Nos Campeonatos do Mundo de Les Gets (França), a prova mais aguardada de XCO, na categoria elite masculina, foi tudo menos monótona. O britânico Thomas Pidcock, campeão da Europa, e o suíço Nino Schurter (com nove títulos mundiais no seu palmarés), eram os favoritos, mas a verdade é que no meio deste enredo outro atleta, o espanhol David Valero, intrometeu-se na luta pela vitória.
O ambiente nos bastidores da prova não era o melhor após as declarações de Pidcock, que acusou os atletas profissionais de BTT de não treinarem o suficiente. Estes comentários não foram bem recebidos nem pelos atletas que competem regularmente na Taça do Mundo, nem sequer pelos preparadores físicos e staff das equipas. Em todo o caso, não houve reações extremadas de nenhum atleta.
Quanto à corrida, foi feita sempre num ritmo muito alto na dianteira, tendo Nino Schurter somado o seu décimo título mundial, após um "mano a mano" com o espanhol David Valero, que quebrou na parte final. Thomas Pidcock cometeu alguns erros durante a prova e também quebrou fisicamente.
Este resultado de Valero está em linha com o terceiro posto obtido nos Europeus de Glasgow em 2018 e nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Schurter esteve ao mais alto nível, gerindo a prova com mestria e apertando o ritmo quando era necessário. O neozelandês Sam Gaze chegou a comandar a prova, mas teve de desistir após uma queda num salto. Pidcock teve um dia azarado e foi subindo lugares, acabando por entrar num quarteto composto por Valero, Schurter e pelo italiano Luca Braidot. No entanto, quando o espanhol ou o helvético aumentavam o ritmo, Pidcock perdia terreno.
Na penúltima volta, o campeão suíço atacou e somente o espanhol teve pernas para reagir. Braidot perdeu algum terreno e Pidcock lutava numa zona técnica para tentar passar uma árvore numa zona com raízes. Pouco depois teve de ir à zona técnica mudar de roda, perdendo as aspirações de lutar por um lugar no pódio. Valero e Schurter entraram na última volta com sete segundos de vantagem sobre Braidot, por isso a vitória foi decidida entre ambos. Os ataques sucederam-se e na zona técnica final, o suíço adquiriu a vantagem necessária para chegar à meta sozinho.
Treze anos depois de ganhar o seu primeiro título mundial indvidual em Camberra, Schurter levantou os braços como campeão pela décima vez, com uma vantagem de nove segundos sobre David Valero. Parece que após Jose Antonio Hermida, Espanha tem novamente um atleta com estofo para discutir o título mundial. Braidot ficou com a medalha de bronze.
Na prova elite feminina, Pauline Ferrand Prevot foi a mais forte completando o percurso em 1h22m08. A francesa soma assim mais um título mundial ao seu palmarés, apesar de a prova ter tido bastantes movimentações. No início, um trio composto unicamente por atletas francesas liderou a corrida, mas após um ataque de Prevot, deixou de existir um grupo compacto.
A partir dessa fase, a liderança da francesa ganhou terreno e atrás assistia-se a uma luta pelos restantes lugares do pódio. Jolanda Neff, Loana Lecomte, Emily Batten e Alessandra Keller iam-se esforçando, tentanto minimizar os estragos.
As quedas e os problemas mecânicos foram eliminando algumas atletas da equação até que um momento marcou o dia: a suíça Sina Frei ajudou a belga Githa Michiels após esta sofrer um problema mecânico na sua bicicleta. Uma prova de que, embora estejam num Campeonato do Mundo, o companheirismo e o altruísmo não precisam de estar totalmente dissociados da palavra competitividade.
A certa altura, enquanto Prevot liderava confortavelmente, a luta entre o segundo lugar concentrava as atenções. Jolanda Neff foi a mais forte das perseguidoras, atacando no final. Prevot ganhou a prova, com 1m35 de vantagem sobre Jolanda Neff e 2m13 sobre Haley Batten.