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Entrevistámos Leangel Linarez, o novo Campeão Pan-Americano de Ciclismo

Leangel Linarez, ciclista da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua,  já é um nome conhecido no ciclismo português e tem um palmarés que fala por si. Em Maio, no dia 26, o nome do venezuelano soou por toda a América, quando Leangel carimbou a vitória nos Campeonatos Pan-Americanos de Ciclismo de Estrada. 

Juliana Reis. Fotos: Juliana Reis/João Fonseca (Tavfer-Ovos Matinados - Mortágua) / Matias Novo (Podium Events) / Claudio Vieira (PMSJC)

Entrevistámos Leangel Linarez, o novo Campeão Pan Americano de Ciclismo
Entrevistámos Leangel Linarez, o novo Campeão Pan Americano de Ciclismo

O ciclista venuzuelano Leangel Linarez corre em Portugal desde 2020 pela estrutura de Mortágua, atualmente designada por Tavfer - Ovos Matinados - Mortágua. O sprinter de 26 anos, nascido em Barinas, Venezuela, veio para Portugal por influência de Pedro Silva, na altura Presidente do Velo Clube do Centro. A história de Leangel começou no seu país de origem, passando por Espanha e agora Portugal, mas foi no Brasil que Leangel ouviu o seu hino e conquistou uma das vitórias mais prestigiadas do continente americano, o título de Campeão Pan-Americano.

QUEM É LEANGEL LINAREZ?

A família de Leangel Linarez desempenhou um papel importante na sua decisão de se dedicar ao ciclismo. O seu pai era um trabalhador agrícola e Linarez cresceu numa zona rural de Barinas, na Venezuela. Inspirou-se no ciclismo depois de ver o seu primo andar de bicicleta e decidiu juntar-se a uma escola de ciclismo local para aprender a andar. Com 15 anos ganhou o Campeonato Nacional de Estrada de Juniores, o que solidificou ainda mais a sua paixão pelo desporto.

Linarez começou a sua carreira amadora de ciclista no seu país natal, passando por várias equipas locais. Posteriormente deu o salto para a Europa onde correu durante 3 anos no circuito espanhol, e em 2019 já se demarcava dos demais graças ao terceiro lugar no ranking individual de vitórias e quinto lugar no ranking relativo aos atletas sub-23 de Espanha. No entanto, os resultados obtidos não demonstravam a realidade que vivia fora do ciclismo.

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Como foi a experiência de ser ciclista amador em Espanha?

Os anos em Espanha foram muito complicados para mim. Primeiro, porque era um menino muito novo, recém saído de casa dos pais, aos 18 anos. Não estava acostumado a estar tão longe da minha família. Nesta altura a Venezuela estava a passar por uma grande crise política e económica, e a minha família não me podia ajudar. A equipa com que estava na altura só me dava alojamento e alimentação durante a época. No meu segundo ano, não consegui voltar à Venezuela depois da temporada, portanto trabalhava como Uber Eats de bicicleta, durante o inverno, à chuva e ao frio, para pagar alojamento e a minha alimentação. Ffoi muito complicado e duro. Assim que a temporada começou foquei-me novamente no ciclismo a cem por cento e ganhei a minha primeira corrida, o Campeonato de Madrid, a primeira corrida da época.


Em 2019, o ciclista venezuelano já somava seis vitórias em Espanha. Depois de uma época de grande nível na equipa Kuota- Construcciones Paulino, veio estagiar para a equipa portuguesa Miranda-Mortágua, e em 2020 assinou contrato como ciclista profissional da estrutura de Mortágua, onde permanece desde então.


Como começou a sua carreira como ciclista profissional?

