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Já testámos a nova Santa Cruz Vala

A nova Santa Cruz Vala é uma e-bike de trail criada a partir do zero, utilizando o motor BOSCH CX de quinta geração e rompendo com o tradicional sistema VPP ao adotar um 4Bar. Mas no essencial, a filosofia e a estética da marca californiana continuam presentes.

Alexandre Silva. Fotos: Bicimax

7 minutos

Já testámos a nova Santa Cruz Vala

A Santa Cruz Vala é uma e-bike de trail completamente nova, com 160/150 mm de curso e rodas mullet, equipada com o motor BOSCH Performance Line CX de última geração e uma bateria integrada de 600 Wh. Esta pode ser complementada com a bateria externa PowerMore de 250 Wh para maior autonomia.

Como muitas das suas "irmãs", está disponível com quadros de carbono nos níveis C e CC, em duas cores, cinco tamanhos, e nas suas diferentes montagens apresenta pesos entre 21,5 e 22,5 kg. Além disso, existem uma série de aspetos técnicos como os dois flip chips independentes e muito mais. Descubre tudo já de seguida!

 

NOVA ESTRATÉGIA

Para desenhar a nova Vala, a Santa Cruz tinha alguns pressupostos em cima da mesa. Por um lado, queria manter a sua imagem de marca, fortemente marcada pelo sistema VPP, mas também pelas suas linhas rectas e decoração minimalista com o logo em destaque. Por outro lado, tinha as diretivas técnicas, se assim podemos chamar. O motor Bosch na sua quinta geração tem uma configuração diferente e mais compacta, mas mesmo assim é incompatível com o VPP devido ao número de tirantes e pontos de rotação do sistema.

 

Daí que a marca tenha usado esta oportunidade para criar um sistema 4-bar com rolamentos de grandes dimensões para maior fiabilidade e sensibilidade, e um link monopeça ultra rígido, originando um sistema com um funcionamento que pouco ou nada deve ao VPP e, ao mesmo tempo, permite atingir números bastante bons em termos de geometria e peso final do quadro.

 

Aliás, um dos trunfos que a marca apresenta é o facto de que todas as versões da Vala, seja com quadro de carbono nível C ou CC, estão sempre abaixo dos 23kg. 

COMO MANTER A PERSONALIDADE VPP?

O sistema VPP tem sido um porta-estandarte da marca durante anos, com um funcionamento exemplar em várias frentes. E sempre fez todo o sentido porque, além das capacidades de amortecimento, é dos mais eficazes em termos de aproveitamento das forças da pedalada. Ora com as elétricas o caso muda de figura. Já não precisamos de um sistema de amortecimento que maximize a nossa pedalada porque temos um motor com 600w de pico de potência com uma entrega tão forte que agora a preocupação é outra: evitar um excesso de afundamento (compressão do amortecedor) durante fortes acelerações.

 

E é aqui que este sistema 4-Bar, devidamente adaptado ao mundo elétrico, tem uma função importante. O Anti-squat foi algo tido em consideração para evitar que com a pedalada assistida o amortecedor afunde demasiado, fique pouco sensível ou perca tração. Como falaremos mais à frente, um dos flip chips permite ajustar a progressividade do amortecedor.

 

E por fim, também foi considerado o pedal kickback, o recuo do pedal provocado pela corrente quando a distância entre o eixo pedaleiro e o eixo da roda de trás aumenta devido à compressão do amortecedor. Aqui o objetivo foi manter a neutralidade e permitir um bom funcionamento do amortecedor sem interferências. 

CONFIGURAÇÃO MULLET

Já se sabe que o grande desafio de uma bike com mais de 20kg é ser, ou pelo menos parecer, ágil. Para conseguir isso, há que manter uma distância entre eixos relativamente curta, o que se consegue com escoras mais curtas, e com uma roda traseira mais pequena, que facilita as mudanças de direção. Portanto ao dotar a Vala de 150mm de curso atrás e roda 27.5 conseguimos agilidade e bom comportamento em uso Trail/Enduro, e na frente com 29’’ e 160mm de curso temos muita capacidade para devorar trilhos difíceis com toda a confiança.

