Estivemos na apresentação oficial da segunda geração da Merida Silex, o modelo de gravel de um dos maiores fabricantes de bicicletas do mundo. Esta bicicleta venceu o segundo mundial de gravel realizado até hoje, um marco que ficará na história da empresa. Aliás, a vitória do esloveno Matej Mohoric aconteceu algumas horas antes da apresentação oficial da bicicleta e se tivermos em conta que o percurso da prova era muito exigente e que a competição decorreu aproximadamente durante cinco horas, podemos desde já perceber que esta bicicleta é especial.
Embora quase não fosse percetível na bicicleta de Mohoric o nome Silex - a Merida pintou este modelo com cores diferentes - um punhado de jornalistas, incluindo nós, já sabia que esta era a nova versão da conhecida bicicleta de gravel da Merida. As formas do quadro são obviamente diferentes da primeira geração e vamos explicar mais detalhadamente as alterações feitas.
Em Portugal, a gama Silex será composta por quatro modelos, um deles com quadro de alumínio e três com quadro de carbono. A Silex de Mohoric, obviamente, estava equipada com quadro de carbono, mas com uma montagem diferente de qualquer das versões que serão vendidas no mercado.
O QUADRO, O ÚNICO PONTO EM COMUM
A bicicleta de um corredor profissional pertencente a uma equipa World Tour está equipada com componentes correspondentes aos compromissos feitos pela equipa, nesta caso a Bahrain Victorious. Por esse motivo, a bicicleta de Mohoric não tem a montagem de série.
O quadro que o esloveno usou no Campeonato do Mundo é a única exceção, ou seja, é o mesmo que é comercializado. Trata-se de um Silex CF2 II, o mais evoluído da marca, e que permite a montagem de pneus de 45 mm. Este Silex tem o standard atual em termos de eixos passantes (100x12 e 142x12), além de adotar um eixo pedaleiro clássico de rosca do tipo BSA, o mais utilizado na atualidade e um dos mais compatíveis no mundo em termos de pedaleiros e cranques. Além disso, o quadro é fabricado nos tamanhos XS, S, M, L e XL.
Este novo quadro de carbono tem toda a cablagem interna, algo que salta à vista sobretudo quando olhamos para a bicicleta de frente, facilitando a colocação do dorsal de forma aerodinâmica à volta da testa da direção. Esta forma de colocar o dorsal converteu-se na norma nos corredores de elite nas provas de gravel.
MOHORIC OPTOU POR UM TAMANHO PEQUENO
Mohoric preferiu competir com um quadro em tamanho S, algo que surpreendeu alguns, dado que o esloveno mede 1,85m. No entanto, esta é uma decisão normal entre os ciclistas profissionais - ou seja, optar por quadros mais pequenos do que aqueles que deveriam usar consoante a sua altura e medidas antropométricas -.
O motivo tem a ver com fatores como a reatividade/agilidade, a rigidez e a leveza, aspetos que os ciclistas de topo consideram prioritários. Estas qualidades caracterizam os quadros mais pequenos, dado que são mais compactos e os pontos de união dos tubos estão mais perto uns dos outros. Além disso, a Merida tem uma particularidade: os seus tamanhos são um pouco maiores do que os das restantes marcas. De qualquer modo, a decisão de Matej foi um pouco radical.
Para adaptar as (reduzidas) dimensões do quadro em tamanho S ao ciclista da Bahrain Victorious, a marca montou um avanço FSA (marca que patrocina a equipa) K-Force Light de 130 mm de comprimento, com 6 graus de inclinação negativa. Mohoric é um ciclista com experiência e já competiu na Taça do Mundo de BTT, portanto técnica não lhe falta, logo esta geometria agressiva não é algo que deixe o esloveno desconfortável.
TRANSMISSÃO DE ESTRADA
A bicicleta do Campeão do Mundo de Gravel está equipada com uma transmissão Shimano Dura Ace R9200 de 12 velocidades. Embora a marca nipónica tenha à disposição dos atletas transmissões específicas de gravel - Shimano GRX -, Mohoric optou por um grupo mais leve como o Dura Ace, mas com algumas adaptações.
Mohoric optou pela versão Compact, ou seja, com prato duplo 50x34 dentes e cassete 11-30. Esta desmultiplicação não é a mais aconselhável ao comum dos mortais numa bicicleta de gravel, sobretudo quando existem subidas de relevo nos trilhos, mas Mohoric é um atleta de alta competição e mesmo tendo apanhado algumas subidas duras ao longo dos 160 km da prova, tem experiência e sobretudo potência.
Devido a compromissos contratuais, o esloveno também teve de usar rodas da marca Vision, neste caso as Metron SL de 45 mm de perfil. São leves (pesam 1.390g), têm uma largura interna de 21 mm e são compatíveis com tubeless, algo essencial em rodas de gravel.
Os pneus escolhidos foram o modelo TerraSpeed da Continental. Estes pneus têm tacos de nível intermédio, ou seja, não são muito agressivos nem demasiado rolantes e neste caso foram montados na medida de 40 mm, a mais usada em competição, sobretudo em provas difíceis.
O selim escolhido foi o Scratch M5 PAS da Prologo. Trata-se de um selim bastante polivalente com uma ampla superfície de apoio, com canal central antiprostático e com uma base bastante sólida. Não é dos modelos mais leves da marca italiana, mas é extremamente confortável.
Voltando às diferenças entre a Silex campeã do mundo e a que é comercializada de série, salientamos a essência, dado que ambas partilham o mesmo quadro. Portanto, qualquer um de nós poderá adquirir uma Silex e, fazendo algumas modificações, conseguir uma bicicleta igual ou parecida à de Mohoric, dado que os componentes que estão montados na bicicleta do esloveno estão disponíveis no mercado. Quanto à parte da escolha geométrica escolhida por Mohoric, para um ciclista amador não faz grande sentido.
Em suma, atualmente podemos comprar bicicletas quase iguais às usadas pelos melhores atletas do mundo, com as tecnologias mais inovadoras, algo que dificilmente acontece noutro meio, como no setor automóvel ou no motociclismo.
Vamos publicar um artigo específico sobre a nova Silex, portanto fica atento ao nosso site.