro Miguel Dinâmica - Núcleo Sporting de São Miguel. Milton Resendes bateu a poucos metros da chegada os seus colegas de equipa Rui Melo e Emanuel Carvalho por 2.5 e 4.7 segundos, respetivamente, também após uma prova quase toda ela realizada em conjunto.
QUEREMOS MAIS
Há dias que não correm tão bem e isso deixa-nos com vontade de repetir e voltar a tentar num dia em que estejamos em condições (leia-se “com pernas”). Por isso aguardamos com expectativa a próxima edição deste evento. A Ilha de São Miguel oferece cenários e uma altimetria que não existem no continente. E isso por si só já é motivo para quem gosta destas andanças marcar já no calendário de 2026 esta participação. A Associação de Ciclismo dos Açores desenvolveu um trabalho exaustivo para oferecer aos participantes uma experiência única e esperamos que consigam mais e atempados apoios para que possam elevar este evento ao estatuto que merece.
Mesmo assim, e com os apoios obtidos, conseguiram entregar aos participantes um evento bem organizado a todos os níveis, tendo em conta o número de participantes. Esperamos que este evento cresça em notoriedade ainda que não seja um percurso para as massas.
A altimetria é impiedosa, pelo menos para aqueles que vivem em zonas planas do continente, o percurso tem algumas zonas que se tornam perigosas pelo piso, inclinação e demais utentes da via, exigindo destreza e bom senso na condução da bicicleta, e seria logisticamente complicado conseguir trazer num mesmo fim‑de‑semana milhares de pessoas e respetivas bicicletas para São Miguel.
Por isso, se ficaram com vontade, planeiem já! Em baixo deixamos algumas dicas:
- Voo para Ponta Delgada em Outubro de 2026: a partir de 80 Euros (voo direto, não inclui transporte da bicicleta)
- Mais de 350 unidades hoteleiras com preços a partir de 45 Euros por noite
- Existem algumas lojas que alugam bicicletas de estrada: https://monbike.net/aluguer/ - https://azoresbikeshop.com/en/rent/road-carbon-frame-disc/rent/step-1/ - https://www.lojabicicletariaazores.com/bike-rental
- Além de poderem participar no Granfondo ou Mediofondo, podem explorar as ilhas mais próximas. Santa Maria tem um Cycling Center com vários percursos de estrada, gravel e BTT definidos para quem quiser pedalar: https://turismo.azores.gov.pt/cyclin-azores/. Fica atento ao nosso site, porque vamos publicar um artigo em breve sobre isto.