E como a marca gosta de dar sempre a melhor experiência aos seus clientes, foi mais além com os típicos ajustes de geometria. A solução? Ter dois flip chips em vez de um, podendo assim alterar num deles a geometria e no outro o comportamento do amortecedor traseiro. No flip chip que se encontra no pivô da escora superior (onde liga com o link), ajustamos a altura ao solo do pedaleiro em +- 4mm e ainda o ângulo de direção em 0.3 graus (o que nos parece demasiado subtil para a maioria notar).

 

A mudança é fácil e rápida porque não é preciso retirá-los. Basta desapertar parcialmente, rodar e voltar a apertar. No outro flip chip, que se encontra no olhal inferior do amortecedor, controlamos a curva de progressividade do curso do amortecedor traseiro. Na posição “low” aumenta-se a sensibilidade, enquanto na “high” temos mais progressividade para atacar trilhos onde predominam impactos maiores.

QUADROS MAIS LEVES

Como já mencionámos, a configuração do Bosch e o menor tamanho da bateria permitiram construir um quadro com menos carbono, resultando em menos peso total. 

O sistema de amortecimento e o desenho do motor também permitem usar na Vala espigões telescópicos até um máximo de 210mm de curso (a partir do tam. L). Como é apanágio da marca, foi dada atenção ao melhor desempenho possível, e por isso, consoante o tamanho de quadro, as escoras também mudam de comprimento para ter sempre um comportamento otimizado. 

DIETA TAMBÉM NA MOTORIZAÇÃO

A poupança de peso estende-se também à unidade propulsora, especialmente a bateria. Tem 600Wh de capacidade, o que é suficiente para a maioria dos utilizadores e pesa menos 1kg que uma de 800Wh. Além disso, sendo mais pequena, permite que o quadro seja também um pouco mais baixo. Segundo testes da marca no terreno, um rider de 90kg, no modo EMTB, consegue percorrer cerca de 40km e 1036m de acumulado com uma carga.

 

Na apresentação, fizemos cerca de 30 km em Sintra com 900m de acumulado em cerca de 2h, usando acima de tudo o EMTB e experimentando o Turbo várias vezes, e acabámos ainda com cerca de 1/3 de bateria. Portanto temos “sumo” suficiente para umas boas horas de sobe e desce em trilhos exigentes.

TRILHOS E MODOS DE ASSISTÊNCIA

Esta apresentação desenrolou-se em Sintra, em trilhos bastante familiares, e por isso foi possível focarmo-nos maioritariamente na bike. A nova geração do Bosch está ainda mais pujante, tanto que tivemos algumas dificuldades em usar o modo Turbo em trilhos mais empinados, pois a potência era tanta que ficava difícil controlar a bike.

 

Lembro-me que quando testei a geração anterior deste motor era mais fácil controlar as acelerações em subidas técnicas. Então isso é um retrocesso? Não. Apenas ficou mais claro ainda que as subidas técnicas são para se fazer no modo EMTB, onde temos a potência ideal, sem descontrolos, mais que suficiente, e deixamos o Turbo, agora ainda mais potente, apenas para aquelas alturas em que queremos voltar rapidamente para o início da descida e estamos a rolar em estradões ou até em asfalto e queremos a potência máxima.

 

Portanto aqui na apresentação, o modo que usei mais foi o EMTB, porque é o que mais se adapta à maioria das condições. O Tour também é prático em bastante casos em que apenas queremos uma bicicleta que se mova bem e com um feeling mais natural, em que o motor praticamente serve para anular o peso da bike a ajudar a manter o ritmo. 

Quanto à Vala em si, é aquilo que esperamos de uma Santa Cruz. Ágil, confiante, capaz! A configuração mullet aplica-se que nem uma luva. Ajuda a disfarçar o peso da bike nos trilhos mais apertados e mais planos, onde a velocidade é menor. Aliás, consegue mudar de direção mais rápido que algumas bicicletas não elétricas ou light e-bikes com rodas 29’’ atrás. A geometria também contribui para isso, com um comprimento “virtual” de escora de 443mm em tamanho L. O ângulo de direção, que pode variar entre 64.2 e 63.9º, é mais que suficiente para uma bike de aspiração Trail-Enduro, garantindo uma estabilidade e confiança dignas de bikes com mais curso. 

