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Specialized Roubaix SL8: será que serve mesmo para tudo?

Estivemos no Alentejo onde tivemos a oportunidade de conhecer melhor a nova geração da Specialized Roubaix e tirar partido de todas as suas potencialidades num Granfondo.

HÉCTOR RUIZ. FOTOS: CABREIRASOLUTIONS

6 minutos

Specialized Roubaix SL8

Aproveitámos a primeira edição do Granfondo Serra d´Ossa para colocar à prova a nova geração SL8 da Roubaix, a bicicleta mais polivalente do catálogo de estrada da Specialized. 

Embora seja um evento aberto, um passeio de cicloturismo, em Portugal a maioria dos participantes refere-se a este tipo de eventos como "corrida". A partida foi feita em ritmo muito elevado, aliás a primeira hora foi feita a uma média de 43 km/h!. 

E quem pensa em velocidade e em alto desempenho geralmente pode pensar que a Tarmac é mais indicada do que a Roubaix. A marca tem feito ao longo dos anos melhorias substanciais com o objetivo de filtrar as vibrações provenientes do asfalto e convertê-la numa bicicleta confortável, o que pode ter dado uma ideia errada a alguns fãs da marca, que procuram uma bicicleta rápida e pensam que por ser confortável é lenta, ou que este modelo se destina a quem tem uma visão mais relaxada dos eventos e não pretende colocar um dorsal para começar a participar neste tipo de eventos com objetivos competitivos. 

No entanto, não nos podemos esquecer que as origens desta bicicleta foram as provas mais duras do mundo, aquelas em que as condições do pavimento e do clima obrigaram a procurar tecnologias que permitissem às rodas permanecer mais tempo pegadas ao solo e conseguir pedalar confortavelmente sem dor, de forma segura e mantendo o controlo total em todas as condições. Todos sabemos de onde vem o nome Roubaix e aquilo que significa no mundo da alta competição, sobressaindo nomes ilustres como Tom Boonen, Fabian Cancellara ou Peter Sagan que brilharam aos comandos destas bicicletas. 

DESEMPENHO ELEVADO, MAS COM CONFORTO

Já tínhamos estado na apresentação da Roubaix SL8 em Cascais no passado mês de Setembro e desde logo sobressaíram duas grandes tecnologias que são primordiais no comportamento desta bicicleta: o seu conhecido sistema Future Shock e o AfterShock.

No caso do Future Shock, entra agora na terceira geração e é bastante semelhante em termos de comportamento a uma suspensão, o que pode chocar ou confundir algumas pessoas, mas asseguramos que o seu funcionamento é irrepreensível, mesmo em competição. Este sistema também é usado na Diverge STR de gravel, embora tenha algumas diferenças. 

Tem 20 mm de curso vertical que ficam ativos quando recebemos impactos do chão, amortecendo a energia recebida. Isto na prática significa menos desgaste físico, menos formigueiro nas mãos quando rolamos num piso rugoso ou degradado e a longo prazo significa menos fadiga. Quem já sofreu dores nas mãos ou dedos a andar de bicicleta sabe quão impeditivas essas dores são, impedindo inclusive de travar ou clicar nos botões das mudanças. 

Esta nova versão estreia uma nova mola mais comprida do que a anterior, o que permite que se aproveitem melhor os 20 mm de curso, sendo também possível personalizar a dureza da mola graças a umas anilhas de pré-carga, consoante o nosso peso ou condições do terreno. 

Quanto ao AfterShock é um sistema de flexão do espigão de selim (movimento para trás) que também foi melhorado face ao anterior. Tem uma braçadeira de selim mais baixa que permite uma flexão controlada de até 20 mm que varia em função da altura do selim - quanto mais espigão de selim estiver fora, mais flete -. Ao somar estes dois sistemas, a bicicleta consegue filtrar mais 53% do que qualquer das bicicletas rivais, segundo dados recolhidos pela marca. 

A forma do tubo vertical, mais larga na extremidade superior, tem como propósito esconder dentro o sistema de aperto do espigão, embora mantenha uma silhueta mais aerodinâmica. Principalmente porque a Roubaix SL8 também foi alvo de uma revisão a este nível, apresentando um perfil em gota de água mais estilizado. 

O conforto adicional também deriva de outros aspetos como a geometria Endurance, não tão extrema como a de uma Tarmac, e os pneus (de série vem com modelos de 32 mm, mas podemos montar de 38 ou 40 mm). 

Tem roscas para podermos montar um terceiro porta-bidon debaixo do tubo principal e para guardalamas, caso queiramos partir à aventura. 

COMO FOI A NOSSA EXPERIÊNCIA NO ALENTEJO

No sábado tivemos a oportunidade de rolar com o staff da Specialized. Optei por uma configuração geral mais para o lado racing, para exprimir um pouco mais essa faceta da bicicleta. A bicicleta que me foi fornecida vinha equipada com um guiador Terra focado no Gravel (este guiador também é montado nas Crux, Diverge e STR nas versões S-Works e Pro) em vez do Hover sobreelevado que vem de série, algo que até agradeci pois permite adotar uma posição de condução mais baixa e parecida com a da minha bicicleta de estrada pessoal. 

