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Homenagem a Marco Pantani

Marco Pantani morreu há precisamente duas décadas. Foi um dos melhores trepadores da história e o último vencedor do Giro e do Tour no mesmo ano (1998). 

CARLOS DE TORRES (EFE). FOTO: MONDELO (EFE)

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Homenagem a Marco Pantani

"Em memória de Marco Pantani, um grande campeão vitima da Justiça italiana, um homem bom e generoso que sempre perdoou toda a gente. Estará sempre no nosso coração com o seu sorriso. Iremos lembrarmo-nos sempre de ti". Era mais ou menos isto que estava escrito em 2005 na placa em Cesenatico do "Pirata das montanhas" um dos melhores trepadores da história, o último vencedor do Giro e do Tour no mesmo ano (1998). 

Mais tarde, em 2014, o texto dessa placa foi alterado por outro "Em memória de um grande campeão que ganhou o Giro e o Tour e fez sonhar milhões de seguidores". Pantani faleceu no Hotel Le Rose de Rimini no dia 14 de Fevereiro de 2004, partindo o coração de muitos fãs de ciclismo, naquele dia de São Valentim. 

As referências a Pantani voltam este ano devido à tentativa do esloveno Tadej Pogacar tentar fazer a dobradinha Giro/Tour. Aquela façanha do indomável Pirata é apenas mais um dos factos concretizados por um mito que ainda hoje faz vibrar muitos fãs. Poucos ciclistas foram tão venerados como se fossem um Deus. 

O Giro de Itália utilizou na sua 100ª edição o slogan "Amore infinito" para relembrar Marco Pantani. É uma boa deixa para recordar um ciclista que fez sonhar milhares de fãs cada vez que o seu corpo franzino (1,72m e 57 kg) atacava nas subidas mais prestigiadas do ciclismo, como aquela que lhe deu a vitória no Alpe d´Huez, no Tour de 1997. 

DÚVIDAS INFINITAS, E UMA RESOLUÇÃO

Um ano depois da sua dobradinha, ficou gravada para sempre a data de 5 de Junho de 1999 na Madonna de Campiglio, durante o Giro, dois dias antes de ganhar a corrida. Nesse dia, 10 ciclistas foram ao controlo antidoping. Pantani ultrapassou 50% a taxa de hematócrito permitido e teve de abandonar a competição. Foi o princípio do fim, como ciclista e como pessoa. 

A sua morte não só abateu o mundo do ciclismo, mas também foi o início de uma série de suspeitas de todo o tipo que abriram uma longa etapa judicial que ainda continua a gerar algumas dúvidas. A conclusão de que não se tratou de um assassinato, mas sim de uma overdose, nunca será aceite por alguns dos amigos próximos e seguidores. A investigação da promotora Elisabetta Melotti ainda não foi formalmente enviada ao gabinete do juiz de instrução, mas também não surgiram novos elementos.

A família, em particular a mãe de Pantani, Tonina Belletti, não para de lutar para provar que a morte do seu filho se deveu a causas externas. "O Marco não estava sozinho na noite que morreu, havia duas escoltas com ele", disse Tonina aos agentes da unidade de investigação do departamento operacional de Rimini. 

Tonina também forneceu ao Ministério Público novas testemunhas que conheciam o Pirata, mas que não chegaram a ser inquiridas, porque foram consideradas testemunhas pouco fiáveis. Todos os que estiveram com o ciclista nos dias anteriores a 14 de Fevereiro de 2004 foram ouvidos: amigos, mulheres e empregados de estabelecimentos frequentados por ele. O Supremo Tribunal Italiano absolveu Fabio Carlino, que tinha anteriormente sido condenado a quatro anos e seis meses de prisão por ter fornecido a droga que causou a morte a Marco Pantani. 

As investigações concluíram que Pantani morreu sozinho no quarto (que estava fechado por dentro), principalmente devido à ação de drogas psicotrópicas. Foram excluídas várias hipóteses levantadas pela família sobre uma suposta intervenção da Camorra (máfia) no Giro de 1999, quando Pantani foi excluído devido ao hematócrito demasiado elevado. A investigação do promotor do Ministério Público Paolo Giovagnoli encerrou o caso após um novo relatório do médico-legista Franco Tagliaro mencionar que o ciclista italiano morreu devido a uma mistura de drogas e medicamentos.

"Ainda tenho uma paixão enorme pelas bicicletas e pelo ciclismo, onde a força humana se manifesta através do cansaço e do sacrifício. Estes valores são muito importantes para mim e motivam-me a entregar-me sem reservas aos meus tifosi", disse Pantani no dia 15 de Abril de 2003, quando tinha 24 anos e irrompeu entre os grandes ciclistas desse tempo. 

Tudo começou como uma brincadeira de crianças, pelo gosto de Pantani, enquanto criança, em mostrar as suas habilidades em cima da bicicleta aos seus amigos. As primeiras pedaladas foram dadas na bicicleta da sua mãe e rapidamente todos viram que tinha futuro no mundo do ciclismo. Depois de ganhar o Giro e o Tour de 1998, bem como a medalha de bronze no Mundial de Duitama (1995), tornou-se uma lenda, mas também foi o início do caminho para o desespero. 

Com o passar do tempo, o ciclismo passou a ser um emprego. Fui muito pressionado e, por último, humilhado", disse Marco Pantani após ter anunciado o final da sua carreira. Tornou-se uma vítima de si mesmo, de uma personagem, de todos. 

Outro mito, mas do futebol, o argentino Diego Maradona, atreveu-se a opinar quando Pantani faleceu. "Todos somos culpados. A notícia criou-me uma grande tristeza, porque conheci o Marco em Cuba. Percebi de imediato que todos temos culpa do que aconteceu, dado que quando o Pantani ganhava estávamos todos perto dele. E acabou por morrer sozinho." Palavras daquele que foi o "Deus" do futebol. Outra lenda eterna. 

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