Tive ótimos resultados quando corria em Espanha e o meu empresário, Marcelino Pacheco, tinha contacto com o Pedro Silva (Presidente do Velo Clube do Centro). Uma coisa levou a outra e fui convidado a realizar o final da temporada de 2019 como estagiário na estrutura, onde fui à Volta a Portugal do Futuro e à Volta a Portugal. Depois deste teste a equipa decidiu assinar contrato comigo no ano seguinte, e começaram a aparecer os resultados. A confiança que tive do Pedro Silva fez-me continuar a perseguir o sonho de ser ciclista profissional, e desde então estou na equipa. A confiança e as oportunidades que a equipa me dão são muito importantes... 2023 foi um ano incrível, tanto a nível pessoal como profissional, e sinto-me muito agradecido à equipa.


Leangel Linarez tornou-se profissional em 2020, tendo participado nesse mesmo ano na Volta a Portugal, ficando perto de vencer em três etapas (terminou em 2º e em 3º lugar). Conquistou a sua primeira vitória UCI em 2022, vencendo a 3ª etapa da Volta ao Alentejo. Em 2023, Linarez teve uma temporada de sonho, vencendo duas etapas na prestigiada Volta a Portugal, onde também envergou a camisola amarela. Em 2024 destacou-se na Volta ao Alentejo onde interrompeu o reinado da equipa Pro-Tour Caja Rural - Seguros RGA, que venceu 4 das 5 etapas da prova. Leangel Linarez conseguiu assim a sua primeira vitória nesta temporada na 2ª etapa, mais precisamente na chegada a Grândola.

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CAMPEONATOS PAN-AMERICANOS DE CICLISMO

O Campeonato Pan-americano de Ciclismo é um troféu continental que reúne os países membros da Confederação Pan-americana de Ciclismo. A primeira edição foi realizada em Cali, em 1974, e, até 2004, o evento ocorria geralmente a cada dois anos, posteriormente a competição passou a ser realizada anualmente. No passado dia 26 de Maio, Leangel Linarez venceu a prova de estrada deste importante campeonato que se realizou em São José dos Campos, no Brasil, onde corria em representação da Seleção da Venezuela. A prova contou a presença de 26 nações, a prova de ciclismo de estrada contou com uma jornada de 206,4 km, disputada sob chuva e a uma velocidade média de 48,03 km/h. Linarez arrancou pouco antes da meta, e antecipou-se ao sprint em pelotão, cruzando a meta isolado após 4h17min48s de prova.

Qual foi a sensação de representar a Seleção da Venezuela?

É sempre um orgulho correr com as cores do meu país, e o meu objetivo é sempre dar o melhor de mim e conseguir os melhores resultados para a minha seleção.

Quais eram as expectativas para a prova?

O Campeonato Pan-Americano 2022 foi a primeira prova que disputei pela seleção da Venezuela como elite, e só por si foi especial. Nesta prova deparei-me com a qualidade e a dureza da corrida, mas estava confiante que poderia ganhar a corrida deste ano. Assim que fui convocado para a corrida deste ano e vi o percurso, coloquei na minha cabeça que poderia ganhar. Foquei-me a cem por cento para estes Campeonatos Pan-Americanos, com a minha seleção e também com a minha equipa Tavfer - Ovos Matinados - Mortágua.

Qual foi a sensação de vencer os Campeonatos Pan-Americanos de Ciclismo de Estrada?

Foi especial, principalmente porque agora, desde o ano passado, o vencedor pode usar o Jersey de Campeão Pan-Americano, ou seja, o melhor corredor Americano. É muito importante para a minha carreira desportiva, e é algo que sonhei... e agora conseguir concretizá-lo é espetacular. Ganhar esta prova foi inacreditável, ouvir o meu hino nesta competição foi uma sensação inesquecível.

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PRÓXIMO OBJETIVO: VOLTA A PORTUGAL

Quais são os objetivos para o futuro?

Focar-me no resto da temporada. Tenho muita vontade de correr com este Jersey de Campeão Pan-Americano. Estando a correr em Portugal o grande objetivo é chegar bem à Volta a Portugal, vamos esperar por mais informações do percurso, mas o ideal seria sempre discutir a vitória nas etapas com chegada ao sprint. Estou muito motivado! Em relação ao futuro a longo prazo o meu objetivo seria dar o salto para outro patamar.

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