Competição

Certezas e incógnitas da Volta a França 2024

A edição nº111 da Volta a França começa amanhã, sábado, e poderá ser uma das mais empolgantes dos últimos anos, com o duelo entre Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard.

FERNANDO BELDA E CARLOS PINTO. FOTOS: SPRINT CYCLING AGENCY

6 minutos

Certezas e incógnitas da Volta a França 2024

1. POGACAR PROCURA UMA DOBRADINHA INÉDITA NO SÉCULO XXI

Tanto Jonas Vingegaard (vencedor em 2022 e 2023) como Tadej Pogacar (vencedor em 2020 e 2021) pretendem a terceira vitória na prova francesa. Além disso, o esloveno da UAE tem outro objetivo: fazer a dobradinha (Giro-Tour) e se conseguir será um feito inédito no século XXI. Somente sete ciclistas conseguiram concretizar este sonho: Fausto Coppi (1949 e 1952), Jacques Anquetil (1964), Eddy Merckx (1970, 1972 e 1974), Bernard Hinault (1982 e 1985), Stephen Roche (1987), Miguel Induráin (1992 e 1993) e Marco Pantani (1998). Ou seja, a última vez ocorreu há 26 anos! Será que o esloveno conseguirá concretizar este sonho? Depois de ter dominado a Volta a Itália e de já somar 14 vitórias esta temporada, tudo pode acontecer. 

2. A GRANDE INCÓGNITA: JONAS VINGEGAARD 

Jonas Vingegaard é a grande incógnita deste Tour. O ciclista da Visma-Lease a Bike não compete desde o dia 4 de abril devido a uma queda com consequências graves na Itzulia e tem estado a recuperar e a treinar arduamente. No entanto, como confessou o seu próprio diretor desportivo Merijn Zeeman, "a realidade é que não sabemos qual será o nível de Vingegaard no Tour". O líder da Visma está obviamente sem ritmo de competição, mas se aguentar com os melhores nos primeiros dias, o seu talento e qualidade podem conduzi-lo ao terceiro título. Muitos acreditam que Pogacar vai atacar logo nas primeiras subidas para se tentar distanciar do dinamarquês, portanto Vingegaard não terá vida fácil. "O Tour vai terminar em três ou quatro dias. O Pogacar vai partir a corrida logo desde o início e eliminar o Vingegaard da equação", disse recentemente Marc Maidrot, diretor geral da Groupama-FDJ. 

3. 5 PRINCIPAIS FAVORITOS

Tadej Pogacar e Jonas Vingegaard lideram quase todas apostas, mas não são os únicos. Primoz Roglic, lider da Red Bull-BORA-hansgrohe, é o terceiro grande favorito, mas também convém ter em conta na luta pelo pódio final Remco Evenepoel (Soudal-Quick Step), vencedor da Volta a Espanha 2022, que se estreia neste Tour. O espanhol Carlos Rodríguez, quinto em 2023 e vencedor esta temporada da Volta à Romandia, é o chefe de fila da INEOS-Grenadiers. É considerado um outsider, mas será que consegue surpreender tudo e todos?

Quanto à luta pelo top 5 ou top 10, temos sempre de contar com as segundas linhas das equipas mais fortes (João Almeida, Adam Yates e Juan Ayuso da UAE Emirates; Matteo Jorgenson da Visma-Lease a Bike; Aleksandr Vlasov e Jai Hindley da Red Bull-Bora-hansgrohe; Egan Bernal e Tom Pidcock da Ineos-Grenadiers e Mikel Landa da Soudal-Quick Step), mas também com Simon Yates (Jayco AIUIa), Richard Carapaz (EF Education-EasyPost), Felix Gall (Decathlon AG2R La Mondiale), Enric Mas (Movistar Team), Santiago Buitrago e Pello Bilbao (Bahrain Victorious) ou David Gaudu (Groupama FDJ). 

4. JOGOS OLÍMPICOS CONDICIONAM AS DATAS

A disputa este Verão dos Jogos Olímpicos de Paris (de 26 de Julho a 11 de Agosto) condicionaram as datas e a própria etapa de consagração da Volta a França. O Tour começa e acaba uma semana antes do habitual - decorrerá de 29 de junho a 21 de julho - para não coincidir com a prova olímpica. Além disso, devido a imperativos logísticos e de segurança, a prova não vai terminar em Paris pela primeira vez na história. O final este ano será em Nice com um contrarrelógio de 33,7 km que começa no Mónaco. 

5. UM INÍCIO EXIGENTE

A Volta a França 2024 terá 3.492 km e 52.230 metros de desnível, com 8 etapas planas, 7 de montanha, 4 de média montanha e dois contrarrelógios (que somam 59 km). O início será em Itália, com etapas exigentes. A etapa inicial entre Florença e Rimini terá 3.600 metros de desnível acumulado e sete subidas e 2ª e 3ª categoria que podem deixar em evidência as debilidades de alguns favoritos. No dia seguinte, o pelotão vai enfrentar mais seis subidas de 3ª e 4ª categoria, com dupla ascensão (na parte final) à explosiva rampa de San Luca (1,9 km a 10,6%). E para rematar o duro início do Tour, na 4ª etapa - em que os ciclistas vão transitar de Itália para França - vão apanhar um colosso de extrema dificuldade: o Galibier, uma subida com 23 km a 5,1% de inclinação média que chega aos 2.642 metros de altitude, e ainda terão de percorrer mais 18 km até à meta que estará localizada em Valloire. 

