A última etapa da Volta a Espanha 2022 homenageou duas lendas do ciclismo que têm um palmarés difícil de igualar: Alejandro Valverde e Vincenzo Nibali. Para além disso, esta prova teve o condão de comprovar que existe uma fornada de jovens talentos com reais capacidades de lutar pela vitória em grandes voltas: Remco Evenepoel, Juan Ayuso e Carlos Rodríguez.
O belga esteve ao mais alto nível e resistiu aos inúmeros ataques, dentro e fora de estrada. Foi chamado de arrogante, criticado nas redes sociais e muitos disseram que não tinha capacidade física para aguentar três semanas, mas a verdade é que, aos 22 anos, e vendo o seu palmarés, é fácil de comprovar que não é somente um talento, é uma certeza para o futuro. Este ano, ganhou na Liége-Bastogne-Liége, na Clássica de Sán Sebastián e na Volta a Espanha, o que, com esta idade, é verdadeiramente incrível.
Enric Mas, visivelmente mais magro e seco nesta edição da Volta a Espanha, parece ter eliminado todos os demónios que tinha na cabeça e apareceu mais forte que nunca, tanto física como psicologicamente. Foi segundo na classificação geral, apesar de, como confessou, ter sofrido muito todos os dias. Destacamos também outro jovem, neste caso Juan Ayuso (3º na classificação geral), que aos 19 anos, é mais um dos que comprovou que pode lutar pela vitória numa Grande Volta. Apesar de azarado, Carlos Rodríguez (7º na geral), foi outro dos ciclistas em foco nesta Vuelta e para os espanhóis é obviamente mais um ciclista a acompanhar nos próximos anos.
O abandono de Primoz Roglic devido a uma queda mudou por completo o cenário desta Volta a Espanha na última semana de prova. Roglic iria certamente atacar nas etapas mais duras desta semana, mas mais uma vez, um infortúnio deitou por terra as aspirações do esloveno. Pedersen e Carapaz também foram figuras em destaque, somando ambos cinco vitórias em etapa, bem como as camisolas da regularidade e da montanha.
Pedersen esteve perto de garantir mais uma vitória nesta última jornada, mas não conseguiu responder avidamente à mudança de ritmo de Juan Sebastián Molano, quando este tentava lançar Pascal Ackermann.
Quanto à geral, destacamos o quinto lugar final de João Almeida. É o seu segundo top5 e o terceiro top10 na carreira em grandes voltas. Muitas vezes criticado pelos próprios conterrâneos por falta de capacidade na alta montanha (sobretudo em mudanças de ritmo), João Almeida mostrou que é um ciclista combativo, que não desiste, trabalhador e com capacidade para evoluir. É verdade que tem algumas lacunas, como qualquer ciclista, mas com tempo e trabalho, certamente conseguirá progredir.
Ter um ciclista português a fazer um top5 numa prova deste nível é algo que deve ser celebrado e não criticado. Também Ivo Oliveira ajudou - e muito - a sua equipa a ganhar coletivamente, sendo um gregário de luxo para Ayuso e Almeida. O mesmo podemos dizer de Nelson Oliveira, que foi incançável, mesmo na alta montanha, onde teve de ajudar Enric Mas e Valverde.
Os três lusos em prova completaram as três semanas sem grandes incidentes e todos eles, em contextos diferentes, foram incansáveis no trabalho que desempenharam.
CLASSIFICAÇÃO GERAL:
1º: Remco Evenepoel (Quick Step Alpha Vinyl)
2º: Enric Mas (Movistar)
3º: Juan Ayuso (UAE Team Emirates)
4º: Miguel Angél López (Astana Qazaqstan Team)
5º: João Almeida (UAE Team Emirates)
37º: Nelson Oliveira (Movistar)
132º: Ivo Oliveira (UAE Team Emirates)