Por isso, a primeira sensação que tive não foi de estranheza, pois já estava habituado à posição, sem mudanças demasiado dramáticas, embora a Roubaix tenha uma geometria de Endurance. As sensações a acelerar e sprintar são boas, rápidas e enérgicas. A primeira coisa que todos fazem quando pegam numa Roubaix SL8 é empurrar o guiador para baixo com força para comprimir o Future Shock e de facto afunda com facilidade, mais do que aquela que esperava. Ao comentar isto com o staff da Specialized, disseram-me que provavelmente precisava de levar a mola mais dura - há três durezas diferentes - ou adicionar argolas de compressão. Foi o que fizeram no dia seguinte e estava mortinho por experimentar...

Obviamente que ao ter dois sistemas de amortecimento na bicicleta, aproveitei todos os buracos e gretas no asfalto para experimentar as suas mais valias. É precisamente neste tipo de condições que retiramos mais prazer desta bicicleta, pois nota-se como tanto a direção como o espigão fazem o seu trabalho, permitindo-nos manter uma pedalada ágil e redonda, sem termos de parar de pedalar ou alterar a cadência.  Aliás, se numa bicicleta normal quando passamos por cima de asfalto gretado temos de pedalar em pé, nesta Roubaix SL8 isto não é necessário, poupando energia. 

Os pneus são provavelmente o componente que mais diferenças faz se compararmos com outras bicicletas. Os Mondo de 32 mm que são montados de origem, bem como as rodas Roval Terra C (com 25 mm de largura interna, uma medida que também encontramos em rodas de BTT mais conservadoras) são muito generosos, estáveis (em descidas em alta velocidade nota-se muito), fiáveis e aderentes. 

No domingo participámos no Granfondo e ao ir na roda de outro ciclista que tinha montados pneus tradicionais notámos a diferença. Além disso, passámos em várias zonas com pavé em várias freguesias alentejanas e sobressaiu o conforto com que passamos por cima, sem qualquer desgaste ou preocupação. E graças a esta absorção, podemos aumentar ainda mais o ritmo e pedalar nesses segmentos, enquanto quem vai com uma bicicleta tradicional geralmente tem de parar de pedalar devido à trepidação. Até dá pena quando acabam estes segmentos de pavé ou piso degradado, porque aí acabam as vantagens.

Como prometido, o staff da Specialized configurou o Future Shock ao meu gosto e é um sistema que não notamos que está lá, mas funciona quando é necessário. 

Nos primeiros quilómetros rolámos a uma velocidade muito elevada, com sprints logo no início devido a cruzamentos e rotundas (para não perder o grupo da frente) e notei uma ligeira compressáo quando apliquei toda a potência, aplicando força no guiador para impulsionar a roda dianteira. Mas rapidamente aprendi que ao antecipar essa situação, não há qualquer inconveniente. 

Depois de quatro horas e meia e 150 km percorridos, terminei o granfondo feliz e com uma ligeira dor de pernas por me ter esforçado acima das minhas possibilidades e com pequenos sinais de câibras - na partida a temperatura rondava os 28ºC e alcançou os 34ºC durante boa parte do trajeto -. Quanto ao resto do corpo, chegou à meta em condições muito melhores, pois sentia-me muito menos cansado do que o habitual deste tipo de eventos. 

A conclusão é que a Roubaix é completamente compatível com os ritmos elevados e para tudo o resto, basta eliminar da nossa cabeça o complexo de que é uma bicicleta "tranquila".

CHAMA-LHE GRANFONDO, ENDURANCE, ALLROAD… SERVE PARA TUDO!

O ciclismo mudou e provavelmente continuará a mudar, por isso a Roubaix faz agora muito mais sentido do que no passado, quando era associada principalmente a estradas e provas de pavé. 

Há várias formas de praticar ciclismo e a Roubaix encaixa-se em todas, inclusive em viagens de bikepacking ou ultradistâncias. Aliás, até pode ser usada em estradões de terra durante muitos quilómetros sem medo ou limitações. E neste caso a Roubaix SL8 elimina desde logo o medo de andar com rodas de carbono em pavimentos de terra.

Há quem só possa ter em casa uma bicicleta, por isso essa bicicleta deve ser capaz de fazer tudo ou quase tudo, dentro das nossas possibilidades. Esta Roubaix encaixa-se nesse perfil e inclusive permite-te procurar novos limites, mesmo que tenhas ambições competitivas, quer seja um sprint com os amigos, quer seja numa prova. 

Estamos a preparar um teste a longo prazo mais exaustivo, portanto fica atento ao nosso site. Entretanto, poderás encontrar mais detalhes em www.specialized.com.

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