Desde que as e-bikes começaram a ganhar protagonismo no mundo do BTT, em 2014, que os primeiros detratores surgiram. Quando aparece uma grande novidade aparece sempre um movimento contrário e já estamos habituados a isso. Lembramo-nos perfeitamente dos comentários de muitas pessoas que diziam que os travões de disco nunca iriam ser adotados em grande escala no BTT, ou que as suspensões hidráulicas eram uma aberração. Sempre existiram pessoas assim, alguns com argumentos perfeitamente aceitáveis, outros nem por isso. O crescimento do mercado das bicicletas elétricas não é bem aceite por todos, temos a noção disso, mas os comentários falsos à evolução deste setor deturpam a realidade, por isso escrevemos este artigo.
AS EBIKES SÃO MOTOCICLOS
Falso. As bicicletas de pedalada assistida, ou pedelec, são isso mesmo: bicicletas. Entre as bicicletas e os motociclos ou ciclomotores existe uma grande diferença: as bicicletas não têm acelerador, e para que o motor ajude, é necessário pedalar. Além disso, a função do motor é adicionar força à exercida pela nossa própria pedalada. Para além de as bicicletas elétricas não terem acelerador, para continuarem a ser consideradas bicicletas e não ciclomotores elétricos, a potência do motor não pode superar os 250W e a assistência à pedalada deve cessar aos 25 km/h.
COM UMA E-BIKE NÃO FAZES EXERCÍCIO
Falso. Existem inúmeros estudos comparativos entre o nível de esforço necessário numa bicicleta tradicional e numa e-bike. Segundo a nossa experiência, a intensidade do esforço é inferior numa e-bike (face a uma bicicleta convencional), pois existe um motor que nos auxilia, contudo isso depende de várias variantes e do nível de assistência que estiveres a utilizar. As e-bikes incentivam-nos a experimentar fazer subidas muito inclinadas, algo que com uma bicicleta tradicional seria impossível, e nessas situações tens de dar o máximo. Também comprovámos que é possível chegar a casa completamente desgastado depois de algumas horas nos trilhos, pois no fundo as e-bikes permitem percorrer uma distância maior e com mais altimetria com um nível de esforço similar.
NÃO SERVEM PARA LONGAS DISTÂNCIAS
Falso. Quando andares numa e-bike garantimos-te que vais adicionar uma nova variável às tuas voltas: a estratégia. Como é óbvio, a autonomia da bateria pode ser reduzida drasticamente em função do percurso que escolheres, por isso terás de saber dosear bem os modos de assistência em cada momento para te certificares de que chegas a casa. Com as baterias atuais de 600-700Wh, em voltas curtas de uma hora e meia podes divertir-te nos modos mais elevados, mas se pretendes superar os 50-60 km com muito desnível, terás de "dar ao pedal" no modo Eco, ou até rolar com o motor apagado algumas vezes. Afinal de contas, quem é que disse que numa e-bike não se faz exercício?!
NUMA E-BIKE O PESO NÃO IMPORTA
Falso. O peso não só se repercute na condução, mas também no consumo da bateria, ou seja, na autonomia. Quando pensares adquirir uma e-bike nova deves ponderar vários fatores e o peso deve ser um deles. Além disso, deves escolher a e-bike tendo em conta o tipo de utilização que lhe vais dar, pois - por exemplo - um modelo de Enduro, além de pesar mais tem pneus mais largos e mais aderentes e a sua geometria implicará mais peso no eixo traseiro. Já vimos casos em que duas bicicletas distintas, mas com as mesmas baterias a 100% (carga) tiveram comportamentos diferentes: após 40 km, a de Enduro, com um rider de 70 kg tinha somente 15 km de autonomia, enquanto a de Trail com um rider de 55 kg ainda tinha autonomia para mais 40 km.
AS E-BIKES SÃO LENTAS E DIFÍCEIS DE CONDUZIR
Falso. Embora quando surgiram no mercado esta afirmação fizesse sentido. No entanto, as geometrias evoluíram muito, não só nas e-bikes, mas também nas bicicletas normais. Quando começámos a testar as primeiras bicicletas elétricas, em 2013, no fundo eram bicicletas normais, com a junção de uma bateria e de um motor. Por isso o seu comportamento era estranho e os componentes não se adaptavam a uma utilização mais intensa. Atualmente as marcas já têm noção de que a correta repartição do peso é fundamental, que existem componentes que têm de ser mais robustos e que a geometria deve ser diferente (pois passamos mais tempo sentados e é necessário compensar o efeito de arranque do motor). Há marcas que ainda estão a aprender com os erros, mas já existem modelos mais fáceis de conduzir do que algumas bicicletas tradicionais e se és leitor da revista eBIKE, certamente já conheces algumas.