6. CAVENDISH SONHA ALCANÇAR A 35ª VITÓRIA

Mark Cavendish confessou na entrevista que deu à revista CICLISMO A FUNDO que pretende chegar à 35ª vitória no Tour, batendo assim um recorde histórico. O britânico da Astana tentou bater esse recorde o ano passado, mas uma queda na 8ª etapa fez com que tivesse de regressar a casa com a clavícula partida. Cavendish chegou a pensar abandonar a modalidade, mas uma chamada de Vinokourov e a motivação dada pelos seus filhos fizeram com que aceitasse correr mais um ano. O objetivo é um só: bater Eddy Merckx e tornar-se o primeiro ciclista a ter no seu palmarés 35 vitórias no Tour. Embora seja um veterano - compete há 18 temporadas e soma 164 vitórias - a sua experiência e a preciosa ajuda de Davide Ballerini, Cees Bol e Michael Mørkøv podem ser os únicos requisitos que precisa para concretizar um sonho de vida. 

7. ESTREANTES

Para 45 dos 176 participantes, será a sua estreia na Volta a França. E alguns têm objetivos ambiciosos, como é o caso de Remco Evenepoel, que afirmou que pretende ficar nos cinco primeiros e ganhar uma etapa, mas também de Juan Ayuso (que foi 3º e 4º nas últimas duas edições da Volta a Espanha), João Almeida, Derek Gee, Lenny Martínez, Arnaud de Lie, Ben Healy, Oier Lazkano, Santiago Buitrago, Stephen Williams, ou do sprinter da Israel.Premier Tech Pascal Ackermann, que aos 30 anos e após ganhar três etapas no Giro e duas na Vuelta espera conseguir ganhar no Tour. 

8. BATALHA DE SPRINTERS

O número de ciclistas que têm qualidades para lutar pelo top 10 é impressionante, mas se olharmos para o número de sprinters com capacidade de lutar pela vitória na camisola verde (pontos), não fica nada atrás. Os últimos quatro vencedores desta camisola estarão na prova - Jasper Philipsen (2023), Wout van Aert (2022), Mark Cavendish (2021) e Sam Bennett (2020), bem como outros com capacidade para lutar de igual para igual como Mads Pedersen, Dylan Groenewegen, Fabio Jakobsen, Arnaud Démare, Gerben Thijssen, Pascal AckermannFernando Gaviria, Phil Bauhaus, Bryan Coquard, Marijn van den Berg...  Cada chegada em bloco será uma espetacular batalha de sprinters. 

9. TRÊS PORTUGUESES EM PROVA

Não é a primeira vez que Portugal tem três portugueses na Volta a França, mas dos três presentes nesta edição, um vai estrear-se e ainda por cima tem possibilidade de ficar no top 10:João Almeida. O ciclista da UAE Emirates terá o papel de trabalhar para o super favorito Tadej Pogacar, mas tendo em conta o facto de se defender bem na montanha bem como no contrarrelógio, poderemos voltar a ter um resultado histórico de um português numa Grande Volta. Quanto a Rui Costa, é um veterano nestas andanças. É dos ciclistas mais temidos nas fugas e será precisamente com esse intuito que vai para a Volta a França. Nelson Oliveira soma 19 Grandes Voltas no seu palmarés e é dos mais fiáveis e consistentes ciclistas do WorldTour. É um trabalhador incansável e no contrarrelógio garantidamente ficará num lugar honroso, mesmo perante outros especialistas de renome. Pouco se fala do ciclista natural de Anadia, mas dentro da Movistar é o "indiscutível" quando se fala em grandes voltas, mais ainda do que o seu chefe de fila Enric Mas. 

10. EGAN BERNAL: DE NOVO NA RIBALTA?

Vencedor do Tour em 2019 e do Giro em 2021, o colombiano Egan Bernal está a demonstrar esta temporada que após o seu grave acidente em 2022 (onde esteve em estado grave) está a voltar ao seu melhor nível. Os resultados na Volta à Colômbia (foi 5º), no Gran Camiño (3º), Paris-Nice (7º), Volta à Catalunha (3º), Volta à Romandia (10º) e Volta à Suíça (4º) confirmam que Bernal está a regressar ao topo do ciclismo mundial. E é precisamente na prova que o catapultou para o topo que pretende demonstrar, mais uma vez, as suas qualidades. Bernal será o segundo chefe de fila na Ineos-Grenadiers, logo atrás de Carlos Rodríguez, e muitos consideram que tem capacidade para lutar por um lugar nos dez primeiros. 

"Estou muito melhor do que no ano passado. Consegui preparar-me melhor para o Tour e venho com ambições", disse o ciclista de 27 anos. "A classificação geral é uma possibilidade. Quero pelo menos tentar". Para Bernal, esta será, acima de tudo, uma luta contra si mesmo, ou seja, terá de demonstrar a si próprio que consegue voltar a lutar contra a dor, sonhar alto e competir de igual para igual contra os melhores do mundo. "Os meus dados (ndr do potenciómetro) agora são melhores do que antes do acidente", afirma o colombiano. "Em 2020, quando vim para tentar ganhar novamente e não consegui terminar a corrida, todos caíram em cima de mim. Agora sei que a vida não é só ciclismo". 

 

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