A etapa de sábado da Volta a França, com mais de 200 km e cinco subidas de terceira categoria foi criticada por várias personalidades ligadas ao mundo do ciclismo. Há quem ache que esta quilometragem é excessiva e há também quem duvide que o futuro do Tour tenha sucesso se os organizadores continuarem a apostar neste modelo que intercala etapas montanhosas com jornadas mais planas e geralmente decididas ao sprint.
No entanto, se analisarmos o passado, podemos ver que o Tour sempre teve jornadas com distâncias ridículas e decisões controversas, Em 1920, os responsáveis pelo desenho do percurso escolheram uma etapa de 482 km entre Les Sables d´Olonne e Bayone.
Para além da quilometragem medonha, os ciclistas depararam-se com estradas em muito mau estado devido à Primeira Grande Guerra Mundial. Lembramos que nessa altura não existiam mudanças automáticas, pneus tubeless com selante, rodas em carbono, travões hidráulicos nem sequer geis com isotónicos nos abastecimentos. Nessa altura os ciclistas só podiam fazer uma coisa: cerrar os dentes, aguentar a dor e pedalar durante vinte horas. Se tivessem forme a única solução era parar nas tabernas. E se furassem teriam de ser eles próprios a tratar do problema (lembramos que nessa altura as bicicletas tinham quadros em aço e em média as bicicletas de tamanho médio pesavam mais de 15 kg).
Os poucos que conseguiram cruzar a meta nessa jornada épica nem sequer tiveram tempo para celebrar. No dia seguinte tinham mais uma etapa, desta vez mais "curta". Uns míseros 300 km!
O ciclismo era diferente. O conceito era mais de aventura do que de estratégia. Mas o objetivo era o mesmo de hoje: levar os ciclistas ao limite das suas capacidades.