 

Em termos de comportamento das suspensões, também estamos na presença do que de melhor se faz. Na frente a Fox dispensa apresentações e atrás o sistema 4-bar, na prática, e para a maioria, não fica a dever nada ao VPP. É certo que pode não ter aquela neutralidade quando pedalamos, mas numa elétrica já ninguém está preocupado se 100% da energia das nossas pernas é aproveitada quando na verdade a maior parte da propulsão vem do motor.

 

E nesse sentido, este 4-bar foi desenhando de modo a conseguir lidar com o binário gerado pelo poderoso Bosch. E em termos de sensibilidade e leitura do terreno, estamos na presença de uma pura Santa Cruz. O início de curso, especialmente, é de grande sensibilidade, mantendo a roda traseira sempre colada ao chão. Depois sente-se a progressividade a aumentar o que favorece curvas rápidas com apoio, evitando o afundamento excessivo do amortecedor e permite sair bem de uma curva mantendo uma trajetória linear e sem “molengar”. Nos trilhos em que andámos, os saltos e drops não eram grandes por isso nunca esgotei o curso traseiro e pude andar com o setting de origem, mas caso seja necessário pode-se não só aumentar a progressividade do amortecedor com o flip chip, mas também com tokens. 

 

Não podemos também deixar de falar dos poderosos travões Maven, uma escolha acertada para esta bike que ultrapassa os 21kg e por isso precisa de uma travagem acima de qualquer suspeita, com potência não só imediata como constante. 

 

Em suma, a Vala vem romper com a imagem de marca, mas não com a filosofia. É uma Santa Cruz autêntica, com uma pilotagem equilibrada, muito ágil graças ao setup mullet, capaz de rasgar trilhos agressivos com controlo e disfarçando bem o facto de ser uma e-bike. Já a subir não disfarça! É uma e-bike na verdadeira acepção da palavra. O poderoso Bosch empurra-nos pelas subidas com uma garra tremenda, nalgumas situações até demais. E por isso já não é preciso usar tantas vezes o Turbo porque o modo EMTB está igualmente natural e bem doseado, mas mais próximo que nunca daquele “feeling” turbo. 

 

GAMA E PREÇOS

O novo modelo da marca californiana está disponível nos tamanhos S, M, L, XL e XXL e com cinco montagens (kits) com os preços a começar nos 6.910 € chegando aos 11.810 €. 

Vala Kit R: 6.910 €

Quadro carbono C, suspensão RockShox Zeb Base, amortecedor FOX Float X Performance, transmissão SRAM NX Eagle, travões SRAM DB8 Stealth, rodas Reserve 30IHD. Peso 22,25 kg.

Vala Kit S: 7.790€

Quadro de carbono C, suspensão FOX 38 Float Performance, amortecedor FOX Float X Performance, transmissão SRAM GX Eagle, travões SRAM Maven Bronze Stealth, rodas RaceFace ARC 30 HD. Peso 22,24 kg.

Vala Kit GX AXS: 8.920€

Quadro de carbono C, suspensão FOX 38 Float Performance Elite, amortecedor FOX Float X Performance Elite, transmissão SRAM GX Eagle T-Type, travões SRAM Maven Bronze Stealth, rodas RaceFace ARC 30 HD. Peso 22,37 kg.

Vala Kit X0 AXS RSV10.500 €

Quadro de carbono CC, suspensão FOX 38 Factory Grip X2, amortecedor FOX Float X Factory, transmissão SRAM X0 Eagle AXS T-Type, travões SRAM Maven Silver Stealth, rodas Reserve 30IHD. Peso 21,53 kg.

Santa Cruz Vala Kit XX AXS RSV: 11.810€

Quadro de carbono CC, suspensão FOX 38 Factory Grip X2, amortecedor FOX Float X Factory, transmissão SRAM XX Eagle AXS, travões SRAM Maven Ultimate Stealth, rodas Reserve 30IHD. Peso 21,47 kg.

Lembramos que a Santa Cruz é distribuída em Portugal pela Bicimax. Poderás encontrar mais detalhes em bicimax.com.

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